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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Perspectiva

O senhorzinho foi chegando devagarinho, devagarinho. Chegava perto do ônibus com um fardo imenso nas costas. Na rodoviária, muitas pessoas passavam por ele. Algumas carregando apenas bolsas à tiracolo, outras malas. Mas voltemos ao nosso senhorzinho. Ele chegou perto do ônibus, e querendo entrar o motorista disse que ele só poderia embarcar e seguir viagem se seu fardo coubesse no bagageiro. O senhor tentou, e tentou, e tentou de novo. O fardo não cabia. Abriu, tentou tirar algumas coisas de dentro, mas não diminuía. A impressão que dava, é que até aumentava. O senhorzinho se desesperou, chorou, esperneou e acabou sozinho na plataforma. Ele e seu fardo.
Dentro dele, havia sonhos que não foram sonhados, risadas não ridas, palavras não ditas, atos que não foram praticados. Um passeio que ele não fez. Uma boca que ele não beijou. Um amigo que ele não perdoou. Uma confissão que ele não fez. Uma música que ele não dançou. Dentro dele antes havia uma alma colorida, feliz, risonha, sonhadora, mas que fora sufocada e perdera a cor. Monocromática agora ela pesa, incha o fardo e acompanha o senhorzinho mesmo que ele não queira.
Uma borboleta voa como arco-íris na plataforma, e ele não percebe. E você, a vê ?

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Laço de fita

Mário Quintana, certa vez, me deu de presente a palavra "ventania", e fazendo uso dela a comparo com a liberdade.
Essa, usando velho clichê, me parece com um pássaro; que voa para onde quiser, para onde o vento soprar melhor.
Certas vezes vêm, ventania e liberdade, para chacoalhar o mormaço entediante. Outras vezes vêm aos poucos, como brisa, para mudanças pequenas, para alçar voo... E conquistar novos céus.
Ventania e liberdade, na maioria das vezes, vêm de supetão e leva o que não serve, o que é supérfluo. Pode até incomodar, no começo; mas é de grande valor, quando passa.
Se Mário soubesse, ao me oferecer as palavras, como me seriam úteis, as teria embrulhado para presente, com fita e tudo. Se bem que essa voaria, liberta, na primeira ventania.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Fuga

Qual será a fórmula secreta? Não a da felicidade, não a do amor, não a da vida. Mas a do equilíbrio.
Qual será a fórmula para que nós, seres imperfeitos, consigamos atingir um equilíbrio entre corpo e alma, entre realidade e sonho, verdade e mentira?
Entre todos os paradoxos enfrentados diariamente, me pego pensando nas fugas. E quantas pessoas ao tentarem fugir, se perderam.
Que fuga é essa, que consume o corpo e a mente? Que fuga é essa que em um minuto te inibe e no outro destrói? Que fuga é essa que te leva fundo em um poço onde seus companheiros são somente você e seu vício?
Há no poço uma consciência? Há no poço uma mão amiga que te ampara, te acompanha, te ergue?
Será a realidade tão pior assim, para que em fuga se negue a vida? 
Se quer um conselho, quando o tédio, a insegurança ou o medo da realidade pousar sobre seus ombros, abra a janela. Escute uma música. Converse com um amigo. Leia um livro. Afaste da mente o que te perturba e a ocupe com o que te faz bem agora, e o que te fará bem depois.
Não há fuga melhor para um desamparo da vida, do que viver.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Escrevinhadora

Meu ideal seria escrever algo emocionante, que quebrasse fronteiras, que fosse reconhecido e até copiado.
Talvez escrever como Camões e Drummond. Como Rubem Braga ou Fernando Sabino. Ou até como Machado.
Uma história simples, mas completa -concreta - que rime e que emocione. Que viva e que faça nascer no leitor uma sementinha bonita, que ele leve pro resto da vida.
Imagina só, então, se minha história vira filme, se meus personagens pudessem apertar mãos... As crianças, todas animadas, me veriam na rua e apontariam dizendo: "Olhe ali! Lá vai a escrevinhadora!"