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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Ansiedade

De vez em quando dá saudade, verdade!
Deve ser vaidade,
pura insanidade!

 Uma rima boba do coração.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Visita

Olhando da varanda vi meu passado chegando de pés descalços
Ele deixa um fardo ao pé da escada:
um beijo
desconfianças
flores
esperança.
Sai chutando as pedrinhas do caminho,
aponta pro céu e dá risada
(como se só as nuvens pudessem nos reconhecer como um só).
E vai como se não me reconhecesse.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Extrema-unção

É um pouco mais que lágrimas;
um pouco mais que cristal;
um pouco mais que recordações;
um pouco mais que flores;
um pouco mais que essa claridade que cega
                                                     que arde
                                                     que indigna;
um pouco mais que dor;
um pouco mais que absolutamente tudo
(quando tudo parece um grande poço vazio);

É um pouco mais que despedida:
é o sepulcro de um anjo.

sábado, 14 de setembro de 2013

sábado, 24 de agosto de 2013

Chrónos

Começa.
Tudo tem um começo.
Tudo seria nada, sem um começo.

Desenvolve.
Nem tudo se desenvolve.
Algumas coisas ficam pelo caminho.

Termina.
São poucos os que terminam.
O fim é relativo.

Começa.
Tudo recomeça.
Do fim, se faz começo.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Comparações

Não é a dor de alívio, como quando tomamos um banho quente com o corpo gelado.
Não é a dor de ansiedade, como quando o coração palpita no peito como a asa de uma andorinha.
Não é a dor de tristeza, que nos atinge como uma lança.
Não é a dor de raiva, que queima a garganta como um marcador em brasas.

A dor da decepção é fria. Ela parece não vir de lugar algum e, depois de anestesiados, nos perfura e nos queima em todas as partes. Saímos marcados.
Decepção é como cair, como cair do próprio pedestal onde antes algo tão querido estava guardado.

Decepção é fria. Não tem cheiro de fumaça, mas tem som de vidro quebrado.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Antes só...

Tenho pânico da solidão. E da convivência desnecessária.
Não enterrei meu coração na beira da estrada, tampouco na curva do rio. Carrego uma parte no peito e entrego as outras à pessoas brilhantes.
De olhos brilhantes, auras brilhantes.
Entreguei uma parte de meu coração e, sim, olhei para trás. Mas descalcei os sapatos e voltei para casa. Atravessei na faixa e olhei os dois lados.
Tenho medo do asfalto assim como dos grilos no silêncio da noite, quando a música se calar.
Tenho pânico da solidão. E da convivência desnecessária. 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Conto de Fada

Eu achava que, quando crescesse, ficaria mais fácil lutar contra o Lobo Mau.
Tem se tornado uma batalha mais e mais difícil a cada vez.
O Lobo Mau se esconde atrás das câmeras, atrás das câmaras. Ele me espera nos hospitais, nas delegacias, nas salas de aula, dentro de casa, dentro de mim. E cada vez que eu tento levantar a voz, sua bocarra parece se abrir precipitadamente mostrando incisivos inflacionados e caninos corruptos, suas garras me arrancam toda a saúde e a educação, e já não sei mais o que dizer para que pare.
Mesmo gritando em várias direções, mesmo que minhas mãos queiram arrancar-lhe os pelos, sei que tenho que manter a mente limpa e gritar "Basta"!
Parece tão difícil, eles parecem vir de tantos lados!
Aos poucos as tantas vozes vão se reunir em uma única. Aos poucos os Lobos vão se cansar de me ouvir gritar e berrar e pedir e implorar e os importunar, e voltarão aos livros de monstros, de onde eles não deveriam nem ter saído.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Constelações

São belíssimas, as estrelas.
Ainda mais quando brilham assim, como as minhas, dentro de mim!

É realmente engraçado, como isso acontece. Você toma para si algumas risadas, algumas confissões, uma ou outra trapalhada, vários abraços e beijos... E pronto! Ali dentro de você nasce uma estrela.
Eu tenho três. Uma constelação, se for parar para ver... brilham como pouquíssimas estrelas podem e me preenchem com uma luz tão gostosa, um brilho tão intenso, que nada mais poderia apagá-lo.
Quando fecho os olhos, elas ainda estão lá. Quando abro um sorriso, aí estão novamente. E, mesmo quando distantes, mesmo quando suas órbitas se afastam para outros quadrantes, sei que com elas vou iluminar até a noite mais escura, até os abismos mais profundos e os medos mais sombrios.

São belíssimas, as estrelas.
Ainda mais quando podem brilhar ao nosso lado, a um abraçar de corações.


Alice! Clara! Suemy! Esse é o pouco que eu posso fazer para agradecer o muito que vocês fazem por mim. Obrigada, por tudo. Com todo o carinho do meu coração,da Aninha, de vocês <33

sábado, 25 de maio de 2013

Passeata

Tudo passou:

A dor de João,
a novela de Lúcia,
a camisa de Margarida
e o cafezinho de Lucas.

Passou o passarinho de Mário,
o tempo de Vinicius,
a aquarela de Toquinho
e a banda de Chico.

Tudo passou e eu fiquei, passeando.

Vendo passarinhos e passarões descolorindo nas aquarelas, vendo a banda passar cantando coisas de amor.

Tudo passou e eu fiquei, passeando

esperando passar

domingo, 19 de maio de 2013

Paquidermes

São só elefantes cor-de-rosa.
Todos eles.
Todos estes pensamentos:
insones,
perturbadores como a luz que entra pelas cortinas.
Toma para si parte do chão. Parte da sombra.
Da alma.

E assim que eu contar até três e apagar as luzes, serão só elefantes no escuro.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Sépia

Atrai-me essa meia luz:
essa luminária lançando sombras na cortina;
páginas e páginas como em um teatro de sombras.

Fascina-me esse sol de quatro horas,
no outono,
que faz tudo parecer brilhante.


E quando as sombras no caminho parecem resplandecer,
por entre as folhas,
há sempre um sorriso fosco.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Polissemia

Sufoco tudo o que penso.
Transformo tudo o que sou.
Transbordo naquilo que tenho.

Sufoco tudo o que tenho.
Transformo que penso.
Transbordo aquilo que sou.

Sufoco tudo o que sou.
Transformo tudo o que tenho.
Transbordo tudo o que penso.

E então, sinto.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Pinga

Chove.
Só chove, se é aqui dentro ou lá fora, pouco importa.
Pois só chove.
Não é tempestade, e nem garoa.
Não tem nada de poesia, é só a chuva.
Nada de prata,
nada de puro,
nada de nada.
Só chove.
Pinga, escorre e encharca.
Pesa.
E passa.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Eco

O CD pulava no rádio, fazendo o cantor engasgar nas mesmas sílabas, a música parada naquele instante onde a melodia se perde e a repetição torna-se irritante.
E eu não sabia porque não desligava o rádio. Na verdade, não sabia porque tinha o ligado, de princípio; tão mais fácil ouvir outras mídias.
A verdade é que só parte de mim notou a repetição desnecessária, a outra concentrava-se em outras repetições, mais irritantes e recorrentes.
Queria mesmo era salvar o mundo.
Salvá-lo de quem?, você pergunta. Não sei bem. Não sei nem se ele quer ser salvo, mas é a vontade que dá. Bem essa vontade,: de sair e mudar o mundo, salvar todo mundo. Da fome e da miséria, da guerra, da tristeza, da dor, da solidão.
Tão só, esse pensamento. Não tem eco, como a voz do homem no rádio. Pula na mesma nota, sem passar adiante.
Fazer o que, levantei e desliguei o rádio.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Uma questão de heroismo


O Rei, certa vez, cantou: "Se eu posso sonhar com um sol mais brilhante, e que a esperança continua brilhando para todo mundo, me diga, por que o sol não vai aparecer?".
Então me diga! Me diga quem é que teve a audácia de nos livrar do Sol? Da luz? Do calor?
Quem ousou deter para si, e só para si, o vital?
Quem nos fez de ratos, vivendo na sombra, vivendo de migalhas? Migalhas de ideologias, de respeito, de luz, de risadas, de esperanças? 
Quem ousou fantasiar-se de gato e, cinicamente, nos mandar escolher entre sua bocarra e a ratoeira? Ame-o ou deixe-o?
São só essas as nossas opções, ou há mais que podemos fazer? 
O Rei ainda canta: "E enquanto eu puder pensar, enquanto eu puder falar, ficar em pé, andar! Enquanto eu puder sonhar, então deixem meu sonho se realizar!". Nós temos o direito de sonhar e mais que tudo podemos realizar! Não há só a bocarra do gato, que nos oprime, ou a ratoeira, cujo queijo nos satisfaz enquanto o chicote estrala em nossas costas. Há mais que isso esperando por nós, se assim o quisermos e conquistarmos. Há lá fora a luz do sol, que brilha para todos.
 E Herói foi, é, e será aquele que escolher para si o calor do sol a acariciar, e não as garras do gato a arranhar.
Herói é aquele que vê o túnel sombrio para o lado de fora, onde é tudo mais claro, onde tudo é mais quente.
Heróis podemos ser, basta realizar.

Ao Rei.
Ao Kafka.
Ao Herói.

terça-feira, 12 de março de 2013

Florescendo

O essencial é invisível aos olhos, ainda mais quando escondido. Ainda mais quando confundido. Ainda mais quando encharcado de uma crosta de hipocrisias. Tornam-se invisíveis quando cimentam nossos sonhos, quando roubam nossas vozes ou projetam em nós as frustrações, talvez ilusórias, de um mundo em que não há mais sonhos, canções ou risadas.
O essencial torna-se perdido quando não há mais esperança no sorrir, no transformar, no acreditar: que podemos mais e faremos mais. O essencial torna-se ridículo quando o imediato fala mais alto. O essencial torna-se angustiante ao passo que o percebemos perdido, ridículo.
O essencial não está apenas no futuro, o essencial está em nós. O essencial está em um sorriso desperdiçado ou em um sonho que se persiga. Numa música que encante e numa criança que nos cative.
Deixa que sua criança volte a te cativar, essencialista. Deixa que se deixe sorrir. Deixa que se deixe dançar. Deixa que se deixe sonhar. Porque o que é de essencial torna o imediato muito mais gostoso.
Porque o essencial fica, cultiva, cresce e se multiplica.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Faz de conta

O dia amanheceu nublado.
A tarde só trouxe mais carregadas nuvens de chuva para a cidade, e os arranha-céus pareciam perder-se em meio ao horizonte.
Lá, na creche, ela resolvia os problemas no escritório: empilhava as contas, atendia os telefonemas e digitava relatórios. Os olhos no relógio só queriam que a chuva não caísse antes que ela pudesse voltar para casa.
No pátio, as crianças todas brincavam em baixo das nuvens, e quando ela por fim saiu do escritório, o pequeno Davi veio correndo em sua direção, com as bochechas rosadas e a camiseta manchada:
"Tia Ana, Tia Ana. A nuvem não quer chover, ó!". E apontava o dedinho para o céu. Ana sorriu.
"Não chove porque a gente não dançou!"
"E tem que dançá pra chovê?"
"Tem sim, faz assim ó"
Ana colocou as pastas de relatório de lado, abriu os braços e começou a meditar dando voltas no pátio:
"Chuva tá no céu. Chuva chove aqui! Chuva tá no céu. Chuva chove aqui! Chuva tá no céu. Chuva chove aqui!"
O pequeno Davi abriu os bracinhos e começou a dançar. Logo as crianças todas estavam entregues àquela meditação e não havia mais nenhuma barreira de idade imposta entre eles. Não havia mais contas, telefonemas ou relatórios. Só havia essa dança e essas crianças, que se entregavam à alegria de serem donas do mundo. Só havia as gotas de chuva molhando seus rostos e braços abertos.
E quem foi que disse que não pode haver magia?

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Solo

Não era a primeira bailarina e nem rodopiava sob um foco solitário de luz em um palco abandonado.
Saltava entre folhas secas e poças d'água, sujando a sapatilha. Não tinha os pés perfeitos e tropeçava entre os saltos e piruetas.
Mas era feliz.
E era perfeita, ali, onde as nuvens podiam aplaudi-la. 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Coleções

Há quem colecione selos. Outros, botões coloridos, clipes de papel ou retalhos.
De uns tempos para cá, tenho colecionado olhares; das mais diversas matizes, e dos mais diversos significados.
Um olhar, profundo como o oceano, inexplorável como o universo; depreende todos os segredos da existência.
Um olhar sorri, um olhar chora, um olhar é tudo aquilo que possuímos quando palavras e gestos são inexpressíveis.
Um olhar é tudo o que basta quando não há mais confiança em atos falhos ou em palavras vazias. Um olhar é o que sobra da mentira, é o reflexo que não se apaga da alma. É o que resta do transbordar de qualquer sentimento, é o princípio- e o nosso fim.

Nos olhares me perco, enxergando as almas.
E nas almas me afogo, em sua complexidade.
Na complexidade o acho, o vazio.
Do vazio o que sobra é um olhar- mais que vago.

Como é que pode. Tanta coleção, todas tão vagas.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Minha mina preciosa

Talvez nada mais possa se assemelhar àquelas árvores beirando a estrada.
Nada teria esse cheiro assim, de mato molhado, de memória. Nada seria como o caminho tortuoso pelo contorno desse Serra.
Piedade!
Tanta lembrança, brincadeira de criança! Tanta lembrança que talvez só caiba numa sopa- mistura antropofágica- que alimenta a memória.
Carinho; colo; carrapato; meditação; viagem; suspiro; estrelas; sorrisos. Três crianças. Três corações.
Talvez nada mais possa se assemelhar àquelas árvores beirando a estrada, minhas minas- lembranças- gerais. 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Presença

Não chovia, mas o asfalto encharcara-se e as calçadas estavam escorregadias. De olhos no chão, eu evitava o desfile sóbrio de guarda-chuvas.
- Tác!
- Moleque danado! Me assustou!
A senhora esbarrou em mim enquanto passava correndo para pegar o ônibus.
- Tác!
Eu mesma me assustei com a bombinha que estourou no meu pé; ergui a cabeça e ali estava.
No rosto rechonchudo, no sorriso infantil, no olhar arteiro. Estava ali, vivo ali.
Uma exaltação logo em frente, na rua, atraiu minha atenção. Três garotos vinham correndo, levantando pipas coloridas no céu nublado. Puxavam consigo o alaranjado esperançoso do pôr-do-sol, abrilhantando o final da tarde. Estava ali também, embrenhado em cada carretel, junto aos pés encardidos. 
Mais à frente, ao portão, trancinhas e vestidos esvoaçantes roubavam flores do canteiro para enfeitar os cabelos das bonecas Estava ali também, sempre esteve!
Estava ali, em todos os cantos; em cada par de olhos, em cada risada desinibida, em cada gritinho excitado e carrinho de pipoca. Está aqui, ali, e em todo lugar. Sempre esteve e sempre estará.
Afinal, é a infância que está morta ou nossos olhos que estão fechados?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Peça mais!

São Paulo merece mais!
Mais flores, mais verdes, mais céu azul. Merece mais flores!
São Paulo merece mais abraços, mais sorrisos, mais romances, mais amizades. Merece mais humanidade!
São Paulo merece mais música, mais dança, mais teatros, mais bibliotecas. Merece mais cultura!
São Paulo merece mais honestidade, mais verdade, mais atenção. Merece mais respeito!
São Paulo merece mais crianças, mais cirandas. Merece mais brincadeiras.
São Paulo merece mais paz, mais saúde, mais tranquilidade. Merece mais segurança.
São Paulo merece mais, sempre mais. Mais de você, mais de nós.
São Paulo merece o que cada um merece.
Merece mais sonhos, mais felicidade.


Parabéns São Paulo, parabéns paulistanos. 459, e pedimos muito mais.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Educação Moral e Cívica

Patriotismo. Eu nunca parei para pensar em como uma palavrinha poderia nutrir uma gama tão grande de pensamentos e confusões. Nunca parei para pensar, e admitir, que sinto falta disso.
Talvez eu esteja para repetir um discurso clichê, de reprodução de ditadura, de totalitarismo ou seja o que for, e talvez seja mesmo, mas é o que eu sinto, e o que eu pretendo explicar.
O que as aulas de Educação Moral e Cívica e O.S.P.B (Organização Social e Política Brasileira) pretendiam, quando obrigatórias no currículo escolar, até o fim do Período Militar? Engessar as crianças ao fazê-las decorar os hinos da pátria, seus símbolos, bandeiras e história?! Nunca fui à favor da "decoreba", mas eu consigo imaginar o quanto esse tipo de estudo faz falta dentro de uma sala de aula. O quanto esse conhecimento faz falta para aqueles que estão sendo formados lá dentro, os cidadãos! E a falta dessas aulas, talvez, seja uma parte do motivo para que não tenhamos mais aquela ideia de "Nação" e "Pátria". De "União" e de "Luta".
Não estou dizendo que devemos adotar os lugares comuns e reunir a família para comer feijoada aos domingos, para assistir ao final do campeonato de futebol ou curtir a apuração do carnaval no final da tarde, mas que aprendamos e ensinemos às crianças sobre aquilo de mais precioso que um ser humano pode carregar consigo: a nossa história!
Que aprendamos, de novo os que esqueceram e os que nem conhecem; e que ensinemos às nossas crianças o porquê dos símbolos, dos hinos. Que apresentemos à elas os nossos heróis, os nossos poetas e escritores grandiosos, nossos musicistas geniais. Que elas passem a entender que não nasceram e foram criadas sem uma nacionalidade. Somos uma nação não porque estamos dentro de um mesmo território, mas porque nossa história é a mesma e nossas raízes as mesmas. Somos todos fruto dessa terra e dessa história, somos todos frutos desse tempo e do que já foi, somos todos cidadãos e encarregados de lutar pela nossa pátria!
Se nós, que somos filhos dela, não lutarmos por ela, quem o fará por nós?
Se nós desprezarmos toda a nossa história e todos os nossos símbolos, não estaremos sozinhos, sem a quem nos assemelhar? Não estaremos sozinhos, lutando por ideais individuais enquanto muitos dos nossos no passado lutaram em nome da nossa liberdade? Da nossa cultura? Teria sido aquela uma luta em vão, para que nós, hoje, esqueçamos de tudo?
São tantas perguntas e tantas informações para assimilar, tanto para entender, para conhecer, para apreciar nesse nosso Brasil. E se não pudermos aprender a contemplar primeiro nossos campos e nossos bosques, cheios de flores e vida, se não pudermos contemplar nosso céu, tão bonito e estrelado, o que teremos? Se esquecermos dos nossos versos e das nossas melodias, quem lembrará por nós?
E não é isso que tem levado a humanidade à ruína? O eu individualista? A falta de uma nação unida? A falta de uma força de braços e cabeças que lutem juntas, pensem juntas, que sintam juntas e que amem juntas? 
E o quanto poderemos fazer sem conhecer nossa história? O quanto poderemos fazer sozinhos?
Há muito o que pensar, muito pelo que lutar, e para tanto um eu único com conhecimento ou uma legião de ignorantes terá a mesma força.
Aprender e unir. Talvez seja a hora de conjugar estes dois verbos em harmonia.

sábado, 19 de janeiro de 2013

O Sonho na Bolha


Seus pezinhos descalços e encardidos penduravam-se longe do chão enquanto alguns narizes sobressaiam às capas dos livros nas mesas adiante, indignados. 
Mesmo assim e sem se importar, a figurinha miúda e de olhos brilhantes, isolando-se ou isolada num cantinho da biblioteca, perdia-se nas letrinhas, achava-se nas histórias de princesas e saltimbancos; adorava aquele lugar de magia.
Ali não era proibido sonhar.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

"Ó capitão, meu capitão"


Daqui é tudo diferente.  Tudo parece mais claro, menos confuso, parece tudo se encaixar com precisão, uma precisão surrealista, mas mesmo assim... Daqui, do alto da Torre do Banespa, São Paulo parece ser mais lógica, mais viva; o mesmo caos, mas numa proporção mais bonita, reveladora.
“Esse prédio foi por muitos anos o maior edifício da cidade”. E mesmo assim, olha como os outros arranha-céus insinuam-se às nuvens!
“E aquele ali, logo na frente”, disse o monitor, “foi o maior nos anos anteriores”.
E mesmo os prédios se superam, se completam também em busca das estrelas.
 As outras crianças não parecem perceber: só se empurram e gritam atrás de mim, mas de uma forma improvável essa construção tão humana completa esse céu, tão divino. Um quebra-cabeça de cores, movimentos e formas tão suaves, de uma expressão tão forte que enchem os olhos da gente. De orgulho? Ou de pura emoção de ter algo assim, tão bonito, para ver e sentir?
E lá em baixo os pontinhos, que bem poderiam ser formigas, transitam enchendo a cidade de vida. Saturando a cidade com seus sonhos, suas certezas, seus medos, suas resoluções, suas lágrimas, seus sorrisos, seus amores e suas flores. Cada qual com sua vida, cada qual com seu olhar de olhar, orando às suas estrelas, entregando-se aos seus prazeres e obrigações. Cada qual lá em baixo olha o mundo diferente, apaixona-se e vive diferente.
Mas daqui, do alto da Torre do Banespa, tudo é diferente. A cidade é a mesma. A vida é a mesma.
Em uma perspectiva diferente.


quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Promessas

Fogos de artifício iluminaram o horizonte do bosque, e as duas sombras, já debilitadas e transparentes, escondidas atrás das árvores sabiam o que aquilo significava. Logo as novatas chegariam. 
E não tardou para que isso acontecesse, logo pipocaram aqueles novos seres por todo o bosque que, iluminado pelos fogos e pela lua tornava-se mais confortável do que uma hora antes fora, frio e sombrio, cinza e monocromático.
Os novos seres eram de cores mil, e mais quentes, mais fortes do que aquelas que já estavam ali, esperando.
"E agora, mãos à obra!", exclamou aquela criaturinha tão parecida, em forma, e tão diferente, em cor, das outras.
Eram todas iguais, aqueles pequenos seres de formas proporcionais, simétricas, pequenas, agudas. Eram todas como vidro, e a transparência translúcida de algumas delas denunciavam suas idades- e ideias.
"O que quer dizer, novata, com 'mãos à obra'?", perguntou uma das formas quase transparentes, "não há nada o que fazer aqui, se a força com que foi criada já se extinguirá quando as luzes no céu se apagarem. Não há o que fazer, só esperar com que fiquem como nós, transparentes, até se apagarem por completo também".
"Ora, e como pode ter tanta certeza?! Eu sou a Promessa de Amor! E essa aqui do meu lado, é a Promessa de Felicidade! Como pode ter tanta certeza que apagaremos? Que a força que nos criou não será o bastante para nos manter?"
"Porque eu mesmo já fui como vocês. Fui a Promessa de Paz. Aquele ali, que engorda mais a cada dia, a Promessa de um Corpo Enxuto. Acolá, a Promessa de Força, que se esvai a cada batida de coração. Por ali, as promessa de Leitura, de Estudo, de Dedicação, de Trabalho, de Sobriedade. E todas elas, todas nós, estamos desaparecendo. A força que nos criou, que você parece idolatrar tanto, não foi o bastante para nos tirar daqui, e nos levar até lá". A Promessa de Paz apontou para uma montanha, onde um lindo palácio de cristal brilhava à meia luz, refletindo as cores dos fogos, ora amarelos, ora vermelhos, ora um arco-íris resplandecente no céu.
"Ali, não somos promessa. Seremos realização. E mesmo assim, os que ali vivem não são em maior ou igual número que nós, que aqui ficamos, esperando".
"Esperando pelo quê? Não há nada que possamos fazer?"
"Esperamos por Ela. Ela que foi se aventurar no mundo dos homens, que já esteve no Palácio e por vezes ronda esse Bosque. Ela que mantém todas nós vivas, mesmo que debilitadas. Ela que alguns de nós pensam que é puro mito, já que não aparece há algum tempo. Esperamos que ela traga a força que nos manterá vivos e prontos para cumprir aquilo que nos foi incumbido, apesar da força que nos falta."
"E quem é Ela? Por quem devemos esperar, e saber que ainda podemos, que ainda teremos nossa chance no Palácio das Realizações?"
"Acreditamos nela, e esperamos por Ela. A Esperança".