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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Reflexo

    Poderia ficar aqui sentada na frente do espelho o dia inteiro. Não é egocentrismo. Muito menos narcisismo. Apenas uma tentativa de me encontrar.
    Já não reconheço nesses traços nenhum conforto. Os gestos não são meus. O sorriso tão pouco. Os olhos? Esses estão perdidos, sem eira nem beira. Ora alertas, ora desatentos, logo são inundados. Inundados por sonhos, promessas, conquistas, perdas, feridas. São inundados por aquilo que eu sou. E o que fica é tudo aquilo que eu menos gosto. 
    E já não quero que me acompanhe. Tento achar um jeito para que a imagem se prenda no espelho. Essa não sou eu, não são os meus pensamentos e os meus sentimentos que dão vida à essa imagem amargurada. Que ela fique presa, que não se liberte. Que seja mais uma máscara, mais um reflexo, abandonado em um canto qualquer.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Caixinha de Surpresas

   Há tanto para entender, em tão pouco tempo. E nem sei se há tanto assim para se entender. Ando tentando compreender essa linha tênue que difere sonho e realidade. Certo e errado. Verdade e mentira. Isso que nos cerca, que nos acompanha, que nos move, que nos difere, e que passa despercebido, e que vai se completando.
   Não sei se consigo entender todos esses limites. O que difere a verdade da mentira? O certo do errado? O que separa o sonho da realidade?
  Tantas vezes a realidade se torna um sonho, o sonho um pesadelo. Tantas vezes me pergunto se sequer estou acordada. Quantas vezes já me parei no meio de um pensamento, tentando entender se aquilo estava certo. O que era o certo.
   O que consigo entender, o que consigo tirar disso tudo, é que nada disso realmente existe. Como muitos, como a maioria erroneamente faz, tento encaixar tudo em generalizações, criar padrões. Mas um dia me convenço que a vida não é padronizada, nem tem como ser. Podemos até tentar, mas como aberrações da natureza do jeito que somos, pensando e sentindo, não tem como obedecer uma razão.
   "A verdade é uma terra sem caminhos", já diria Krishnamurti, ela é relativa. 
   Meu maior defeito é tentar entender, tentar achar os porquês, os motivos ocultos em palavras e atos. Tentar entender os mecanismos que movem essa caixinha de surpresas que nós chamamos de vida. 

domingo, 18 de setembro de 2011

Aulas de Física

    Certa vez, para explicar uma matéria, meu professor de Física disse o seguinte: "Tudo depende do referencial". Eu não poderia imaginar como tudo se encaixa nisso.
    Verdade e mentira, certo e errado, costumes, sentimentos, sofrimentos, alegrias. Tudo isso depende do referencial.
    Porque, no fim, nós é que inventamos. Nós é que determinamos um padrão, algumas regras. Nós é que determinamos o que é certo, o que é errado, o que torna-se verdade ou mentira. E esse padrão, essas regras, é o que deveria fazer  tudo mais fácil.
    Mas querem saber de uma coisa? Para quem pensa, para quem tenta achar o que é certo e errado, o que é verdade e mentira, torna-se um desafio. Nada é certo, não há uma constante. É tudo uma grande incógnita. Cada segundo, cada suspiro, cada sentimento ou pensamento, nada é certo. Não há uma verdade única e absoluta. Não há uma atitude que seja inteiramente certa e errada. Não há como generalizar, como padronizar tudo. Como estabelecer um padrão de pensamentos, de sentimentos, se nem nós, em nosso íntimo, possuímos certeza daquilo que somos. Podemos ter certezas, ter objetivos concretos, ideias enraizadas, mas nem isso conseguimos verbalizar. Tudo o que sai, é a essência. 
    O que sei, o que sinto, o que penso, depende do referencial.

Uma mania

   E eu tenho essa mania de colecionar cheiros. De colecionar sonhos, palavras, abraços, letras, sorrisos. 
   Mesmo quando o cheiro se desprende da roupa. Quando os sonhos se vão. As palavras se calam, os sorrisos se fecham. Mesmo assim, eu os guardo.
  Porque ficam gravados na mente, lembrança constante do que se foi. Lembrança daquilo que nem foi.
  Lembrança, inspiração. E torna-se pérola, poesia,  preciosa. E não necessário. E inesquecível. 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

"Parabéns pra você"

    Aniversário é, como bem sabemos, a comemoração de um dia especial, de ano em ano. Então se nos reunimos para festejar a data de nascimento de alguém, isso quer dizer que aquelas pessoas que estão ali se importam com o aniversariante, e esperam e desejam que aquele momento se repita por muitas e muitas vezes.
   Hoje, eu não pude estar aí, reunida com você, Laryssa. Por aqueles motivos que nós conhecemos tão bem. Mas eu fico aqui, te desejando tudo de bom, te desejando felicidade, saúde, paz. Fico aqui com uma vontade doida de te abraçar, poder cantar bem alto "parabéns" e puxar sua orelha 16 vezes!
   E se eu não estou aí, com você, junto com seus outros amigos, junto com aquelas outras pessoas que te amam, não é porque eu não me importe. Não é porque eu não goste do mesmo tanto. Eu gosto, Laryla. Muito.
    Porque se existe aquele papo de alma gêmea, a minha só pode ser você. Não no sentido romântico, é claro. Mas eu sei que, amiga e irmã como você, não acho, nem que procure por mais dezesseis anos. Amizade como a nossa, Lary, nem distância nem saudade nenhuma separa.
    Eu te amo, Gêmea, e desejo pra você tudo de bom, todos os sonhos, toda a felicidade, porque você merece. Não só hoje, como todos os dias da sua vida.
    Então, parabéns pra você, por ser essa pessoa especial, divertida, fiel, companheira e muito, mas muito amiga mesmo.
    Amo você.

O poder de não fazer nada


    Anualmente nos reunimos para lembrar da morte daqueles que já foram de forma trágica, inesperada. Gastamos incontáveis quantias com monumentos, com homenagens, tudo para "aplacar a dor que se reproduz no âmago das famílias que perderam seus entes queridos". Nos esquecemos daqueles que ainda possuem uma chance, uma chance de mudar esse destino que nós mesmo determinamos. 
    E, sinceramente, eu não culpo aqueles que nem lembram, que estão mais preocupados com que cor de tênis vão comprar na próxima semana. Porque, infelizmente, nós não podemos fazer nada. O que nós podemos fazer? Se para ajudar alguém assim, em um parâmetro mundial, aquela linda história do beija-flor nada vale?
    Nós damos o título de nação poderosa para alguns países, países esses que tem o poder de fazer alguma coisa, que tem o poder de intervir. Mas que, com o orgulho ferido, por uma questão de prioridade, desfrutam também do poder de não fazer nada.
 

Autorretrato

    Lápis preto, all star, mangas compridas, livro, música, músicas, livros. Frio, chocolate, filmes, abraços, amizade, lealdade. Risadas. Risadas altas, disfarçadas, bobas, sem motivos, com motivos, compartilhadas, isoladas. Felicidade. Infantil, bobinha, otimista, madura? Pensativa, sonhadora, romântica, poeta? Não, não. Ouvinte, falante, apaixonada, orgulhosa, teimosa. E sim, curiosa. Avoada, desastrada, bailarina, impulsiva. Apaixonada, confusa, tonta, decidida. Frágil, confiante, chorona, sagitariana, chata, amiga.
   Eu? Então, sou contradição.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Herança

    Complicado falar sobre aquilo que é nossa origem. Complicado falar de história, de costumes, de heranças. Até porque, além da própria vida, é o que nós temos de mais valor.
      A família.
    Engraçado como, hoje, até isso nós banalizamos, generalizamos. É dela que herdamos gostos, sentimentos, preconceitos, costumes, história. É nela que nos sustentamos.
    Engraçado também como algo tão simples pode ser relativo também. Família está só no sangue? Aquele primo de quarto grau que você não sabe nem ao certo o nome, é família também?
    Costumo dizer que família são aqueles que conhecem minhas manias, que conhecem meus defeitos, que estão comigo todos os dias, se não fisicamente, em pensamento. Família para mim, é que me dá uma base, sustento. São aqueles que eu tenho certeza que quando eu cair, estarão lá.
    Por isso eu não entendo esse papo de desvalorizar a família, de esquecer, de dar as costas. Como, se o que sou, devo à eles? 
    Se quer um conselho, uma sugestão, não abandone a família, é ela que vai te acompanhar em cada passo, em cada jornada. Os amigos estarão lá. Os namoros e os colegas também. Mas a família não te abandona, ela te acolhe, te entende, te ensina. É dela e com ela que se perpetua toda uma história, numa eterna herança de cumplicidade, carinho, ensino, companheirismo e amor.

Obrigada, família, por estar do meu lado, por me ensinar, por me entender, por me ajudar, e por me amar, incondicionalmente, de um jeito que ninguém mais poderá.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Melhor Amigo

   Eles são muitos. Grandes, pequenos, gordos, magros, novos, velhos, interessantes, chatos, românticos, informados. De todos os gêneros e espécies. Tem para todos os gostos. E todos eles tem a mesma capacidade de se tornar seu melhor amigo.
   Para mim, não há conforto maior chegar no meu quarto e os ouvir chamando, ali da estante. Alguns eu nunca li. Outros já li e reli tantas e tantas vezes. Alguns leio toda vez que tenho um problema. Outros eu li uma vez e bastou. Alguns eu guardo com carinho, por ter sido um grande companheiro.
  Alguns deles tem fadas e gnomos. Outros tem personagens tão reais como você e eu. Alguns até contam histórias tão parecidas com a minha, que eu acho ali um conforto e um carinho gigantesco. É neles que acho grandes amigos. 
   Naquelas histórias de amor, de suspense, de terror, de dia-a-dia. Naquelas poesias tão bem construídas e aceitas. Naquelas palavras que me acolhem como se eu fosse mais uma história a ser contada.
   Em dias de frio, de solidão, de calor, de alegria, de tristeza, de cansaço, de correria, dias de todos os jeitos. Haverá sempre um livro debaixo do braço, do travesseiro, na escrivaninha.
   Porque dentro daquele universo fictício eu me encontro. Ali dentro eu sinto, dou risada, choro, sinto raiva, sinto alívio. Dentro dessa outra dimensão não há dúvidas de quem eu sou. Porque nele posso ser o que eu quiser. Ser poeta, ser bruxa, ser guerreira, ser amante, ser princesa.
   Meu melhor amigo? Tenho tantos! E o principal deles, tem uma brochura velha, já. Páginas gastas de tanto ser viradas e reviradas. Tem algumas orelhas, algumas manchas. Meu melhor amigo tem alma de poeta. E tem minha alma presa ali também. 

Hipocrisia

    Palavras não bastam. Vontade não basta.
    Quer um conselho? Querer não é poder. Quem acredita nem sempre alcança.
    Só querer e só acreditar não vai te levar em lugar nenhum, tem que levantar e lutar, só esperar acontecer não basta. Se é algo que você quer mesmo, então corra atrás.
    Conselhos hipócritas, é verdade. Se me perguntar, também não os sigo. Mas tento. E sei que força não nos falta. 
    E repito isso mais para mim, do que para vocês. Mas pensem. São os atos que movem o mundo. As ideias são só isso, ideias. Ficam presas na cabeça, ficam agarradas no papel. Mas não ganham forma e conquistas se não virarem atos. Atos que tem que ser regados de convicção, força, paixão e vontade. Sem isso não se alcança. Sem isso não se luta, e não se ganha. No final da batalha, não existem perdas e vitórias. Se ganha e se perde dos dois lados.

domingo, 4 de setembro de 2011

Conselho

   Eu levantei para olhar o céu nublado, que escondia minha grande amiga. E quando as nuvens se dissiparam, eu a vi. E não pude deixar de sussurrar “Boa noite, Lua.
    Eu comecei a tagarelar, sobre todas as coisas que me afligiam. No meio do desabafo, um novo pensamento trouxe à tona uma nova onda de lágrimas. Que tipo de pessoa era eu que chorava apenas por chorar, para tirar da alma um peso que eu nem sei por que pesava. Sentia-me culpada, há nesse mundo tantas lágrimas mais dolorosas do que as minhas. Fiquei pensando nas pessoas que choram por falta de comida, de abrigo, de amor, de atenção. Que choram por seus filhos, por seus pais, que choram clamando por ajuda. E nós não podemos ver suas lágrimas. Não podemos abraça-las e prometer que tudo ficará bem. Naquele momento, me senti uma inútil, sentada encarando o céu. Encarando já sem ver, pensando em como impedir que não houvesse mais lágrimas de tristeza, de raiva, de ódio. Desejando poder plantar no céu um arco-íris eterno, pintando nossas vidas nas mais diversas cores, nas mais quentes esperanças. Gostaria que um dia minhas palavras chegassem a quem precisa ouvir. Gostaria que me ajudassem a solta-las ao vento, para que chegasse aos ouvidos de quem precisa ouvir, de quem precisa de uma palavra de carinho, de atenção, de acalanto.
   A tristeza é passageira. Pode não parecer assim, pode ser que pareça algo eterno, que vai consumindo cada outro sentimento e plantando agonia em seu lugar. Mas acredite em mim, ela irá passar. Haverá um dia em que o sol brilhará mais forte, e em seu coração morará um sorriso eterno. Um riso de fada, uma canção inesquecível. Haverá um dia que você verá como as lágrimas secaram e em como todo o mundo parece mais vivo. Porque não há tristeza que não sucumba à frente de um sorriso. Então não esquente, levante e sacuda a poeira. Sorria, o mundo te espera de braços abertos para ver o seu sorriso incandescente.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Entre perdas e ganhos

A estrada de terra.
Infinita estrada de terra.
Entre campos verdejantes e a mata mineira, 
passou a estrada de terra.
A enxada e a roça.
A roça e as estrelas.
A roça e a família.
A roça e a estrada de terra.
Virou asfalto.
Asfalto quente, suado.
E o tempo escorrendo por entre os dedos.
Flor do mato que amadurece, cachoeira que corre.
Entre perdas e ganhos se deu a vida. 
E ficou para trás a estrada de terra.
Camisa xadrez, jaqueta e chapéu na cabeça,
mais uma lembrança da famosa estrada de terra,
mais uma lembrança de respeito, de carinho;
Do nosso sentimento patriarcal.
E em bifurcações, encontram-se:
Asfalto e Estrada de Terra.
E conduzem para a roça,
para os campos verdejantes, 
para o pasto infinito.
E aqui ficam as cachoeiras.
E aqui fica a camisa xadrez.
E aqui fica a estrada de terra.
E ficam eternos e enternecidos,
o carinho e o respeito.


Descansa em paz.