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terça-feira, 31 de julho de 2012

Ecologia da subjetividade humana

Somos humanos. Eu e você. 
Eu, você e todas as outras pessoas lá fora. Todas elas. 
Somos todos iguais. E todos diferentes. Todos unicamente diferentes.
Pois somos feitos de imaginação. Somos construídos por aquilo que sonhamos, e por aquilo que vivemos. Por aquilo que desejamos, e por aquilo que aprendemos.
Somos como uma colcha de retalhos. Nós e nosso caráter. Cada pedacinho de pano cosido um com o outro uma lembrança, um aprendizado, um sonho.
Aqui, meu livro favorito. Ali, uma decepção. Acolá, um bordão de mãe. E vamos tecendo nossa colcha. Cada um a sua.
Podem ser coloridas, pequenas, bregas, monocromáticas, de mil e um jeitos e formas. 
Mas nunca iguais. Nenhuma é réplica da outra. Retalhos diferentes, experiências diferentes. Seres humanos diferentes.
E se agora usamos nossas colchas como reflexo daquilo que somos, como proteção ao frio da sociedade, como aconchego e como descanso, é o que nos sobra, por fim, como mortalha.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Homenagem cruzada

"Escrever histórias tem algo a ver com mágica", foi o que Cornelia Funke escreveu em um dos meus livros favoritos. E com razão, escrever tem mesmo algo de mágico. Enxergar o mundo com novos olhos e senti-lo com um outro coração, com sangue de tinta e carne de papel.
E seria realmente uma experiência muito gostosa viver, quem sabe, nos mundos mágicos de J.K Rowling, Lewis Carrol, C.S Lewis ou J.M Barrie.
Viver um romance narrado por Emily Brontë ou Jane Austen, uma tragédia de Shakespeare ou desvendar um crime de Edgar Allan Poe ou Agatha Christie.
Talvez, se minha história fosse narrada por Machado de Assis, eu parasse de reclamar de tanta confusão, e se pudesse refletir como Carlos Drummond de Andrade ou Fernando Pessoa não recorreria aos Morangos Mofados, do querido Abreu.
Posso querer um suspense ou um romance de Pedro Bandeira, mas a vida seria mais leve e engraçada se fosse uma história de Paula Pimenta, Meg Cabot, Fernando Sabino.
A bem sábia verdade é que posso tê-los todos, ao estender de uma mão. Posso tê-los todos, a me esperar na estante, de braços abertos, a me esperar todos os dias.Como [aprendiz] de escritora, aprendo a mágica, combino palavras, experimento metáforas, brinco de anáfora, de paradoxo, de metonímia. 
Mas melhor, bem melhor, como leitora penetro "surdamente no reino das palavras", onde chego mais perto e contemplo as palavras. "Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: 'Trouxeste a chave?'"

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Desabafo

Você senta no escuro e tudo o que consegue sentir é um frio, um frio tão intenso que lhe faz tremer o corpo e ranger os dentes. O que é quente explode em um rompante de lágrimas que lhe queimam o rosto e te embaçam a visão, e tudo o que você sente é o Nada.
O Nada que te preenche a alma, o Nada que pulsa a cada batida de coração, o Nada que ocupa todos os seus pensamentos, sem lógica nem sentimento nenhum.
E mesmo assim, mesmo com tanto frio, com o frio nos ossos e o ranger de dentes, mesmo com o medo, mesmo com a consciência do Nada e da vastidão do Vazio, você sente.
Você sente cada célula, você grita silêncios incansáveis, corre em círculos em uma escuridão tão desesperadora, em um caminho tão longo, sem início nem fim, sem luz e sem trevas, sem eira nem beira. E mesmo assim, você torna a sentar. Ou talvez nunca tenha levantado mesmo. 
Ou talvez não esteja mesmo ali. Talvez esteja em algum lugar, em qualquer lugar. Mas não está em nenhum lugar. Talvez até não tenha sentido nada disso, é mais simples encarar tudo e dizer: estou com saudades, e falta uma parte de você em mim.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Tempestade

Alguma vez já parou em silêncio, para ver a tempestade chegar? Já parou para perceber o céu mudando de cor, tingindo-se dos mais diferentes tons, do suave cinza ao forte roxo? Já parou para ouvir como o vento assovia diferente, tirando as folhas secas para dançar?
As árvores se recolhem, os animais se escondem e tudo parece deserto, há somente a Tempestade. A Tempestade e a Terra, que respirando e suspirando, se juntam em uma dança hipnotizante, uma salsa, um tango, movimentos que ser humano nenhum poderia jamais entender.
E mesmo assim, torna-se devastador. Não paramos pra assistir a tempestade, nem nos preparamos para tanto, mas nos lamentamos depois que ela passa, depois que o que sobra é uma terra devastada.
Não notamos a grandiosidade de uma árvore antes que seja levada pelo vento, temos essa péssima mania de notar apenas quando passa, quando já nos encontramos no olho do furacão.
Não percebemos antes qualquer que seja a cor de uma folha, mas depois de amarelada qualquer matiz remete-se ao verde.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Uma conversa

Fé. Uma palavra, duas letrinhas. Capaz de destruir e construir. Capaz de mover legiões de uma parte à outra do globo, capaz de criar e desatar laços, capaz de movimentar forças que nem imaginamos, forças essas que só agem no desconhecido e oblíquo mundo da imaginação.Veja, não falei em religião, em existência disso ou daquilo, mas em fé. Falei em ter fé, em acreditar em algo.E no fundo, não é assim que a gente vive, sem nem perceber? Tendo fé? Não adianta me dizer que não é nisso que você acredita, porque somos humanos. H-U-M-A-N-O-S. E seres humanos usam e desfrutam da imaginação e da força do "acreditar" todos os dias, quase que o tempo inteiro.E sabe o que nos moveu até aqui? Sabe o que foi essencial para chegarmos onde chegamos, o que nos acompanha desde o primeiro momento, desde o descobrimento do fogo, as primeiras pinturas, as primeiras grandes construções, desde o início de tudo? A imaginação. Para mim, não há História, não há humanidade, não há fé, se não for a imaginação.A nossa imaginação nos leva a lugares onde nunca poderemos ir, nos leva a conclusões e hipóteses inimagináveis e faz com que acreditemos naquilo que a gente quiser.Quando eu acordo de manhã, abro os olhos e penso "só mais uns minutinhos" eu tenho fé que o meu dia vai ser incrível.Quando eu sento aqui na frente do computador cheia de ideias na cabeça para escrever eu tenho fé de que eu vou conseguir me expressar, de que eu vou conseguir me fazer entender, de que eu vou conseguir me aproximar de outras mentes pensantes e tocar seus corações. E se eu não tivesse fé nisso, se eu não acreditasse nisso com todo o meu coração, se eu não usasse meu imaginário para ligar as palavras, para criar uma história após a outra, organizar meus pensamentos de um modo coeso talvez eu não tivesse chegado onde eu achava impossível, e não teria essa vontade de ir sempre além.Emfim, eu acho que acabei fugindo do assunto. Mas a fé não é algo que se possa explicar, ou definir, ou simplesmente excluir e banalizar na nossa vida, pois sempre temos fé em alguma coisa, sempre acreditamos em algo, mesmo que seja sem lógica nenhuma.Eu tenho fé que você vá pelo menos pensar um pouquinho nisso tudo o que eu escrevi, e passar a entender que, no final de tudo, eu só quis mesmo dizer que não somos nada, absolutamente nada, se não acreditarmos em algo ou se não usarmos dessa ferramenta incrível que é a nossa imaginação.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Aloha

Se você for à praia em um dia de mar agitado e prestar bem atenção, verá que lá, um pouco antes do horizonte, onde as ondas são só marolas, há um surfista sentado em sua prancha. Você verá que ele parece fitar o vazio, esperando por algo. Algo que nunca vem.
Se você perguntar, ele vai responder que está esperando a onda perfeita. E eles estão sempre esperando.
Assim como nós, que esperamos o momento perfeito para dizer qualquer coisa. Assim como as dançarinas que esperam o movimento perfeito, a música perfeita. Assim como os fotógrafos, que esperam a paisagem perfeita. Assim como os jornalistas, que esperam a matéria perfeita.
Mal sabem os surfistas, as dançarinas, os fotógrafos e jornalistas que qualquer momento pode ser o momento perfeito. Que qualquer dia pode ser o dia ideal para se começar uma dieta. Que qualquer pessoa pode ser a pessoa ideal para você. Que qualquer onda pode ser a onda perfeita, que qualquer paisagem pode ser a paisagem perfeita. Tudo depende do que você for fazer com ela. Tudo depende de como o surfista vai aproveita a onda, de como a bailarina vai dançar, de como o fotógrafo vai fotografar, enfim. Tudo depende de nós.Qualquer dia pode ser um grande dia. Qualquer amor poder ser o amor da sua vida. Qualquer pessoa tem o poder de mudar o mundo, o seu mundo. Qualquer coisa pode te fazer feliz, basta você querer.
Qualquer dia é como o primeiro e como o último, cada dia que acordamos é como um presente, como um presente de amigo secreto. Não sabemos de quem é e nem pra quem vai, mas é um presente, é o nosso presente que importa.
Se está a espera da onda perfeita, do momento perfeito, da pessoa perfeita, aproveite o mundo que lhe é dado. Tudo o que precisamos é abrir a porta e fazer a diferença, fazer com que aconteça.
A onda perfeita pode estar passando por você agora mesmo, não a disperdice.