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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mocinha

As portas da estação se abriram e a menina entrou saltitando no saguão, deslumbrada com a imensidão de pessoas que iam de um lado para o outro, em busca de suas plataformas. Ela passou por baixo da catraca e encarapitou-se no alto da escada rolante, com sua mãe resmungando atrás para que se portasse. 
Enquanto esperavam o trem do metrô na plataforma, a menina não podia aguentar de ansiedade.
"É rápido mesmo, mamãe?"
"É sim, mais rápido do que qualquer carro."
"Mas vai por de baixo da terra?"
"É, vai em túneis."
"E não cai?"
"Não!"
"E todo mundo pode usar?"
"Quase todo mundo..."
"E a gente vai onde?"
"No banco, eu já disse!"
"Fazer o que lá?"
"Pagar a compra do carro que a gente escolheu, lembra?! Aquele grandão!"
"Mas se o metrô é mais rápido que qualquer carro, por que a gente comprou um?"
"Presta atenção agora, que o trem tá chegando".
A menina agarrou a mão da mãe quando o trem passou rápido por elas, e assim que as portas se abriram, ela entrou no vagão apinhado de gente e segurou firme nas pernas da mãe, quicando pela expectativa de conhecer aquilo tudo. Quando o trem voltou a andar e seu corpinho foi jogado para trás, ela achou incrível se perder naquele labirinto de pernas, pernas de calças, de saias, de bermudas, pernas peladas e pernas peludas, um mar de pernas e de pessoas, que espremidas naquele vagão pintavam o quadro de novidade na cabeça da menina.
Poucas estações depois a menina já estava cansada, e puxava a calça da mãe, pedindo para sentar. 
"Ora, não foi você que pediu pra vir junto?"
"Foi, mas eu tô cansada!!"
"Guenta mais um pouquinho que a gente já tá chegando."
Elas saíram novamente para a estação apinhada de gente e logo entraram no banco. A transação foi rápida aos olhos da menina, que ficou sendo divertida por um dos gerentes.
"E quantos anos tem a princesinha?"
"Agora 4, já sou uma mocinha!"
"E a mocinha quer um balão?"
"Quero!!! "
O gerente amarrou o balão de gás no pulso da menina, que passou a saltitar pela agência, procurando pela mãe.
Elas saíram do banco e antes de mesmo de voltarem para a estação o balão se desprendeu e deixou a menina com olhos cheio d'água na calçada.
"Mas mamãe!"
"Deixa disso, menina! Vai chorar por um balão?! Não foi você que disse que já estava mocinha?"
"Mas meu balão!!"
A menina choramingou mais um pouco até chegarem na estação, e sua mãe lhe prometeu um doce, bem grande, assim que chegassem em casa.
A estação já estava menos salpicada de gente, e ao entrarem no vagão, a expectativa e ansiedade pelo movimento e novidade já minavam dentro da cabeça da menina.
E enquanto um balão de gás enfeitava o céu da cidade, no dia de seu aniversário, a menina adormecia no colo de sua mãe.   

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Casamento de viúva

O Sol surgiu entre os pesados pingos de Chuva e ela ergueu os olhos para o Céu, com a Esperança de encontrar ali um Arco-Íris. Mas até mesmo ele pintara-se de Cinza.

sábado, 10 de novembro de 2012

Troca de faixa

- Cauã Borges!
O auto-falante anunciou ecoando pela arquibancada apinhada de flashes de fotografia e o Sr Borges se levantou no meio de tantos outros senhores e senhoras. O pequeno Cauã levantou de seu lugar e correu desajeitado- o quimono escorregando pelo ombro, a faixa pendendo desajeitada na cintura- na direção do professor que o esperava no centro da quadra, o pequeno troféu reluzindo nos olhos do menino.
O garoto sorriu para uma ou outra câmera perdida e voltou cambaleando para seu lugar, onde deveria esperar com os outros meninos, mas saiu correndo em direção à arquibancada, entregando o troféu ao pai, que trasbordava orgulho em uma lágrima.
- Toma papai, é nosso.
O Sr. Borges sorriu largado no terno, vendo-se no tatame, o quimono surrado de suor. Uma segunda lágrima escorreu tímida, pendendo como aquela gota de suor.
- Lutador não pode chorar, pai!
E então levaram o menino para seu lugar no meio do quadra, e o Sr Borges ficou na quadra, perdido entre os outros pais e mães, o troféu protegido em suas mãos, reluzindo em seus olhos, seguindo o filho por onde quer que ele fosse.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Lux

O anjo veio e pousou;
O anjo pousou e modificou;
O anjo modificou e iluminou;
E agora alça voo.