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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Espectros

O que me encanta mais nisso tudo são as cores, as luzes, o movimento. É como embarcar em uma viagem de carro noturna. A estrada voando sob seus pés, o vento batendo no rosto, e as luzes das cidades passando de uma maneira tão vertiginosa, que mais parece um carrossel de cores e borrões que se misturam à escuridão, mandando a noite embora.
Disso tudo quero dizer da luz. Não conheço quem não tenha, nem por um momento, temido o escuro. É nele que os medos se escondem, nele é mais fácil se perder, é nele que espreitam temores indescritíveis e monstros tramando vinganças.
Não na presença da luz. Ela ajuda a se espantar os monstros, apaziguar as angústias, e mesmo que gere sombras, faz com que tudo se resolva.
Desejo, portando, somente luz. Que ela carregue, consigo, o amor, a paz e a esperança, também. Mas principalmente luz, não só no ano que entra, mas todos os dias, para que ela seja a força e o instrumento que você precisa para lutar contra seus medos e monstros. 

domingo, 25 de dezembro de 2011

Mais um conto de Natal

O pequeno Chris não conseguia dormir. Seus pais já roncavam nas esteiras ao lado e o viaduto estava mais silencioso do que o costume, e ele sabia que era por pouco tempo.
Chris pegou sua esteira e a levou até onde conseguisse ver o céu. Mesmo que espessas nuvens o escondesse, sabia que estava crivado de estrelas.
De repente, um lindo e solitário fogo de artifício iluminou a noite, e Chris sabia que naquele momento, dentro das casas, pessoas brindavam, se abraçavam, se submetiam ao ridículo, trocavam presentes e se deleitavam com comidas maravilhosas.
Naquele momento, Chris sabia que era seu aniversário, e ninguém lembrava.
Ainda olhando o céu, poderia jurar ter visto uma estrela cadente. Assim mesmo, fez seu pedido,  sabendo que ninguém se importava.
Deitado em sua esteira, ele parou um instante antes de adormecer e sorriu. Não... Ele se importava.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Faxina

Eu decidi ir embora. Metaforicamente, claro. Decidi fechar algumas portas, cortar algumas amarras. Decidi que, de vez em quando preciso agir como se cuidasse de um grande guarda-roupa.
Eu posso guardar o que eu quiser ali dentro. Posso fazer a bagunça que eu quiser, afinal, ele é meu. Mas depois de um tempo cultivando tanta bagunça, algumas coisas começam a desaparecer. Ou embolorar. Ou estragar. A melhor solução, então, é fazer uma grande limpeza.
Jogar fora o que já não serve, mesmo que seja difícil. Afinal, há sempre aquela peça que não nos serve há anos mas que possui tantas lembranças. 
Talvez guardar somente lembranças não seja tão saudável. Talvez nós precisemos jogar fora algumas coisas, para que haja espaço para outras.
Usando essa metáfora não quero dizer que as pessoas e as relações são como peças de roupas que podemos usar até ficarem desgastadas. Mas quero ressaltar que as relações são, principalmente, fundadas em interesses. Quando os interesses se vão, quando não há nenhum motivo que nos traga mais felicidade, talvez seja a hora de dizer adeus e continuar por um outro caminho.
Talvez hoje eu esteja escrevendo para diminuir o peso que é dizer adeus à boas memórias. Mas é preciso, é sempre preciso.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sorria

Sempre leio por aí algumas coisas que me incomodam profundamente. Vão desde notícias que me chocam até esses novos "dizeres populares" que andam ganhando fama em algumas redes sociais.
Hoje eu vi algo assim: "Felicidade, quando você quiser voltar pra mim, a porta estará aberta".
Caramba, tudo bem personificar sentimentos, fazemos isso o tempo todo. Mas deixa eu te contar uma coisa?! Felicidade não é pessoa. Ela não vai embora, e tão pouco volta pra nossa vida. Assim como o amor, a esperança, a tristeza, o ódio e todos os outros sentimentos.
Se você quer ser feliz, pare de ficar esperando de braços cruzados que a felicidade vá entrar pela sua porta. Só quem pode trazer felicidade pra sua vida é você. Claro, há um número enorme de fatores que contribuem pra que você possa se sentir feliz, mas não é esperando sem fazer nada que você vai conseguir.
Se está triste, saia, areje a cabeça, faça o que gosta, coma o que gosta, saia com os amigos. Assista um bom filme, escute uma boa música, leia um bom livro. Mas por favor, não fique sentado na frente de um computador se lamentando. Por favor, não contribua mais pra essa vida social cibernética em que todos nós temos que sofrer por alguém, em que todos nós temos que estar desesperados e angustiados por alguma coisa.
Por você, por mim, por todos nós que vivemos, sorria, aja, seja feliz!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Um pedido

Desculpe aos leitores por esse post, mas ele não é genérico. Desculpe usar o blog para escrever isso, mas eu preciso disso registrado. Se não quiser ler até o final, não leia; mas se eu te mandei o link por favor, tente entender o que escrevo.
Eu descobri que gosto.
Gosto do que você pensa, gosto do seu jeito, mesmo que antes pensasse que ele me irritava. E por isso peço desculpas.
Descobri que gosto de conversar com você, dar risada de você (novamente perdão) e com você. 
Eu descobri que por mais que haja picuinhas e fofocas, eu não ligo.
Porque em ti eu reconheço uma amiga. Não uma amiga que falaria sempre aquilo que é certo e que me agrada, não uma amiga que passe a mão na minha cabeça, não uma amiga que me encha de abraços a cada segundo.
Mas uma amiga que me dá conselhos de verdade, que me puxa pra realidade, que reconhece, mesmo distante, quando eu realmente preciso de um abraço.
São esses amigos que valem à pena de verdade. Me desculpa por não ter reconhecido isso antes.
É por isso que eu escrevo, pra você, Giovana. Porque eu sei que não somos próximas. Eu sei que nós tivemos, e temos, nossas desavenças. Mas eu me orgulho de te reconhecer como amiga. Obrigada por me oferecer um abraço quando eu precisei. Obrigada por me dizer algo sábio e por me dar espaço.
Me desculpe se algum dia não te retribui tudo aquilo que depositou em mim. Me desculpe se algum dia eu deixei que as desconfianças e as maledicências de outras pessoas entrassem no nosso caminho. Só queria que você soubesse o quanto eu te admiro, e o quanto eu desejo, de alma e coração, que você realize tudo o que você sonha. 
Eu só tenho um pedido, não mude. Não mude porque as pessoas te pedem, não mude porque as pessoas te criticam. Seu jeito é único, seus pensamentos, seus sentimentos. Você é especial. Para mim, especialmente.
Para uma estranha amiga, de uma amiga estranha.

Conselho de vovó

Eu achava que conhecia as pessoas. Pelo menos aquelas que estavam perto de mim. E fui percebendo, um dia após o outro, que não as conheço. Nem à elas, nem à mim. 
Perdi a conta das apunhaladas pelas costas. Perdi a conta dos risos de deboche, dos cochichos, das fofocas. Perdi a conta das lágrimas que derramei ao ler palavras que achava lindas, coloridas, e hoje não passam de vazios no papel. Perdi a conta dos pseudo-amigos que já passaram por mim.
Mas aqueles que ficaram, aqueles que me ajudaram a levantar, que secaram minhas lágrimas, aqueles que estão comigo, abertamente, esses eu consigo contar. Claramente.
E hoje não choro mais. Hoje eu não sinto mais raiva, nem mágoa. Pra falar a verdade, nem dó ou nojo eu sinto mais. São pessoas que me fizeram bem, que me fizeram feliz, e acharam outro jeito de serem felizes sem mim. 
Para ambos, só tenho um conselho: Não suba a escada para o sucesso pisando em outros. Fazer isso te dá o direito de também ser pisado. Então guarde para si os comentários maldosos, os olhares de chacota, os narizes torcidos. 
Já é difícil viver, conviver e sobreviver hoje. Não precisamos de cada vez mais pessoas fazendo de tudo para derrubar o outro, machucar o outro, magoar o outro. Não peço para que goste de tudo e de todos, mas que saiba lidar até com aquele que você não gosta.
Sabe aquele velho conselho de avó? Não faça para o outro o que não gostaria que fizessem para você? Deveríamos pensar mais nisso.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Contraponto

Dando continuidade às discussões sobre a Usina de Belo Monte, em resposta ao vídeo postado do Movimento Gota D'água, alunos de Engenharia Civil e Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) postaram esse outro vídeo, como resposta.
Eu reconheci os erros e os exageros do outro vídeo, e também como antes tinha comentado, todas as apelações, mas não mudei de ideia. Por mais que eles tentem explicar que serão gastos "apenas" 19 bilhões de Reais, que a área alagada não é de floresta virgem, que a hidrelétrica é fonte de energia limpa e reutilizável e que houve um equívoco da localização dos índios, não me dou como vencida.
A Belo Monte é a primeira de um projeto para 87 usinas na Amazônia, e não é uma fonte de energia limpa. Por mais que o terreno alagado seja de áreas já desmatadas, uma hidrelétrica polui tanto quanto uma termoelétrica, já que o apodrecimento da matéria orgânica inundada libera para a atmosfera gás carbônico e gás metano, que são nocivos para o meio ambiente e contribuem para aumentar o efeito estufa.
Mesmo que o Brasil esteja preparado para arcar com uma despesa dessa, no meu ver temos outras prioridades para o investimento desse dinheiro.
Mais do que isso, não vejo o problema dos indígenas como resolvido. Mesmo que se concretizem os projetos de integração social, mesmo que se invista em casa para eles, nunca será a mesma coisa. Já parou pra pensar no número de terras que já foi tomada deles? Não deles indígenas que vivem no Brasil hoje. Deles indígenas que vivem aqui há sabe-se lá quanto tempo. Mesmo que a terra não seja deles, mesmo que não seja lá onde eles vivem, mesmo que eles não tivessem que sair de lugar nenhum. É da terra que a gente está falando. Terra que para eles é sagrada. Terra que abriga animais, que nos abriga, que nos dá o que comer, beber e vestir. É justo tirar isso deles?
Assim como muita pouca coisa é justa. Não estou desmerecendo os outros problemas em bater nessa tecla, mas como não posso cuidar e pensar e colaborar com todos, me agarro nesse fiapo que virou a discussão.
Mesmo que esses estudantes esclareçam todas as questões que o outro vídeo deturpou ou deixou às escuras, não me parece uma causa nobre. No futuro, não são desses projetos e atos da nação brasileira que eu terei orgulho ao contar para quem vier depois de mim.

sábado, 26 de novembro de 2011

Bodas de Papel

Dia primeiro de outubro completou um ano da minha primeira publicação no blog e eu acabei nem me dando conta, mas gostaria de agradecer a todos os visitantes, a todos os seguidores por esse ano. 
Mentes Pensantes, é muito gostoso vir aqui, desabafar o que penso e o que sinto, poder colocar aquilo que colore ou atormenta minha alma, e encontrar em vocês reflexo, apoio e cumplicidade. 
Obrigada por visitarem o blog, obrigada por lerem, obrigada pelas críticas e pelos elogios.
Um ano, e que venham outros, e que venham muitos!

Estatísticas

Sempre achei os números de uma frieza infindável. Não acho neles o conforto e o acolhimento que encontro nas letras. Estão ali só pelo fato de estarem, para transmitir quantidades, unidades. Números não tem caráter nenhum, não guardam nenhum sentimento escondido, não tem poesia alguma.
E o que incomoda é isso. Porque, em alguns aspectos, não passamos disso: números. Não importa nosso nome, nossa história, nossos sentimentos e pensamentos. O que importa é que estamos inseridos em números, nada mais.
Para algumas pessoas, não passamos de números de seguidores ou números na agenda de telefone; para os políticos, não passamos de números e estatísticas eleitorais; para a Receita Federal, somos alguns números que ao menor sinal de equívoco acarreta em alguns punhados de zeros; para os jornais, um massacre não passa de números.
Em um mundo onde a crosta de indignação já se cicatrizou; onde nada mais assusta ou surpreende; um mundo onde a frieza tem se tornado cada dia mais palpável, mais sensível, não é de se surpreender que tenhamos nos reduzido a nada mais do que simples estatísticas. 

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Palhaças

Eu deixo a luz da garagem acesa e você acha ruim.
Não recolho a roupa do varal e escuto uma noite inteira.
Se ando descalça então, pira.
Mas eu sei que não é pura implicância.
Se tenho um pesadelo, posso dormir na sua cama.
Se acordo com dor de cabeça, posso faltar ao colégio.
E se acordo com cólica?! Bem feito, quem mandou pegar friagem?
Compartilhamos algumas paixões, e também algumas manias.
Por que que a gente tem tanto cachorro?!
Assistir jogo de futebol, programa de culinária. Filme no cinema não, né? Porque você insiste em dormir.
As pessoas me elogiam por ser inteligente, dedicada, caprichosa. 
Eu só respondo: "obrigada, mas você não conhece a minha mãe".
As pessoas me perguntam se a gente conversa.
Claro que conversa, dos mais variados assuntos. E damos risada de todos eles.
Você elogia minha cuca de maçã, mas seu pão de alho é divino.
Seu arroz com feijão, então... Não tem igual.
Você me chama de palhaça, mas de quem são os genes?
Você me chama de teimosa. Sei, mas sou filha de quem mesmo?
Você me chama de linda, mas dizem que eu tenho os seus olhos...
Você costuma gostar de tudo aquilo que eu escrevo, fico pensando se vai gostar desse.
Sou sortuda de poder dizer que não brigamos, não discutimos. Bom, não mais.
E se vocês querem saber, sou sortuda mesmo. Porque já fiz pique-nique com comida chinesa em cima da cama. Já participei de show de calouros no meio da cozinha. Já apostei corrida de cachorro no corredor. Já tripulei uma espaçonave de dentro do meu carro. Eu tenho uma mãe que é o máximo. Supera qualquer Brastemp e Coca-Cola. Minha mãe é uma figura. Minha mãe já foi super-heroína, cantora, dançarina, taxista, tudo usando nada mais que a nossa imaginação. E vai ser pra sempre a minha palhaça. 
Palhaça que eu amo, viu mãe? Amo mesmo. E liga não, as lágrimas no teclado secam depois. As suas e as minhas...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Varekai

A vida muda sem nos avisar. Parece tomar caminhos que não escolhemos. Mas não é bem assim. Somos arquitetos do próprio destino. O segredo é encontrar o conforto em meio ao caos. A crise é um rito de passagem, com destino direto à felicidade, assim que ela chegar. A lua surge com nossos medos e o sol se põe sobre a nossa esperança. Enquanto houver luz, há a força e a sabedoria para enfrentar todos os desafios que nos forem apresentados.
Por mais contraditório que isso possa parecer, a única pessoa que precisamos combater, somos nós mesmos. Portanto, se quer um conselho, nunca conte seus segredos a si mesmo. Só você conhece suas fraquezas, e dependerá de você se vai alimentá-las ou erradicá-las. A única pessoa que pode te prejudicar irremediavelmente é você; você e suas atitudes. O silêncio vale ouro, não há nada que o compre, não há nada mais sábio, nem nada que machuque mais. Se palavras e atos machucam outra pessoa, o silêncio poderá fazer um estrago ainda pior. Saiba medir a quantidade certa, dosar bem, como todas as outras ferramentas que você possui.
Já que entrei nessa de conselhos, aí vai outro: Corra atrás do que você deseja, mas não se fruste demais com o que não conseguir. Com um pouco de sorte, você não encontrará o que procura. É isso que fará com que o gosto final seja muito mais saboroso. A busca é muito melhor do que o achado. A felicidade não está no destino final, e sim na jornada. É no caminho que você planta esperanças e colhe sorrisos. O que vier, depois, é fruto do esforço.
Não aceite essa realidade, não se conforme com pouco, tudo é possível quando você deixa sua mente te levar. A força pra conquistar você tem, a sabedoria para chegar lá também. Não deixe que digam que você não pode, não crie empecilhos. Não estou dizendo para que se iluda, que arquitete planos mirabolantes, mas que conquiste pouco a pouco o mundo, o seu mundo. A esperança se mostra eterna, pode até adormecer, mas não morre.
Há um mundo de forças e virtudes onde quer que você vá. Há um mundo de amores, esperança, amizades, sonhos, conquistas. Há um mundo onde tudo é possível, onde a paz não é utópica. Esse mundo mora dentro de nós, é só exteriorizarmos. Há um mundo de alegrias conosco, em qualquer lugar.

Seu papel de cidadão

Lembra da Usina Hidrelétrica Belo Monte, que eu escrevi no post "Ordem e Progresso?!" ? Bom, fica aqui um vídeos, com artistas "globais", que defendem a interrupção da obra e divulgam o site Gota D'Água, com uma petição que será apresentada ao Congresso Nacional. Se você quer fazer seu papel de cidadão, além de reclamar e apertar os botõezinhos lá na urna de anos em anos, assine. Não é justo conosco e com o nosso país deixar que essa usina, que trará tanto "progresso" ao nosso país, interfira dessa maneira na vida de tanta gente. Gente que luta pelo pedaço de terra que não é deles, é nosso. Não é pela casa deles, é pelo nosso ar, nossas águas, nossas matas. Nós, brasileiros, não enchemos a boca para dizer que a Amazônia é o pulmão do mundo?! Que precisamos resgatá-la e cuidar dela? É nossa hora de agir, então. Assista o vídeo, acesse o site. Não pelos atores, não pelo apelo da mídia, mas pela sua consciência de cidadão brasileiro.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Plantação de sonhos

Não é todos os dias que abro a janela do meu quarto. E toda vez que abro, não é a mesma vista. Sempre uma nova manhã, com novos cheiros, novas cores e novos presságios. Não abro a janela só para arejar o quarto e iluminá-lo. Abro a janela para arejar os pensamentos e iluminar todos os meus medos.
Pois quando abro a janela do meu quarto, abro o meu coração também. Fito o horizonte e fico ali pensando, imaginando uma porção de caminhos, traçando centenas de futuros alternativos, achando algumas respostas e fazendo milhões de perguntas.
É ali, no meu quarto, em repetidas manhãs, que despejo minhas preocupações, minhas ilusões, minhas vontades. É ali que entrego meus segredos, que decifro e semeio tudo aquilo que sou, que amo, que desejo.
Não me surpreende, portanto, que ali, à janela do meu quarto, tenha nascido uma plantação de sonhos. 


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Cicatrizes

São engraçadas, as cicatrizes. Elas ficam ali, estampadas, nos fazendo de retalhos, memória do que já passou, marcas de batalhas em que saímos vitoriosos, ou perdedores.
Cicatriz arde, coça. Se faz visível assim, do nada. Mas é pra se fazer presente, pra gente não esquecer.
E mais ainda que as externas, são as cicatrizes internas que mais ardem. Conseguem se fazer visíveis, com qualquer coisa. E ardem, coçam, incomodam. E também alegram.
E hoje não poderia ter sido diferente. As cicatrizes coçaram e eu, masoquista, me vesti de lembranças pra ver se  aquela coceirinha ficava ali, martelando, lembrança palpável do que foi.
Mas foi tudo muito rápido, passou logo. Talvez porque ela já tenha entrado em dormência. Talvez porque nem era pra arder tanto assim.
A verdade é que eu achava que ela poderia se abrir de novo, rasgar. Mas quer saber?! Nada melhor do que o tempo como linha de sutura. 

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

C.D.A

Como já dizia Carlos Drummond de Andrade:


"É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos.


É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar dívidas,
é preciso comprar um rádio, 
é preciso esquecer fulana.


[...]


É preciso viver com os homens, 
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar o fim do mundo."


E é nesse mundo que a gente vive, onde forças maiores e inaparentes nos impõe certas necessidades que são ridículas. É preciso se perder, se achar, é preciso sair, beber, comer. É preciso ter amores efêmeros, é preciso morrer de tristeza, é preciso gritar. É preciso o protesto, e também a passividade. É preciso que sejamos humanos, desenvolvidos, civilizados, dentro do padrão que nos é colocado. É preciso sonhar com o impossível, correr atrás e desistir, é preciso estudar, falar certo, ter um currículo impecável. É preciso estar sempre aprumado, é preciso ser socialmente aceito. É preciso aceitar nossa ridícula realidade e nossos grilhões.
E é sugestível que se tente mudar.


31 de outubro - Dia D - Dia Drummond.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Caixinha de música

Eu entrei no quarto e tranquei a porta. Mesmo sabendo que ninguém estaria ali, chequei por todos os lados. De baixo da cama, saiu a pequena caixinha. 
Abrindo a pequena arca o quarto logo foi preenchido por sua melodia inconfundível, e no centro da caixinha de música, a bailarina rodopiava, num arco perfeito, com uma leveza que só com anos e anos de prática se adquire.
E fiquei ali sentada, encarando a pequena bailarina. E pensei como deveria ser infeliz aquela sua realidade, dançando ao som da mesma música, uma vida inteira, sem companheiro nenhum, sem escolha nenhuma, presa num único movimento, à mercê de quem escuta, de à quem pertence.
Se não abro a caixinha, ela permanece no escuro. Se a abro, fica presa naquele arco, naquela pirueta, ao som da mesma música. O que fazer então?
Será que também nós não somos como a pequena bailarina? Adaptados à realidades diferentes, dependendo de outra pessoa, de outras decisões? O que fazer, então?
Como reagir e mudar o tom da música que dançamos? Com quem dançar? Para quê dançar ? Para satisfazer desejos e vontades? Vontades nossas ou de terceiros? Como agir então?
Melhor ficar no escuro, à salvo de olhos alheios, ou a dançar a mesma dança, cansativamente, dia após dia?
Continuaremos como a pequena bailarina, à mercê de outras músicas, de outras vontades, de outras pessoas? Ou passaremos a dançar conforme a nossa própria vontade ?

sábado, 22 de outubro de 2011

Segredos

Posso contar um segredo? Eu me acho meio boba às vezes. Boba por acreditar nas pessoas. Boba por esperar alguma coisa, e nem saber o que eu espero. Eu me acho meio boba assim, por olhar para trás, e não ver momentos inválidos, esquecidos, de arrependimento.
Me acho boba por perdoar as pessoas, mesmo estando magoada. Me acho boba por sentir falta de abraços e de palavras que até hoje não sei julgar falso ou verdadeiro. Me acho meio boba às vezes, por admitir que sinto saudade de pessoas que foram embora, de pessoas que nunca estiveram aqui realmente, e agora estão ainda mais longe.
É um segredo bobo, assim como eu, mas que chateia a alma de vez em quando. Ainda mais quando eu olho ao redor e vejo que as pessoas não fazem o mesmo, na maioria das vezes. Não há perdão, não há saudade. Há um pseudo-sentimento que parece suprir a alma das pessoas, que parece ser o bastante para quem fala e para quem escuta, tudo impregnado de uma falsidade tão verdadeira, que eu me pergunto se na verdade vivo, ou faço parte de um teatro muito bem ensaiado. 
Espero ansiosamente o momento quando as cortinas se fecharão e as mascaras cairão, para assim viver, não atuar; conversar, não recitar; discutir e não dramatizar. Espero o momento em que nos comportaremos como humanos, e não marionetes de nosso próprio egoísmo. Mas isso é um segredo, não espalhe por aí.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ordem e Progresso?!

"Um dia, a Terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos nas correntezas dos rios. Quando esse dia chegar, os índios perderão seu espírito".
Assim começa uma "profecia" feita há mais de 200 anos por "Olhos De Fogo", uma índia Cree.
E não podemos deixar de discordar. Vemos a cada dia o tão famoso progresso engolindo aquilo que é tão precioso, tomando para si vidas que não retornarão mais. É em nome desse progresso, que cada vez mais vemos nosso ar ser poluído, nossas matas desmatadas e nossas vidas serem reduzidas à vidas em latas de sardinha, produtos também de uma linha de produção.
Trabalhamos em nome de um progresso que parece nunca chegar, em nome de algo que toma forma no papel, mas que nos consome de forma aparentemente invisível.
É em nome do progresso, em nome de "levar desenvolvimento à região de Altamira (PA) e municípios vizinhos" que será construída a Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Não preciso ficar explicando como se constrói uma usina hidrelétrica né? Se alaga uma grande área desviando-se o curso de um rio, e essa água move turbinas que conseguem converter essa "força" em energia elétrica. 
Eu sei que essa usina "trará melhorias para mais de 4.500 famílias da região que vivem em palafitas". Mas eu fico aqui pensando, será que essas pessoas não estão felizes, do jeito que estão? Será que não seria uma melhoria mais proveitosa, não sei, uma casa para essas famílias. Será que a construção dessa usina não mais piora do que ajuda?
Por gerações essas famílias vivem ali, trabalham ali, moram ali. Não é a construção de uma usina de alta tecnologia que vai conseguir mudar. 
Não preciso entrar no mérito de como isso influencia dentro da natureza, nas espécies que ali vivem, nas plantas que ali vivem.
Mas eu queria deixar bem claro aquilo que mais dói o coração. A população indígena que ali vive. Desde a colonização nós não temos sido justos com eles. É deles que vem muita bagagem do que somos hoje. Se você é brasileiro, deveria agradecer, e muito, aos nossos irmãos índios. Jogados de lá para cá, tratados como escravos, como cachorros velhos, como escória da sociedade, agora, novamente em nome do "progresso", os tiramos de onde vivem, os tiramos novamente de sua terra, de sua cultura, daquilo que é mais sagrado para eles. E assim nós conseguimos magoar, matar aquilo que é nossa herança. Aquilo que é nossa base. Aquelas pessoas que são o nosso início. 
A profecia de Olhos De Fogo termina assim: " Quando esse dia chegar, os índios perderão seu espírito. Mas vão recuperá-lo para ensinar ao homem branco a reverência da sagrada terra. Aí, então, todas as raças vão-se unir sob o símbolo do arco-íris para terminar com a destruição. Será o tempo dos Guerreiros do Arco Íris".
Nós simplesmente não podemos dar as costas para o nosso passado. Isso nega o nosso presente e inviabiliza o nosso futuro. Não podemos deixar que destruam aquilo que é tão precioso. Nossa mãe Terra, aquela que nos dá tudo aquilo que nós precisamos. Que nos dá a água, o alimento. Não podemos ferir desse jeito o coração de quem se doou uma vida inteira, uma geração inteira, para salvar o que temos de mais precioso.
Que desde os primórdios de sua existência, reconhece e protege a força da natureza, coisa que nós, seres humanos superiores, raça de suprema inteligência, ser pensante, não conseguimos entender ainda. 
É sob essa Ordem que vamos continuar vivendo? E em nome desse Progresso que vamos continuar lutando?

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Defeito de fábrica

Há pessoas que tentam entender o funcionamento da natureza. que tentam entender o ciclo do universo. Que tentam entender a origem do mundo ou a existência de alguma divindade.
Eu me contentaria em entender a mente humana.
Para mim, agora, parece infinitamente mais complicada. Tento me responder o que leva uma pessoa à agir de um jeito ou de outro em nome de um sentimento de poder, carência, satisfação. As pessoas são dispostas a tudo. À mentir, fingir, dissimular, enganar, trair, matar. Chegam aos limites, os ultrapassam. Ferem o espaço e o limite do outro. Em nome da própria satisfação.
Não falo isso de uma pessoa qualquer. Nem de uma particularidade minha. Mas enxergo isso em qualquer pessoa. E se torna ruim por isso.
Porque assim como enxergo esse "defeito" em todos, não consigo achar uma solução. E começo a me perguntar se realmente é preciso uma solução. Porque às vezes é esse sentimento que nos leva à ter vontade de conquistar alguma coisa. Que nos leva à persistir um dia após o outro em busca de um sonho.
E não reclamo disso. Não questiono isso. Só não acho justo que essa "busca" perturbe a busca do outro. Não acho justo que para se alcançar algo, você tenha que mentir. Tenha que dissimular. Que tipo de animal nós somos que para própria satisfação prejudicamos o outro? 
Não vejo nada que possa justificar isso. Não vejo nada que possa defender aquele velho ditado "os fins justificam os meios". Não justifica. Nenhuma causa é nobre o bastante para se custar a honestidade, uma amizade, uma vida. 
Pessimismo e conformismo meu dizer que sempre será assim, mas não vejo outra forma. O que eu posso tentar fazer, assim como você, é admitir, me vigiar, me punir, para toda vez que perceber que estou sacrificando a felicidade do outro em nome da minha, poder mudar, e me tornar uma pessoa melhor.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sócrates

E se eu sumir, não se assuste. Metamorfoses fazem parte, mesmo às avessas. De borboleta, passei a lagarta. Agora aprendo, do início, e por algum canto vago, procurando minhas asas e meu caminho.
Pois não há nada que possa ser de todo inútil, se aqui me perco, em algum canto me acho. Se agora choro, logo as lágrimas secam, um sorriso nasce, tristezas evaporam, esperanças florescem.
Mesmo perdida, sei que me acho. Mesmo sozinha, sei que há alguém segurando minha mão. Anjos, que disfarçados de amigos me guiam, mesmo às cegas.
E às escuras, sinto que estão ali. Mas muda, não sei como agradeço. Mas cega, não sei onde se encontram. Mas surda, não consigo ouvir as promessas de que tudo vai ficar bem.
Mas talvez seja assim mesmo, talvez todos nós nos sentimos assim, andando em círculos, sem saber onde ir, sem saber se está indo ou voltando, subindo ou descendo, evoluindo ou regredindo.
E volto ao começo. Volto aos primórdios. Volto ao fim. Não sei para onde volto. Não sei por onde caminho. Não sei nem quem sou eu. "Só sei que nada sei".

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Instrumento poético

   Às vezes elas fogem. Às vezes machucam, iludem, confortam. Às vezes são tudo o que você precisa. 
   Palavras, parecem tão simples. Letras, agarradas num pedaço de papel, na tela de um computador. Grafadas com capricho, com pressa, redondas, pequenas, estreitas, espaçosas, grandes. 
   Palavras que mudam, que completam, palavras que movem ideias, pensamentos, sentimentos. Palavras que, uma vez soltas, são como flecha atirada.
   Podem ferir qualquer um, poder ter qualquer destino. Palavras podem ser interpretadas de qualquer jeito. Palavras confundem, alimentam sentimentos. Palavras carregam gestos, preconceitos, ações, admirações. 
   Palavras são a essência do mundo. Alimento dos poetas.
   Mas palavras são desnecessárias. Às vezes são impróprias, inadequadas. Há atos que falam mais. Olhares que expressam mais. Palavras são palavras, instrumentos.
   O que há por trás, é humano. É sentimento, é pensamento. 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Qual perfeição?

    Nunca é o que a gente pensa. A linha que separa o real significado daquilo que nós interpretamos é quase imperceptível. Mas a decepção se torna real. A mágoa se torna real. 
   Nunca paramos para ver a tempestade chegando. Para escutar o vento assoviando em um ritmo diferente. Para observar a dança das folhas. Nunca previmos a força de um tornado ou a intensidade de uma ressaca. Só percebemos mesmo quando estamos no olho do furacão. Depois que passa, qualquer folha amarelada faz referência ao vigoroso verde, e assim tampamos nossos olhos, assim entramos em um ciclo constante. Em que tudo é uma questão de imagem, de significado.
   A imagem é aquele que nós fazemos, é o nosso pré conceito, é aquela que fica, por mais falsa que seja. É aquela imagem que não se apaga, que luta contra qualquer realidade. A imagem da melhor amiga ideal, do príncipe encantado, do vilão, do bandido. A imagem que se perpetua.
   Significados, nós inventamos. Assim como regras, assim como padrões. O que se inventa, o que se cria, o que vem de nós, é falho. Falho e mesquinho. E tem a imagem da perfeição.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Reflexo

    Poderia ficar aqui sentada na frente do espelho o dia inteiro. Não é egocentrismo. Muito menos narcisismo. Apenas uma tentativa de me encontrar.
    Já não reconheço nesses traços nenhum conforto. Os gestos não são meus. O sorriso tão pouco. Os olhos? Esses estão perdidos, sem eira nem beira. Ora alertas, ora desatentos, logo são inundados. Inundados por sonhos, promessas, conquistas, perdas, feridas. São inundados por aquilo que eu sou. E o que fica é tudo aquilo que eu menos gosto. 
    E já não quero que me acompanhe. Tento achar um jeito para que a imagem se prenda no espelho. Essa não sou eu, não são os meus pensamentos e os meus sentimentos que dão vida à essa imagem amargurada. Que ela fique presa, que não se liberte. Que seja mais uma máscara, mais um reflexo, abandonado em um canto qualquer.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Caixinha de Surpresas

   Há tanto para entender, em tão pouco tempo. E nem sei se há tanto assim para se entender. Ando tentando compreender essa linha tênue que difere sonho e realidade. Certo e errado. Verdade e mentira. Isso que nos cerca, que nos acompanha, que nos move, que nos difere, e que passa despercebido, e que vai se completando.
   Não sei se consigo entender todos esses limites. O que difere a verdade da mentira? O certo do errado? O que separa o sonho da realidade?
  Tantas vezes a realidade se torna um sonho, o sonho um pesadelo. Tantas vezes me pergunto se sequer estou acordada. Quantas vezes já me parei no meio de um pensamento, tentando entender se aquilo estava certo. O que era o certo.
   O que consigo entender, o que consigo tirar disso tudo, é que nada disso realmente existe. Como muitos, como a maioria erroneamente faz, tento encaixar tudo em generalizações, criar padrões. Mas um dia me convenço que a vida não é padronizada, nem tem como ser. Podemos até tentar, mas como aberrações da natureza do jeito que somos, pensando e sentindo, não tem como obedecer uma razão.
   "A verdade é uma terra sem caminhos", já diria Krishnamurti, ela é relativa. 
   Meu maior defeito é tentar entender, tentar achar os porquês, os motivos ocultos em palavras e atos. Tentar entender os mecanismos que movem essa caixinha de surpresas que nós chamamos de vida. 

domingo, 18 de setembro de 2011

Aulas de Física

    Certa vez, para explicar uma matéria, meu professor de Física disse o seguinte: "Tudo depende do referencial". Eu não poderia imaginar como tudo se encaixa nisso.
    Verdade e mentira, certo e errado, costumes, sentimentos, sofrimentos, alegrias. Tudo isso depende do referencial.
    Porque, no fim, nós é que inventamos. Nós é que determinamos um padrão, algumas regras. Nós é que determinamos o que é certo, o que é errado, o que torna-se verdade ou mentira. E esse padrão, essas regras, é o que deveria fazer  tudo mais fácil.
    Mas querem saber de uma coisa? Para quem pensa, para quem tenta achar o que é certo e errado, o que é verdade e mentira, torna-se um desafio. Nada é certo, não há uma constante. É tudo uma grande incógnita. Cada segundo, cada suspiro, cada sentimento ou pensamento, nada é certo. Não há uma verdade única e absoluta. Não há uma atitude que seja inteiramente certa e errada. Não há como generalizar, como padronizar tudo. Como estabelecer um padrão de pensamentos, de sentimentos, se nem nós, em nosso íntimo, possuímos certeza daquilo que somos. Podemos ter certezas, ter objetivos concretos, ideias enraizadas, mas nem isso conseguimos verbalizar. Tudo o que sai, é a essência. 
    O que sei, o que sinto, o que penso, depende do referencial.

Uma mania

   E eu tenho essa mania de colecionar cheiros. De colecionar sonhos, palavras, abraços, letras, sorrisos. 
   Mesmo quando o cheiro se desprende da roupa. Quando os sonhos se vão. As palavras se calam, os sorrisos se fecham. Mesmo assim, eu os guardo.
  Porque ficam gravados na mente, lembrança constante do que se foi. Lembrança daquilo que nem foi.
  Lembrança, inspiração. E torna-se pérola, poesia,  preciosa. E não necessário. E inesquecível. 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

"Parabéns pra você"

    Aniversário é, como bem sabemos, a comemoração de um dia especial, de ano em ano. Então se nos reunimos para festejar a data de nascimento de alguém, isso quer dizer que aquelas pessoas que estão ali se importam com o aniversariante, e esperam e desejam que aquele momento se repita por muitas e muitas vezes.
   Hoje, eu não pude estar aí, reunida com você, Laryssa. Por aqueles motivos que nós conhecemos tão bem. Mas eu fico aqui, te desejando tudo de bom, te desejando felicidade, saúde, paz. Fico aqui com uma vontade doida de te abraçar, poder cantar bem alto "parabéns" e puxar sua orelha 16 vezes!
   E se eu não estou aí, com você, junto com seus outros amigos, junto com aquelas outras pessoas que te amam, não é porque eu não me importe. Não é porque eu não goste do mesmo tanto. Eu gosto, Laryla. Muito.
    Porque se existe aquele papo de alma gêmea, a minha só pode ser você. Não no sentido romântico, é claro. Mas eu sei que, amiga e irmã como você, não acho, nem que procure por mais dezesseis anos. Amizade como a nossa, Lary, nem distância nem saudade nenhuma separa.
    Eu te amo, Gêmea, e desejo pra você tudo de bom, todos os sonhos, toda a felicidade, porque você merece. Não só hoje, como todos os dias da sua vida.
    Então, parabéns pra você, por ser essa pessoa especial, divertida, fiel, companheira e muito, mas muito amiga mesmo.
    Amo você.

O poder de não fazer nada


    Anualmente nos reunimos para lembrar da morte daqueles que já foram de forma trágica, inesperada. Gastamos incontáveis quantias com monumentos, com homenagens, tudo para "aplacar a dor que se reproduz no âmago das famílias que perderam seus entes queridos". Nos esquecemos daqueles que ainda possuem uma chance, uma chance de mudar esse destino que nós mesmo determinamos. 
    E, sinceramente, eu não culpo aqueles que nem lembram, que estão mais preocupados com que cor de tênis vão comprar na próxima semana. Porque, infelizmente, nós não podemos fazer nada. O que nós podemos fazer? Se para ajudar alguém assim, em um parâmetro mundial, aquela linda história do beija-flor nada vale?
    Nós damos o título de nação poderosa para alguns países, países esses que tem o poder de fazer alguma coisa, que tem o poder de intervir. Mas que, com o orgulho ferido, por uma questão de prioridade, desfrutam também do poder de não fazer nada.
 

Autorretrato

    Lápis preto, all star, mangas compridas, livro, música, músicas, livros. Frio, chocolate, filmes, abraços, amizade, lealdade. Risadas. Risadas altas, disfarçadas, bobas, sem motivos, com motivos, compartilhadas, isoladas. Felicidade. Infantil, bobinha, otimista, madura? Pensativa, sonhadora, romântica, poeta? Não, não. Ouvinte, falante, apaixonada, orgulhosa, teimosa. E sim, curiosa. Avoada, desastrada, bailarina, impulsiva. Apaixonada, confusa, tonta, decidida. Frágil, confiante, chorona, sagitariana, chata, amiga.
   Eu? Então, sou contradição.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Herança

    Complicado falar sobre aquilo que é nossa origem. Complicado falar de história, de costumes, de heranças. Até porque, além da própria vida, é o que nós temos de mais valor.
      A família.
    Engraçado como, hoje, até isso nós banalizamos, generalizamos. É dela que herdamos gostos, sentimentos, preconceitos, costumes, história. É nela que nos sustentamos.
    Engraçado também como algo tão simples pode ser relativo também. Família está só no sangue? Aquele primo de quarto grau que você não sabe nem ao certo o nome, é família também?
    Costumo dizer que família são aqueles que conhecem minhas manias, que conhecem meus defeitos, que estão comigo todos os dias, se não fisicamente, em pensamento. Família para mim, é que me dá uma base, sustento. São aqueles que eu tenho certeza que quando eu cair, estarão lá.
    Por isso eu não entendo esse papo de desvalorizar a família, de esquecer, de dar as costas. Como, se o que sou, devo à eles? 
    Se quer um conselho, uma sugestão, não abandone a família, é ela que vai te acompanhar em cada passo, em cada jornada. Os amigos estarão lá. Os namoros e os colegas também. Mas a família não te abandona, ela te acolhe, te entende, te ensina. É dela e com ela que se perpetua toda uma história, numa eterna herança de cumplicidade, carinho, ensino, companheirismo e amor.

Obrigada, família, por estar do meu lado, por me ensinar, por me entender, por me ajudar, e por me amar, incondicionalmente, de um jeito que ninguém mais poderá.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Melhor Amigo

   Eles são muitos. Grandes, pequenos, gordos, magros, novos, velhos, interessantes, chatos, românticos, informados. De todos os gêneros e espécies. Tem para todos os gostos. E todos eles tem a mesma capacidade de se tornar seu melhor amigo.
   Para mim, não há conforto maior chegar no meu quarto e os ouvir chamando, ali da estante. Alguns eu nunca li. Outros já li e reli tantas e tantas vezes. Alguns leio toda vez que tenho um problema. Outros eu li uma vez e bastou. Alguns eu guardo com carinho, por ter sido um grande companheiro.
  Alguns deles tem fadas e gnomos. Outros tem personagens tão reais como você e eu. Alguns até contam histórias tão parecidas com a minha, que eu acho ali um conforto e um carinho gigantesco. É neles que acho grandes amigos. 
   Naquelas histórias de amor, de suspense, de terror, de dia-a-dia. Naquelas poesias tão bem construídas e aceitas. Naquelas palavras que me acolhem como se eu fosse mais uma história a ser contada.
   Em dias de frio, de solidão, de calor, de alegria, de tristeza, de cansaço, de correria, dias de todos os jeitos. Haverá sempre um livro debaixo do braço, do travesseiro, na escrivaninha.
   Porque dentro daquele universo fictício eu me encontro. Ali dentro eu sinto, dou risada, choro, sinto raiva, sinto alívio. Dentro dessa outra dimensão não há dúvidas de quem eu sou. Porque nele posso ser o que eu quiser. Ser poeta, ser bruxa, ser guerreira, ser amante, ser princesa.
   Meu melhor amigo? Tenho tantos! E o principal deles, tem uma brochura velha, já. Páginas gastas de tanto ser viradas e reviradas. Tem algumas orelhas, algumas manchas. Meu melhor amigo tem alma de poeta. E tem minha alma presa ali também. 

Hipocrisia

    Palavras não bastam. Vontade não basta.
    Quer um conselho? Querer não é poder. Quem acredita nem sempre alcança.
    Só querer e só acreditar não vai te levar em lugar nenhum, tem que levantar e lutar, só esperar acontecer não basta. Se é algo que você quer mesmo, então corra atrás.
    Conselhos hipócritas, é verdade. Se me perguntar, também não os sigo. Mas tento. E sei que força não nos falta. 
    E repito isso mais para mim, do que para vocês. Mas pensem. São os atos que movem o mundo. As ideias são só isso, ideias. Ficam presas na cabeça, ficam agarradas no papel. Mas não ganham forma e conquistas se não virarem atos. Atos que tem que ser regados de convicção, força, paixão e vontade. Sem isso não se alcança. Sem isso não se luta, e não se ganha. No final da batalha, não existem perdas e vitórias. Se ganha e se perde dos dois lados.

domingo, 4 de setembro de 2011

Conselho

   Eu levantei para olhar o céu nublado, que escondia minha grande amiga. E quando as nuvens se dissiparam, eu a vi. E não pude deixar de sussurrar “Boa noite, Lua.
    Eu comecei a tagarelar, sobre todas as coisas que me afligiam. No meio do desabafo, um novo pensamento trouxe à tona uma nova onda de lágrimas. Que tipo de pessoa era eu que chorava apenas por chorar, para tirar da alma um peso que eu nem sei por que pesava. Sentia-me culpada, há nesse mundo tantas lágrimas mais dolorosas do que as minhas. Fiquei pensando nas pessoas que choram por falta de comida, de abrigo, de amor, de atenção. Que choram por seus filhos, por seus pais, que choram clamando por ajuda. E nós não podemos ver suas lágrimas. Não podemos abraça-las e prometer que tudo ficará bem. Naquele momento, me senti uma inútil, sentada encarando o céu. Encarando já sem ver, pensando em como impedir que não houvesse mais lágrimas de tristeza, de raiva, de ódio. Desejando poder plantar no céu um arco-íris eterno, pintando nossas vidas nas mais diversas cores, nas mais quentes esperanças. Gostaria que um dia minhas palavras chegassem a quem precisa ouvir. Gostaria que me ajudassem a solta-las ao vento, para que chegasse aos ouvidos de quem precisa ouvir, de quem precisa de uma palavra de carinho, de atenção, de acalanto.
   A tristeza é passageira. Pode não parecer assim, pode ser que pareça algo eterno, que vai consumindo cada outro sentimento e plantando agonia em seu lugar. Mas acredite em mim, ela irá passar. Haverá um dia em que o sol brilhará mais forte, e em seu coração morará um sorriso eterno. Um riso de fada, uma canção inesquecível. Haverá um dia que você verá como as lágrimas secaram e em como todo o mundo parece mais vivo. Porque não há tristeza que não sucumba à frente de um sorriso. Então não esquente, levante e sacuda a poeira. Sorria, o mundo te espera de braços abertos para ver o seu sorriso incandescente.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Entre perdas e ganhos

A estrada de terra.
Infinita estrada de terra.
Entre campos verdejantes e a mata mineira, 
passou a estrada de terra.
A enxada e a roça.
A roça e as estrelas.
A roça e a família.
A roça e a estrada de terra.
Virou asfalto.
Asfalto quente, suado.
E o tempo escorrendo por entre os dedos.
Flor do mato que amadurece, cachoeira que corre.
Entre perdas e ganhos se deu a vida. 
E ficou para trás a estrada de terra.
Camisa xadrez, jaqueta e chapéu na cabeça,
mais uma lembrança da famosa estrada de terra,
mais uma lembrança de respeito, de carinho;
Do nosso sentimento patriarcal.
E em bifurcações, encontram-se:
Asfalto e Estrada de Terra.
E conduzem para a roça,
para os campos verdejantes, 
para o pasto infinito.
E aqui ficam as cachoeiras.
E aqui fica a camisa xadrez.
E aqui fica a estrada de terra.
E ficam eternos e enternecidos,
o carinho e o respeito.


Descansa em paz.

domingo, 28 de agosto de 2011

"Sundae"

Dia cinzento, cheio de vírgulas.
Dia de palavras engasgadas, 
sonhos projetados, 
estudos evasivos, 
fugas imaginárias.
Dia de reflexão.
Dia de nostalgia.
Nostalgia que se derrama e logo escorre por entre os dedos;
Dedos que procuram por qualquer sinal na escuridão;
Escuridão que pende inerte entre aquilo que sou e aquilo que fui.
E aquilo que fui surge em rompante no meio do mar,
Sem farol que ilumine, que ache ou que acompanhe,
E então submerge no mar de memórias, 
Memórias, névoa, sonho.
E desperto. E então existe paz, paz entorpecida, mas paz.
E o dia se consome.
E o sorvete derrete ali, em cima da mesa.

A arrumadeira

    O  Senhor entrava, cumprimentava todos com um maneio de cabeça, guardava sua maleta no escritório e sentava-se à mesa.
    A Senhora descia de seu quarto, com os olhos no chão, e sentava-se ao lado do marido.
    As Crianças voltavam do quintal, correndo, e sob o olhar severo do pai se colocavam à mesa quietas, esperando.
    E então comiam em silêncio. Vez ou outra faziam um comentário qualquer sobre o dia, como mandava bem o roteiro, tudo bem ensaiado.
    E eles nem percebiam que eu estava ali, e que sabia cada movimento. Parecia uma daquelas sensações de déjà vu, mas não era. Era só o jeito que aquela família era programada.
    E eu poderia não estar na sala, e saberia que o Senhor assim que terminasse voltaria para o escritório. Que a Senhora pegaria outro livro para ler no quarto, e as Crianças assistiriam qualquer coisa que estivesse passando na televisão. E assim as horas avançariam, e as Crianças subiriam para dormir. O Senhor também iria para a cama e já encontraria a Senhora dormindo.
    E quando a casa despertasse, cada um iria de volta para a sua rotina. O Senhor para a empresa. A Senhora para a loja. As Crianças para a escola. E eu ficaria em casa, arrumando tudo.
    Em outras casas que eu trabalhei, a rotina era a mesma. Arrumar as camas, lavar a louça, lavar e passar as roupas. Varrer a casa. Sempre a mesma. Com exceção daquela primeira.
    Fernando chegava de noite, isso era certo. Mas não tinha uma hora exata. Chegava e beijava a mulher, Luiza, que costurava alegremente em sua cadeira. Os dois então pediam licença e se retiravam, e eu ia terminar o meu trabalho. De manhã cedo, Fernando ia para o colégio em que dava aula, e Luiza para o hospital, onde era enfermeira. E quando os dois saíam, eu tinha ainda mais coisas para arrumar. Eu tinha seus sonhos presos nas paredes, tinha seu amor impregnado em cada roupa de cama, e sua esperança presa em cada peça de roupa. E eu organizava tudo com muito carinho, limpava tudo com muita dedicação, até que um dia eles chegaram juntos. Felizes juntos. E me disseram que eu os ajudaria a arrumar tudo, porque não morariam mais ali. Agora eles tinham uma nova esperança à caminho, e se mudariam para outro lugar.
    E os que vieram depois, não me deram trabalho. Não tinham sonhos, nem paixões, nem esperanças, nem desejos. Não tinham nada. Só tinham sua rotina. Só tinham seus trabalhos. E um dia após o outro, pareciam mais e mais com marionetes muito bem ensaiadas. Ou melhor, cada dia mais como bem programados robôs.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Eternos Beatles

    Me considero uma pessoa carente.
    Isso é ponto pacífico, não tem com o que resistir. Sou carente de estímulos, de sentimentos, de livros, de pensamentos, de novidades, de cores, de amizades, de sonhos. Sou carente de tanta coisa que nem sei ao certo o que listar direito.
    Eu tenho carência de atenção, e acho que esse é o sentimento mais egoísta que eu posso ter.
    Porque às vezes eu preciso de alguém que fique do meu lado. E não precisa de ser muito. Não precisa dizer muito. Não precisa dizer "Eu te amo" e nem prometer "Para sempre". Não precisa matar ou morrer por mim.
  Não preciso de alguém loucamente apaixonado, nem de alguém que não se importe. Não preciso de promessas, de garantias, de mentiras.
    Eu só preciso, como bem diriam os Beatles, de alguém que segure a minha mão.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Aquelas conversas que ganham o seu dia


Vie diz (21:37):
*pronta pra começar uma nova pagina na sua vida?
Ana diz (21:37):
*não sei
*acho que sim, né
*se vc, o Lu, a Yara, a Lari, a May, a Lary, a minha mãe, e todo mundo que eu gosto mesmo e que me dá força tiver do meu lado
*Sim, mais doq pronta
Vie diz (21:38):
*saiba q pod contar cmgo, estarei ao seu lado, pro q der e vier!

É, eu sei que posso contar com você. E você também pode contar comigo, sempre.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Presente

    Era uma vez uma garota que já não sabia nada. Não sabia se o dia de ontem não passou de um lindo sonho ou um terrível pesadelo. Ela já não sabia o que esperar do dia de amanhã. Se prendia a tudo e qualquer coisa que mantivesse sua mente longe dali, em um lugar onde nada era totalmente real, nada durava, mas nada acabava. E assim, ela não sabia mais o que ou quando era o hoje.
   Até que ela foi perdendo. Foi perdendo a vontade, foi perdendo o sono, foi perdendo seus gostos. E ela vivia como que por instinto, respondendo e rindo, estudando e sonhando, mas não era mais nada certo. Tudo era como que em sonho. E então ela conheceu alguém.
    E ela conheceu esse alguém e já sabia que seria como sempre. E sabia que eles não teriam laços. E sabia que assim como os demais, esse alguém se afastaria quando percebesse o quão perdida ela estava.
    Mas algo de surpreendente aconteceu. E talvez isso tenha feito essa nossa garota a acordar. Esse alguém, de uma hora para a outra, tornou-se um amigo. E não um amigo qualquer. Um amigo que sabia falar as palavras certas, nos momentos certos, sabia como fazer a nossa garota feliz, sabia como fazê-la pensar.
    Até que um dia ela se achava mais perdida do que o normal. Porque além de fugir, ela começou a ter uma mera visão do hoje, e tudo a assustou. Ela começou a se tornar ciente de toda a realidade que a cercava.
    E ela buscou abrigo em seu novo amigo. E ele docilmente disse: "O que importa é o seu agora, não é a toa que chamamos ele de presente. O que esta por vir, sempre sera uma interrogação, mas uma coisa eu garanto hoje ou amanha eu vou estar sempre do seu lado".
    E ela entendeu. Entendeu o que seu amigo quis falar. O dia de hoje é um presente, nunca irá existir um dia como esse. O passado nunca irá se repetir, e o futuro... Esse é uma incógnita, e descobrir antes do tempo pode se tornar extremamente frustrante.

P.S.: Obrigada, meu amigo, por essas e outras palavras que me fizeram tão bem. Eu espero, um dia, poder te retribuir tudo isso!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Reformas

    E o que é amor? E o que a gente acha que é amor? Será que tem diferença, tudo isso? O que esse sentimento é, é a gente que determina? Ou nós só sentimos? Ou nós só achamos que sentimos? Ou nós só damos um nome, alguns sintomas, estabelecemos algumas regras. Mas precisa de regras? A sociedade já não é cheia de regras que nós "precisamos" seguir? Fale isso, aja dessa forma, não diga isso, não julgue, não fale, não sinta, não retruque.
    O que nós sentimos agora é amor? O que nós sentimos agora é amizade? O que nós sentimos agora é raiva? Ou os sentimentos mudaram? As músicas mudaram. Os filmes mudaram. Os conceitos mudaram. As paisagens mudaram.
    Lá no centro pintaram o teatro, tudo mudou. E o amor, mudou?
   

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Meu refúgio

    Minha vontade às vezes é de acreditar que elas existem. Talvez fosse mais fácil, e soasse mais verdadeiro do que certas coisas que eu "acredito".
    Parecia uma coisa tão fácil, acreditar. É só ter fé. Mas ter fé em quê? Tudo parece falso. Eu me sinto falsa, fingida, forçada. Dou sorrisos que não existem, digo palavras que não são minhas e uso gestos que não são meus. E é nessas horas que eu volto a repetir. Seria mais fácil acreditar que elas existem.
   Elas quem? Ora, aquelas que todos nós, pelo menos uma fração de segundos já acreditaram. Nas fadas.
   Fadas que tomavam conta dos sonhos, das brincadeiras, dos desenhos, das canções. Fadas que eram puras, lindas, perfeitas. Que eram invariavelmente felizes. 
    E nessa loucura toda de fé, de acreditar, de motivos e propósitos é quando eu tenho vontade de sair no jardim e procurá-las. Dançar junto com os vaga-lumes, deixar bolo para elas nos ninhos de passarinho, construir uma linda casa, dar bom dia às borboletas, e pedindo que enviassem recados às amigas.
    Com todos esses desejos, com toda essa ânsia de acreditar e de achá-las, com toda essa loucura de ser criança, de ser adulta, com toda essa confusão, perdoe-me se eu me perder para sempre na Terra do Nunca, em companhia de Peter Pan, dos índios vermelhos, do velho Hoock, para me tornar, de uma vez por todas, uma delas.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Timidez

    Alguns de nós sofremos de um mal que, de tão comum, passa desapercebido: a timidez. Por esse motivo, criei uma nova página do blog, para aqueles que, por dificuldade ou escolha, não publicam seus pensamentos em uma área, digamos, "restrita".
    Para quem se interessar em ter seu texto publicado, pode mandar para o e-mail ana.eliza.95@gmail.com, e se for pertinente, será publicado.
    Antes, esclareço que eu não o julgarei certo ou errado, apenas verei se tem um tema adequado e não fale "bobagem". A consciência de cada um sabe julgar o que é bobagem ou não. 
     Também não o publicarei imediatamente. Não preciso dizer que tenho minhas outras atividades, e ler, corrigir e publicar, o seu e o meu, demanda um tempo.
     Obrigada, desde já, pela cooperação.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Plantada

     Todos os dias eu a ouvia sussurrando. Não a toda hora, pois era bem baixinho, quase inaudível, só escutava mesmo quando não tinha mais nenhum barulho. Podia muito bem ser confundido com o ruído do vento, ou o farfalhar das folhas. Eu só sei que eu ouvia, e nunca prestei muita atenção. Às vezes eu tenho isso mesmo, escutar e ver coisas que não passam de vontades minhas sendo produzidas pela minha cabeça. Então eu a ignorava. E acho que um dia ela ficou brava por isso.
     Nesse dia em questão, ela conseguiu me acordar, bem de manhãzinha, quando nem os passarinhos pensavam em sair de seus ninhos e só os corajosos saiam da proteção das cobertas. Eu, exasperada, fui até a janela e gritei para a vozinha: "Então, o que você quer? Se queria me acordar e me tirar da rotina, já conseguiu".
     Mas a vozinha se calou. Não me chamou mais, e eu acabei fechando a janela e caindo no sono. Mas eu passei a sentir falta do sussurro. No terceiro dia, porém já tinha esquecido esses pequenos acontecimentos.
     Até que um dia eu ouvi, mais fraquinho que o normal, como alguém que chama mas não sabe ao certo se a pessoa vai virar, e eu lembrei de tudo. Sai correndo ao seu encontro e a vi pela primeira vez.
     Ela era alta, bem alta, imponente, e mesmo assim, já velha. Com algumas manchas em seu corpo, e uma parte já quase consumida, sua folhas ainda brilhavam com alguma vigorosidade. Apesar de antiga, a velha árvore agora se mostrava cheia de orgulho de si, e me chamou para sentar.
     Sentei em um de seus galhos que mostravam mais conforto e segurança, e fiquei olhando para a rua, e ela começou a conversar comigo.
     Até hoje não acho que tenha sido uma conversa, acho que foi só um desabafo. A velha árvore me contou sobre tudo aquilo que ela já tinha visto ali, ao pé daquela rua. As pessoas que passaram por ela, altas, gordas, magras, baixas, felizes, apaixonadas, amarguradas. Me contava de certa prisão que ela presenciara. Contou de um casal apaixonado, que vinham se encontrar todos os dias, sob sua sombra. Me contava sobre um companheiro cachorro, que ia até lá todos os dias, mas hoje não aparecia mais. Contou sobre um amigo que se pendurava em seus braços por todos os dias, mas que depois cresceu e sumiu.Contou tudo o que ela tinha aprendido até aquele dia. Sobre todas as culturas que ela conhecera, mesmo sem poder sair dali. Contou sobre tudo aquilo que ela aprendeu, sem ter que ter aula alguma. E contou como os dias amanheciam mais bonitos, apesar de tudo o que acontecia pelos arredores. Apesar de toda a violência, apesar de toda a ignorância, não tinha um dia que ela não pensava em como era bom estar ali, naquela rua, ao observar aquelas pessoas que, mesmo passando por ali todos os dias, ou mesmo sendo desconhecidos podiam ensinar tanto, apenas com um olhar, apenas com um gesto.
     E depois, quando o silêncio tomou conta de sua conversa, eu perguntei porque ela me contava tudo aquilo. Ela respondeu que, apesar de ter passado sua vida inteira ali, parada, só observando, o que ela aprendera valeu a pena, e agora, que ela não tinha mais garantias do dia de amanhã, ela precisava contar para alguém.
     Eu ouvi a minha amiga, ouvi e por muitos dias voltei só para sentar em seus galhos e olhar o movimento da rua. Ela já não me contava nada. Vez ou outra apenas fazia um comentário, e eu também não fazia questão de atrapalhar suas reflexões.
     Hoje, tiraram a minha árvore dali, não posso mais me sentar ao seu pé ou em seus braços e lembrar daquilo que ela me ensinou, ou observar aquilo que me ensinava cada dia mais. E sinto falta de minha amiga.
     Se continuei a ficar ali, parada, vendo a vida passar? Não, não continuei. Se aprendi observando, aprendi vivendo também. Mas isso não significa que minha amiga não teve os maiores sonhos, os maiores ensinamentos, as maiores alegrias plantada ali, ao pé da rua, vendo o mundo mudar.