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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Carta de Inverno

São Paulo, 15 de setembro de 2014

Ilustríssimo senhor São Pedro,

o Senhor bem sabe que não sou de pedir muito. Até porque não tenho muito o que oferecer em troca... eu poderia dar pulinhos e gritinhos. Ou desvirar sua imagem depois de mergulhá-la em água. Ou até rezar alguns pais-nosso e ave-marias.
A verdade é que o pedido é por mim, pelo Senhor e todos os interessados.
Mande chuva...
Chuva para molhar os campos e as represas.
Chuva para abastecer as esperanças, que encontram-se na pior estiagem de todos os tempos.
Chuva para afogar os males que andam por aí incendiando os nossos sonhos.
Chuva para transbordar nos olhos das pessoas- que não sabem mais chorar diante tantas atrocidades.
Chuva para refrescar nossa memória... esquecemos nossa história! Repetimos os mesmos erros de novo e de novo.
Chuva para limpar as consciências e os rios: não sei dizer quais estão mais poluídos.
Chuva para cultivar a terra e as ideias, que andam tão escassas! Andamos carentes desses frutos e a feira é cara...
Chuva para florir os corações, que estão já quase mortos, já quase inertes, precisando de chuva, precisando de cor.

Mande chuva, São Pedro!
Mande água.
Mande vida.
Mande Luz!

                                                           Com todo o respeito, e toda urgência,

                                                                                                   uma Devedora