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sábado, 29 de dezembro de 2012

Siderurgia

Do elo desfeito, a tristeza.
Da aliança sucumbida, o desespero.
Das fagulhas de uma promessa, a reciclagem.
Do medo, o combustível.
Da raiva, a fornalha.

Do [abr]aço me formo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Destino

Sou estrada. Chegadas e partidas. Das amuradas, despeço-me da baía; terra firme, constância.
Sou mar. Tempestade e calmaria. Tenho enjoo de maresia, busco atracadouros mil.
Sou porto. Encontro e saudade. Um trago amargo, especiaria.

Sou escambo.

Uma âncora nos olhos, um astrolábio no coração.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mocinha

As portas da estação se abriram e a menina entrou saltitando no saguão, deslumbrada com a imensidão de pessoas que iam de um lado para o outro, em busca de suas plataformas. Ela passou por baixo da catraca e encarapitou-se no alto da escada rolante, com sua mãe resmungando atrás para que se portasse. 
Enquanto esperavam o trem do metrô na plataforma, a menina não podia aguentar de ansiedade.
"É rápido mesmo, mamãe?"
"É sim, mais rápido do que qualquer carro."
"Mas vai por de baixo da terra?"
"É, vai em túneis."
"E não cai?"
"Não!"
"E todo mundo pode usar?"
"Quase todo mundo..."
"E a gente vai onde?"
"No banco, eu já disse!"
"Fazer o que lá?"
"Pagar a compra do carro que a gente escolheu, lembra?! Aquele grandão!"
"Mas se o metrô é mais rápido que qualquer carro, por que a gente comprou um?"
"Presta atenção agora, que o trem tá chegando".
A menina agarrou a mão da mãe quando o trem passou rápido por elas, e assim que as portas se abriram, ela entrou no vagão apinhado de gente e segurou firme nas pernas da mãe, quicando pela expectativa de conhecer aquilo tudo. Quando o trem voltou a andar e seu corpinho foi jogado para trás, ela achou incrível se perder naquele labirinto de pernas, pernas de calças, de saias, de bermudas, pernas peladas e pernas peludas, um mar de pernas e de pessoas, que espremidas naquele vagão pintavam o quadro de novidade na cabeça da menina.
Poucas estações depois a menina já estava cansada, e puxava a calça da mãe, pedindo para sentar. 
"Ora, não foi você que pediu pra vir junto?"
"Foi, mas eu tô cansada!!"
"Guenta mais um pouquinho que a gente já tá chegando."
Elas saíram novamente para a estação apinhada de gente e logo entraram no banco. A transação foi rápida aos olhos da menina, que ficou sendo divertida por um dos gerentes.
"E quantos anos tem a princesinha?"
"Agora 4, já sou uma mocinha!"
"E a mocinha quer um balão?"
"Quero!!! "
O gerente amarrou o balão de gás no pulso da menina, que passou a saltitar pela agência, procurando pela mãe.
Elas saíram do banco e antes de mesmo de voltarem para a estação o balão se desprendeu e deixou a menina com olhos cheio d'água na calçada.
"Mas mamãe!"
"Deixa disso, menina! Vai chorar por um balão?! Não foi você que disse que já estava mocinha?"
"Mas meu balão!!"
A menina choramingou mais um pouco até chegarem na estação, e sua mãe lhe prometeu um doce, bem grande, assim que chegassem em casa.
A estação já estava menos salpicada de gente, e ao entrarem no vagão, a expectativa e ansiedade pelo movimento e novidade já minavam dentro da cabeça da menina.
E enquanto um balão de gás enfeitava o céu da cidade, no dia de seu aniversário, a menina adormecia no colo de sua mãe.   

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Casamento de viúva

O Sol surgiu entre os pesados pingos de Chuva e ela ergueu os olhos para o Céu, com a Esperança de encontrar ali um Arco-Íris. Mas até mesmo ele pintara-se de Cinza.

sábado, 10 de novembro de 2012

Troca de faixa

- Cauã Borges!
O auto-falante anunciou ecoando pela arquibancada apinhada de flashes de fotografia e o Sr Borges se levantou no meio de tantos outros senhores e senhoras. O pequeno Cauã levantou de seu lugar e correu desajeitado- o quimono escorregando pelo ombro, a faixa pendendo desajeitada na cintura- na direção do professor que o esperava no centro da quadra, o pequeno troféu reluzindo nos olhos do menino.
O garoto sorriu para uma ou outra câmera perdida e voltou cambaleando para seu lugar, onde deveria esperar com os outros meninos, mas saiu correndo em direção à arquibancada, entregando o troféu ao pai, que trasbordava orgulho em uma lágrima.
- Toma papai, é nosso.
O Sr. Borges sorriu largado no terno, vendo-se no tatame, o quimono surrado de suor. Uma segunda lágrima escorreu tímida, pendendo como aquela gota de suor.
- Lutador não pode chorar, pai!
E então levaram o menino para seu lugar no meio do quadra, e o Sr Borges ficou na quadra, perdido entre os outros pais e mães, o troféu protegido em suas mãos, reluzindo em seus olhos, seguindo o filho por onde quer que ele fosse.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Lux

O anjo veio e pousou;
O anjo pousou e modificou;
O anjo modificou e iluminou;
E agora alça voo.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

(a)Distimia

E dessa nossa vida
temos poucas opções:
sorria ou
só ria
dessa nossa falta de rima,
e dessa nossa única
[v]ida

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Análise sintática

E então conjugo
no modo indicativo:
na 3ª pessoa do singular,
o verbo que na voz passiva
monta seu predicado.
Enquanto um sujeito paciente
observa em regência
as mesóclises de uma borboleta
traçando hipérboles no ar.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Dissertação

Em primeira pessoa mesmo vou escrevendo, narrando, pensando, refletindo, montando e desmontando, argumentando essa nossa realidade que tá difícil de engolir. Chico que me perdoe o intertexto, mas pra qual amigo escreveria, se todos vivemos nessa mesma porquidão?
Ora, por quê?
Pois por aqui as crianças nascem cinzas, crescem cinzas. Por aqui elas não brincam, não sonham: só engolem coca-cola e apostilas enlatadas. Prestam vestibulares de corrupções, faculdades e desafios diversos. Por aqui matamos todos. Os sonhos de um, preconceitos de outro, e o neto daquele ali. Por aqui matamos e desmatamos, por prazer e por gula, intoxicamos rios e fígados e pulmões. Inalamos dessa fumaça de tabaco, preconceito e hipocrisias. E arrotamos discursos políticos e promessas infundadas.
Por aqui assistimos novelas e enredos mil, filmes, guerras e explosões. Operários uivam para a lua e trabalhadores transpiram propina e reforma agrária. Derretemos celulares em frigideiras, bebemos de licores amanteigados- ensanguentados- enquanto atendemos embriaguezes dolosas.
Por aqui abatemos porcos, aves e professores. Jogamos futebol, tênis e esperanças fora. Votamos em república, democraticamente, e enterramos filósofos e mensalões. Declaramos guerra à expressão, religião, aos maus cuidados, à arte e à ideologia. E nos vendemos por paz, egoísmo, música e sustentabilidade.
Conquanto, por aqui ainda se sonha, ainda se luta. Por aqui ainda sorrimos, ainda cantamos, ainda dançamos.
Por aqui ainda há tempo, ainda é tempo, aqui já é  tempo de amar e mudar.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Poema sustentável

Flores secas, cartas vazias, promessas furadas;
Cacos de sonhos, vislumbres de cerâmica, vozes riscadas;
Malha furada, amigos empalhados, viagens esquecidas;
Você consegue aproveitar?

Emanação de gases tóxicos, de hipocrisias, de negatividade;
Poluição de ideias, de sonhos, de nascentes;
Consumismo de paixões;
Dá pra Reduzir?

Sonhos descartados, viagens guardadas;
Planos infalíveis acumulados, estruturas de madeira, força;
Ferro, fibra, vontade;
Dá pra Reutilizar?

Um sorriso frágil como vidro;
Um abraço plástico ou um amor de metal;
Papel, letras, ideias;
Sempre dá pra Reciclar.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Transcrição

Você anda na rua e sorri para alguém. E então, podem ocorrer três situações: pouquíssimas vezes a pessoa vai sorrir abertamente de volta. Boa parte das vezes elas até sorriem, mas abaixam a cabeça em seguida, como se tivessem acabado de fazer algo errado. Mas na maioria das vezes o que elas realmente fazem é deixar por isso mesmo. Não sorriem, apenas seguem reto, seguem para a vida, sem abrir um sorriso se quer.
E alguém que não sorri, alguém que não se abre para essa possibilidade de sorrir o mundo, para o mundo, não é nada mais do que infeliz.
Não é o ato de sorrir que pode te fazer feliz. Mas sorrir é abrir uma parte da alma para aquilo de bonito que a vida pode te oferecer, abrir e mostrar o bonito que há na sua alma.
Sorria! Sorrir envaidece, sorrir nos deixa mais leves, sorrir espanta as trevas. Sorrir é se abrir para as possibilidades de felicidade que a vida nos trás. É aceitar essa luz gostosa que ilumina todos os dias, faça chuva ou faça sol, basta só a gente enxergar- e aceitar! Sorrir é mais um modo de compartilhar com o mundo o que há de mais belo: felicidade. Felicidade bruta e pura, sem valor, interesse ou busca de prestígio. 
Sorrir é bonito, é gostoso, é libertador. E não tem nada, nada, mais bonito que um sorriso.

sábado, 13 de outubro de 2012

Retóricas

Não deve ser tão anormal assim, cansar. Cansar de correr, cansar de sentir, cansar de pensar.
Porque tem uma hora, que mesmo que seja repetitivo, cansa. Cansa porque tem uma hora que perde o porquê.
Então, por quê? Por que corro, por que sinto, por que penso? Para quê? Para que corro, sinto ou penso?
Não consigo seguir em frente, com um sentido, até que não tenha a resposta. Por que e se eu estiver no caminho errado? E se ao final dessa estrada, não for o meu sonho que me espera?
Entre recomeçar , agora, e recomeçar depois, qual seria a melhor opção?
Papai sempre dizia: "Quem corre por gosto não cansa". Então se estou cansada, o melhor seria recomeçar? Procurar correr pelo o que eu gosto? 
Mas do que eu gosto?
São tantas retóricas que me sinto em espiral, perto do chão, e perto do céu. Sem tempo ou espaço para pegar fôlego, imersa em um turbilhão de bolhas, perdida em tempestades de areia, sou tudo e não sou nada, estou aqui e em nenhum lugar, forças opostas se anulam. E então?!
"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo".

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Como dar estrelinhas

Não é todo mundo que tem coragem de mudar. Não é todo mundo que tem vontade de mudar. Não é todo mundo que tem força para mudar. Ter um sonho, e persegui-lo, é algo difícil. Não demanda só coragem, vontade ou força. Precisa ser criativo- para contornar as situações e obstáculos que aparecerem. Precisa ter perseverança- para não desistir. Precisa saber seus limites, respeitá-los, dar um passo de cada vez.
Perseguir um sonho é como aprendera dar estrelinha. O primeiro a se fazer é perder o medo, aprender a se doar de alma e coração no que se está fazendo. Depois você apóia as mãos no chão, pega força, impulso; e é isso que te faz alcançar o objetivo. E então, só então, você lança as pernas para cima, uma de cada vez. Primeiro bem baixo, tomando altitude aos poucos, respeitando seus limites, ganhando confiança, crescendo aos poucos. E depois que as pernas alcançarem altitude, você pode ajustar os pequenos detalhes: alinhas os ombros, prender a barriga, esticar os joelhos...
Assim devemos perseguir, e realizar, nossos sonhos. Perder o medo, juntar forças, ter um impulso e persegui-lo aos poucos, realizar cada etapa, para depois moldá-lo à realidade. E assim não cultivaremos sonhos: colecionaremos realizações.


Parabéns, amor, por tudo o que tem realizado ( ;

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Abraço

Ela entrou cambaleando pela porta do pequeno apartamento, atropelando todos os móveis enquanto cambaleava para o quarto, deixando os sapatos, a saia e o avental da lanchonete pelo caminho. Jogou-se na cama assustando o Gato, que pulou para o chão contrariado.
O barulho e a claridade da rua entravam pela janela, que apoiava uns vasinhos de flores secas. Um carro ou outro passava na rua, mas ela, entorpecida, parecia não notar o movimento fora do apartamento, só sentia o corpo cansado pesando na cama.
Ela meteu a mão por debaixo do colchão e puxou a foto surrada para frente dos olhos. Era achava até engraçado, guardar aquela foto ali, numa época de digitais e computadores, mas a mantinha ali. Não a olhava todos os dias, mas de vez em quando alguma coisa apertava forte em seu peito e ela precisava encarar aquela foto, até que adormecesse ou que o dia entrasse pela janela a chamando para os estudos.
E assim ela pegou a foto e a encarou, mesmo sem ver. Sabia cada detalhe da foto, já havia absorvido cada cor, que hoje já desbotara. Ele sentava nas escadas de uma casa, uma casa que ela nem lembrava mais como era direito, com as duas no colo. Ele sorria para a câmera, e elas olhavam uma para cada lado. Ela mesma, ali na foto, tinha o olhar desfocado, sonolento. E ela mesma, ali em seu apartamento, sentia saudade daquele olhar dele, daquele abraço. Quantos anos já não tinham passado desde que ganhara um abraço daquele, carinhoso como aquele.
De repente não havia mais nada, nada do apartamento escuro, do Gato, do cansaço, da foto, nada. Só a lembrança de um abraço, de um carinho fraterno -paterno -sem fim. Ali, com ela, só havia o calor de uma lembrança e de um abraço, e uma foto, uma foto de duas meninas e um homem com o rosto borrado por uma lágrima.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Cosmopolita

Tenho saudades de São Paulo.
Saudades de sonhos que não sei sonhar aqui. Saudades de um futuro que eu não sei enxergar aqui. Saudades de saber enxergar o belo, conhecendo o feio; saudade da grandeza de sonhos, futuros, espaços, sentimentos e gostos que eu não sinto aqui.
Eu gosto da cidade grande: daquilo que é amplo, dos arranha-céus infinitos, dos constantes conflitos entre velho e novo: madeira e aço, telha e antena.
Gosto do zum zum dos carros durante a madrugada embalando meu sono, numa cidade que entorpecida não dorme. Gosto dos barzinhos, dos dos teatros, dos cinemas, das noites quentes andando nas calçadas vazias. Gosto dos parques, das bibliotecas, dos cafés e mercados de cheiros exóticos, das lojas e tardes coloridas, do metrô e plataformas apinhadas de gente, daquele ir e vir de vidas e histórias que embarcam em diferentes trens.
Gosto de ver a grandeza da cidade se abrindo diante dos olhos quando saímos de um ou outro túnel, de vê-la multiplicando-se em milhares e milhares de rostos, de pessoas que correm de um lado para o outro em uma explosão caótica de vida.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Vida

Pisca-se os olhos e os segundos se derretem.
Inverno se transforma em primavera,
Sol e Lua valsam no céu.
A chuva escorre pelo para brisa,
salpica o asfalto, que chora.
E uma criança em prantos esperneia no escuro.

As folhas caem de uma árvore na praça.
Um caminhão ruge ultrapassando o semáforo.
Um mendigo sorri em sonho.
Um pôr-do-sol silencioso se banha no mar,
um arranha-céu pisca como vaga-lume dentro da noite.
E uma mãe chega tarde e dá o peito para o filho.

Uma semente germina na janela de um apartamento.
Uma bicicleta é atropelada na avenida.
O suor escorre no rosto de um agricultor.
Um professor está sem voz
As luzes piscam em uma boate.
E uma mãe abraça seu filho.

Um navio pesqueiro aporta.
Um filhote de baleia está perdido.
A água pinga numa torneira.
Uma criança rala o joelho.
Uma garota rouba um beijo.
E uma mãe está em paz, com seu filho.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Presunção Surrealista

Reflex[ã]o

No alto da colina
Uma moldura dourada
Entre flores de jasmim
Luas, sóis e galáxias

A moldura reluzia
Olhando para mim
Inclinei-me na janela
E então mergulhei no fim

No fim havia nuvens
E sombras em plena luz.
Surge um bonito clarão
Que num beijo de plumas, me conduz

Mergulhamos no infinito
Entre medos e incertezas
E ali encontrei minha imagem
Vestida em tons de pureza.

Da janela do infinito
De uma porta para o fim
Emergi em insanos sonhos
Submergi de volta a mim

domingo, 2 de setembro de 2012

Inspiração

E então você sabe que não há nada que possa te distrair, nada que possa tirar da sua cabeça o sorriso ou o olhar de alguém. Mesmo que as estrelas reluzam no céu com toda a força, mesmo que a lua dance ao seu redor enquanto a noite avança, você sabe. No momento nada mais importa.
Porque é nesse momento, em que um piscar de olhos vira eternidade, que você lembra do pouco que te faz tão feliz. É nesse momento que o seu coração e toda a sua alma te enche de um sentimento tão doce, e te preenche, te completa, te garante que está tudo bem, que agora está tudo bem. 
É quando você fecha os olhos e lembra das pequenas coisas, dos grandes momentos que se resumem a risadas, cosquinhas, palavras de carinho, respeito, confiança, beijos que te tiram o ar, abraços amigos. E você sabe, que não há nada no mundo que possa substituir. Que não há nada no mundo com igual valor, que não há o que substitua um amigo e um amor.
Porque se existe um momento em que há paz, um momento em que se sinta que o mundo está no lugar certo, e que se sinta realmente por completo é quando você tem os braços de quem se gosta ao seu redor. E eu não sei dar outro nome para isso, a não ser amor.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sendo Clara

Para onde estamos indo? Para onde você está indo? Eu ando em frente, às vezes paro, às vezes me volto para trás, sinto saudade, mas caminho sempre em frente, a cabeça nas nuvens, mirando o horizonte, o céu azul, as nuvenzinhas brancas, sempre fofas. E os pés no chão, caminhando.
Caminhando, não!, dançando. Vou valsando: 1, 2, 3, port de brás; 1, 2, 3, arabesque; 1, 2, 3, termino em salto, pirueta, se cair levanto, se tropeçar tento de novo, e vou dançando, vou valsando, vou caminhando, e nunca sozinha.
Sorriso bonito, olhos suaves, carinho, admiração, respeito, doçura, leveza. São amigos de uma amiga que caminha comigo, em frente. E vamos caminhando, dançando. Vamos valsando, ao som das mais belas risadas, até que os pés se cansem, rumo a um pôr do sol de carinho e doçura eterno.

domingo, 19 de agosto de 2012

O ipê amarelo

"No meu quarto não há relógio. Muito menos calendário. Há só essas pessoas de branco, passando para lá e para cá. Abrindo e fechando a janela. E lá do lado de fora, há essa árvore. 
Na verdade, é uma alegria única, ano após ano, vê-la florescer. E quando floresce é de uma alegria que compensa toda a espera. 
Junto com as pétalas amarelas, que enchem minha vista fraca, vem a voz, presa no corredor, cheia de animação, respeito e alegria:
- Vovô!!
E ano após ano, espero olhando a árvore, esperando pela visita que me faria, o amarelo vistoso, a companhia.
Esse ano, porém, o amarelo já enfeita o chão. A árvore já está desfolhando, e ela não veio me visitar."
- Não se preocupe,são só as árvores florindo e desfolhando mais cedo a cada ano.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

2016

Me deslumbro fácil. Isso é fato e não é segredo para ninguém. Se essas Olimpíadas de Londres serviram para alguma coisa, foi para me mostrar o quão deslumbrada posso ser, e o quão preconceituosa e ignorante.
Assistindo a abertura e o encerramento,só conseguia pensar: "Poxa, imagina a vergonha que não vamos passar aqui na abertura de 2016, só vai ter repeteco do carnaval, samba e Bossa Nova".
Não poderia imaginar o quanto estava errada em julgar assim nosso país.
No encerramento, a aparição de Renato Sorriso já foi uma boa surpresa, e me trouxe o pensamento, será que no fundo é tão ruim que sejamos lembrados pelo samba? Será que não é a alegria do samba, a alegria do gari que é mostrada lá fora? 
Sim! Tempos pobreza. Sim! Temos uma educação precária. Sim! Temos desigualdade social. Sim! Somos feitos de clichês. Mas que país não tem tudo isso?
Que país não tem sofredores? Que país não tem clichês? Que país não é formado por inúmeras contradições?
E me diz, qual país tem a nossa cultura? Nossa história, nossas paisagens, nossos heróis?
Somos mesmo só samba? Realmente não temos cultura? E nosso folclore é o que? Nosso folclore de índios, negros, portugueses, alemães, chineses, americanos,andinos.
Nós, Brasil, somos puro folclore. O mundo num país só, tudo em uma cultura única. Temos jazz no nosso samba, rock e blues na nossa bossa nova, tem candomblé e capoeira, Villa-Lobos e Machado, Iemanjá e Insurreição.
Apesar das falhas, vivemos em um lugar maravilhoso, cheio de mil e uma outras maravilhas. De uma história triste e corrupta sim, mas cheia de mentes brilhantes e vozes incansáveis, querendo gritar ao mundo que aqui podemos ser felizes, incondicionalmente.
Pensando bem, Brasil vai dar show também.Vai ser lindo e vai ser nosso.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Minha criança

Era só uma cidade como outra qualquer, com ruas como outras qualquer, e problemas como outros qualquer. E havia uma menina, uma menina que você até poderia pensar ser como uma outra menina qualquer. Mas ela não era.
Não tinha nome, não tinha casa, não tinha mãe, não tinha comida, não tinha cor nem expressão. Mas tinha um amigo. O cachorrinho, que levava o nome de Esperança.  Esperança tinha um nome, uma casa junto do corpo da menina, que era sua mãe, que o alimentava como podia, que via em seus olhos cor de chocolate a expressão de carinho, que não tinha de mais ninguém.
Vivia na rua, a menina e Esperança, a rua que era sua casa, sua escola, seu parque de diversão, sua sina. Pois se não tinha nada, além de Esperança, a menina também agora tem uma sina, que a aguarda em cada quarteirão.
A menina dorme agora, dorme enroscada com Esperança, dorme e sonha. E sonha, criança, sonha longe, sonha com aquilo que você deseja. Sonha enquanto eu escrevo seu futuro. E que futuro posso te dar, criança? Para onde mando você, você e Esperança? Que destino bonito e digno posso escrever, sem que falte o sentido?  Quanto posso fazer por você e por Esperança?
Só narrei sua história, criança. Que é como outras histórias qualquer, mas que fim posso dar? Não crio a história, só a narro, sua história corre por si, criança. Percorre caminhos mil, corre por essas ruas, por esses semáforos, junto com Esperança. Agarre-se a ela, minha flor, e ela não irá embora.  E como narro sua história agora?
Qual nome posso te dar, que casa posso te dar, que mãe, que expressão? Querida criança, nada posso fazer. São só letras no papel. Anda, não chore, não perturbe seu sono com sonhos ruins, já não lhe basta essa realidade? Anda criança, sorria, enrosque-se em Esperança e sonhe, velarei por você.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Ecologia da subjetividade humana

Somos humanos. Eu e você. 
Eu, você e todas as outras pessoas lá fora. Todas elas. 
Somos todos iguais. E todos diferentes. Todos unicamente diferentes.
Pois somos feitos de imaginação. Somos construídos por aquilo que sonhamos, e por aquilo que vivemos. Por aquilo que desejamos, e por aquilo que aprendemos.
Somos como uma colcha de retalhos. Nós e nosso caráter. Cada pedacinho de pano cosido um com o outro uma lembrança, um aprendizado, um sonho.
Aqui, meu livro favorito. Ali, uma decepção. Acolá, um bordão de mãe. E vamos tecendo nossa colcha. Cada um a sua.
Podem ser coloridas, pequenas, bregas, monocromáticas, de mil e um jeitos e formas. 
Mas nunca iguais. Nenhuma é réplica da outra. Retalhos diferentes, experiências diferentes. Seres humanos diferentes.
E se agora usamos nossas colchas como reflexo daquilo que somos, como proteção ao frio da sociedade, como aconchego e como descanso, é o que nos sobra, por fim, como mortalha.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Homenagem cruzada

"Escrever histórias tem algo a ver com mágica", foi o que Cornelia Funke escreveu em um dos meus livros favoritos. E com razão, escrever tem mesmo algo de mágico. Enxergar o mundo com novos olhos e senti-lo com um outro coração, com sangue de tinta e carne de papel.
E seria realmente uma experiência muito gostosa viver, quem sabe, nos mundos mágicos de J.K Rowling, Lewis Carrol, C.S Lewis ou J.M Barrie.
Viver um romance narrado por Emily Brontë ou Jane Austen, uma tragédia de Shakespeare ou desvendar um crime de Edgar Allan Poe ou Agatha Christie.
Talvez, se minha história fosse narrada por Machado de Assis, eu parasse de reclamar de tanta confusão, e se pudesse refletir como Carlos Drummond de Andrade ou Fernando Pessoa não recorreria aos Morangos Mofados, do querido Abreu.
Posso querer um suspense ou um romance de Pedro Bandeira, mas a vida seria mais leve e engraçada se fosse uma história de Paula Pimenta, Meg Cabot, Fernando Sabino.
A bem sábia verdade é que posso tê-los todos, ao estender de uma mão. Posso tê-los todos, a me esperar na estante, de braços abertos, a me esperar todos os dias.Como [aprendiz] de escritora, aprendo a mágica, combino palavras, experimento metáforas, brinco de anáfora, de paradoxo, de metonímia. 
Mas melhor, bem melhor, como leitora penetro "surdamente no reino das palavras", onde chego mais perto e contemplo as palavras. "Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: 'Trouxeste a chave?'"

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Desabafo

Você senta no escuro e tudo o que consegue sentir é um frio, um frio tão intenso que lhe faz tremer o corpo e ranger os dentes. O que é quente explode em um rompante de lágrimas que lhe queimam o rosto e te embaçam a visão, e tudo o que você sente é o Nada.
O Nada que te preenche a alma, o Nada que pulsa a cada batida de coração, o Nada que ocupa todos os seus pensamentos, sem lógica nem sentimento nenhum.
E mesmo assim, mesmo com tanto frio, com o frio nos ossos e o ranger de dentes, mesmo com o medo, mesmo com a consciência do Nada e da vastidão do Vazio, você sente.
Você sente cada célula, você grita silêncios incansáveis, corre em círculos em uma escuridão tão desesperadora, em um caminho tão longo, sem início nem fim, sem luz e sem trevas, sem eira nem beira. E mesmo assim, você torna a sentar. Ou talvez nunca tenha levantado mesmo. 
Ou talvez não esteja mesmo ali. Talvez esteja em algum lugar, em qualquer lugar. Mas não está em nenhum lugar. Talvez até não tenha sentido nada disso, é mais simples encarar tudo e dizer: estou com saudades, e falta uma parte de você em mim.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Tempestade

Alguma vez já parou em silêncio, para ver a tempestade chegar? Já parou para perceber o céu mudando de cor, tingindo-se dos mais diferentes tons, do suave cinza ao forte roxo? Já parou para ouvir como o vento assovia diferente, tirando as folhas secas para dançar?
As árvores se recolhem, os animais se escondem e tudo parece deserto, há somente a Tempestade. A Tempestade e a Terra, que respirando e suspirando, se juntam em uma dança hipnotizante, uma salsa, um tango, movimentos que ser humano nenhum poderia jamais entender.
E mesmo assim, torna-se devastador. Não paramos pra assistir a tempestade, nem nos preparamos para tanto, mas nos lamentamos depois que ela passa, depois que o que sobra é uma terra devastada.
Não notamos a grandiosidade de uma árvore antes que seja levada pelo vento, temos essa péssima mania de notar apenas quando passa, quando já nos encontramos no olho do furacão.
Não percebemos antes qualquer que seja a cor de uma folha, mas depois de amarelada qualquer matiz remete-se ao verde.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Uma conversa

Fé. Uma palavra, duas letrinhas. Capaz de destruir e construir. Capaz de mover legiões de uma parte à outra do globo, capaz de criar e desatar laços, capaz de movimentar forças que nem imaginamos, forças essas que só agem no desconhecido e oblíquo mundo da imaginação.Veja, não falei em religião, em existência disso ou daquilo, mas em fé. Falei em ter fé, em acreditar em algo.E no fundo, não é assim que a gente vive, sem nem perceber? Tendo fé? Não adianta me dizer que não é nisso que você acredita, porque somos humanos. H-U-M-A-N-O-S. E seres humanos usam e desfrutam da imaginação e da força do "acreditar" todos os dias, quase que o tempo inteiro.E sabe o que nos moveu até aqui? Sabe o que foi essencial para chegarmos onde chegamos, o que nos acompanha desde o primeiro momento, desde o descobrimento do fogo, as primeiras pinturas, as primeiras grandes construções, desde o início de tudo? A imaginação. Para mim, não há História, não há humanidade, não há fé, se não for a imaginação.A nossa imaginação nos leva a lugares onde nunca poderemos ir, nos leva a conclusões e hipóteses inimagináveis e faz com que acreditemos naquilo que a gente quiser.Quando eu acordo de manhã, abro os olhos e penso "só mais uns minutinhos" eu tenho fé que o meu dia vai ser incrível.Quando eu sento aqui na frente do computador cheia de ideias na cabeça para escrever eu tenho fé de que eu vou conseguir me expressar, de que eu vou conseguir me fazer entender, de que eu vou conseguir me aproximar de outras mentes pensantes e tocar seus corações. E se eu não tivesse fé nisso, se eu não acreditasse nisso com todo o meu coração, se eu não usasse meu imaginário para ligar as palavras, para criar uma história após a outra, organizar meus pensamentos de um modo coeso talvez eu não tivesse chegado onde eu achava impossível, e não teria essa vontade de ir sempre além.Emfim, eu acho que acabei fugindo do assunto. Mas a fé não é algo que se possa explicar, ou definir, ou simplesmente excluir e banalizar na nossa vida, pois sempre temos fé em alguma coisa, sempre acreditamos em algo, mesmo que seja sem lógica nenhuma.Eu tenho fé que você vá pelo menos pensar um pouquinho nisso tudo o que eu escrevi, e passar a entender que, no final de tudo, eu só quis mesmo dizer que não somos nada, absolutamente nada, se não acreditarmos em algo ou se não usarmos dessa ferramenta incrível que é a nossa imaginação.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Aloha

Se você for à praia em um dia de mar agitado e prestar bem atenção, verá que lá, um pouco antes do horizonte, onde as ondas são só marolas, há um surfista sentado em sua prancha. Você verá que ele parece fitar o vazio, esperando por algo. Algo que nunca vem.
Se você perguntar, ele vai responder que está esperando a onda perfeita. E eles estão sempre esperando.
Assim como nós, que esperamos o momento perfeito para dizer qualquer coisa. Assim como as dançarinas que esperam o movimento perfeito, a música perfeita. Assim como os fotógrafos, que esperam a paisagem perfeita. Assim como os jornalistas, que esperam a matéria perfeita.
Mal sabem os surfistas, as dançarinas, os fotógrafos e jornalistas que qualquer momento pode ser o momento perfeito. Que qualquer dia pode ser o dia ideal para se começar uma dieta. Que qualquer pessoa pode ser a pessoa ideal para você. Que qualquer onda pode ser a onda perfeita, que qualquer paisagem pode ser a paisagem perfeita. Tudo depende do que você for fazer com ela. Tudo depende de como o surfista vai aproveita a onda, de como a bailarina vai dançar, de como o fotógrafo vai fotografar, enfim. Tudo depende de nós.Qualquer dia pode ser um grande dia. Qualquer amor poder ser o amor da sua vida. Qualquer pessoa tem o poder de mudar o mundo, o seu mundo. Qualquer coisa pode te fazer feliz, basta você querer.
Qualquer dia é como o primeiro e como o último, cada dia que acordamos é como um presente, como um presente de amigo secreto. Não sabemos de quem é e nem pra quem vai, mas é um presente, é o nosso presente que importa.
Se está a espera da onda perfeita, do momento perfeito, da pessoa perfeita, aproveite o mundo que lhe é dado. Tudo o que precisamos é abrir a porta e fazer a diferença, fazer com que aconteça.
A onda perfeita pode estar passando por você agora mesmo, não a disperdice.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Nostalgia

E então é como um sonho. Não há um começo, nem uma história. Apenas nós dois sentados na mangueira, como quando éramos crianças. Nós dois, com as mangas no colo, as camisetas manchadas e as calças rasgadas. Além de nós, só a imensidão do sítio. Nada da casa, do galinheiro, do lago ou da imensidão de grama e céu. Só nós.
Ora, como assim, quem nós? Nós- dã e eu.
E se naqueles galhos pudéssemos, dançávamos. Brincávamos. Abraçávamos. Fundíamos. Naqueles galhos havia só nós. Nós e as mangas.
E sorríamos farrapos, e eu pinto os farrapos dos sorrisos.
Das nossas bocas escorria amizade, doce, gostosa,preciosa. E agora, ao pintar nosso quadro, transborda saudade de meus olhos, e não sei mais pintar.
Olha, há um borrão na pintura. Não há mais nosso olhar, nosso olhar cúmplice. Não há mais brilho no seu olhar de esmeralda e como hei de reparar isso? Onde foi parar todo o brilho, toda a amizade gotejante, todos os galhos?
Só há mesmo a imensidão. De grama e céu azul.
Um tamanho pecado, um céu tão azul, e tamanho azul em meu peito. E a mangueira lá, sozinha, sem nós. Não sei mais dizer se ela ainda espera por nós. Se também sente falta das nossas risadas, das nossas conversas e de todas as estripulias em seus braços. Em seus galhos.
A mangueira está sozinha. Sente saudade, mas não sabe dizer. Saudade de nós.
E como se atreve, de novo tamanho disparate! Nós quem?!
Dã e eu.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Fiat Lux

Não é educar, educação se aprende em casa, ou pelo menos deveria. 
Mas acaba educando, além de ensinar. 
E ensinar... ah! Ensinar!
Não é tão fácil como parece, não é qualquer um que consegue. Mas se há mais bela função nesse mundo, deve ser a de se ensinar, de trazer luz, de ajudar, de guiar.
Se ama, ensina. Se sonha, ensina. Se é humano, ensina. Se é maior, bem maior do que tudo aquilo que fere a nossa alma, então ensina.
Não é um diploma, não é um título, não é um jaleco ou um crachá que te dá o poder de ensinar.
É a humildade, a pureza, a vontade, a alegria, a magia que se é concedida e conquistada a cada dia, a cada momento, a cada crítica, a cada prova que se aplica e que se passa.
Se ensina, é professor. E se é professor, é querido. É mal falado, também. Mal reconhecido, mal visto, mal pago. Mas o que se recebe de carinho, de admiração, de conquista, alcança-se o céu.
Se é professor, é humano.
Se é professor, ensina.
Se ensina, é anjo.
Se é anjo, é eterno; seu discurso, sua alma, seu legado. 
Se é anjo, é luz.
E que se faça Luz.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Salto ou saio

É como quando eu nadava,e podia saltar dos trampolins. Já havia saltado do menor,sabia da adrenalina,do frio na barriga,da liberdade da queda,do impacto com a superfície da água,do conforto de emergir.
Já sabia também como era perder a respiração,saltar e cair errado, o quanto isso poderia ser incômodo.
E agora, eis-me aqui,na última plataforma. Se antes houve frio na barriga, nada se compara a esse. Se antes eu tive medo da queda,a vontade que me dá agora é desistir. Mas olhando lá para baixo, sinto como se a curiosidade consumisse cada mínimo espaço de indecisão. E não sei se salto ou saio. Um passo para frente, mais um e caio. Ou salto? Ou saio?
Só sei que travo, mas a curiosidade é tão grande. O medo é tão grande. A vontade é tão grande. Alguém me chama, se é lá de baixo ou atrás de mim não sei dizer. Só sei que faço que não escuto.
Me concentro. 
Decido. 
E então...

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Do Velho Chiquinho

Aprendi com Chiquinho que é até normal a gente se sentir assim, desanimado. Só não o tempo inteiro. Que quando em nós houver ódio, busquemos o amor. Quando houver brigas, busquemos o perdão, a união. Que quando houver momentos de dúvida, tenhamos fé e a certeza de que tudo pode, e vai, melhorar. Quando nada parecer correto e a incerteza aparecer em nosso caminho, que tenhamos esperança. Dias melhores virão. Que quando houver momentos de erros e mentiras busquemos a verdade, que procuremos sempre buscar a luz e não viver nas trevas. Que saibamos buscar sempre a alegria, a união, o equilíbrio. Amar, para ser amado. Perdoar, para ser perdoado. Viver em harmonia, sendo feliz e trazendo a felicidade. E que assim seja.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Lavosier

Se a vida fosse eterna, teríamos tempo para temer e crescer?
Se a vida fosse eterna, o Tempo seria somente Acaso?
Se a vida fosse eterna, teríamos pressa para fazer as pazes? Para consertar os erros, para melhorar?
Se a vida fosse eterna, seria comemorado o nascimento? Seria comemorado o passar dos anos?
Se a vida fosse eterna, teria graça a primeira vez? 
Se a vida fosse eterna, que graça teria viver? Que graça teria tentar até alcançar o impecável, se tivéssemos todo o tempo do mundo? Que força teria um herói? Se o tempo passasse sem se aproximar do fim, como poderíamos dançar a vida sob o tic-tac do relógio? Como poderíamos cantar músicas eternas, se nem a morte elas sobreviveram? Que graça teria, se nada se renovasse?
Não é a vida que enfeita a morte. Não, é a morte que enfeita a vida. Não é pra ser temida, porém tão pouco apreciada, mas para ser encarada como natural, como vida, e não como fim.
Nada se perde, tudo se transforma.

sábado, 7 de abril de 2012

Sou o que escrevo

Vontade de não sei o que, se é de mudar, chorar ou escrever...
Vontade de chocolate, de sorvete, de greve de fome, sei lá. Vontade de crescer, de só ser.
Vontade de saber, entender, conseguir e resistir. Vontade de dançar, de ser impecável, de escutar e cantar, vontade de transcender.
Não sei se é só vontade, se é desejo, se é sonho.
Não sei se publico, apago, reescrevo.
Não sei nem se escrevo.
Não sei nem se vivo.
Não sei nem se choro, ou se sorrio.
Sei que penso. Penso e por menos existo, mesmo que não seja, mesmo se não persisto, nem se evoluo.
Só sinto, sonho, escrevo. Só escrevo, sinto, sonho. Só sonho, escrevo, sinto.
Só escrevo e sonho e sinto.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Licenciatura

Lá de cima,
no pedestal sagrado,
dos olhos emana a sabedoria, dos lábios escorre o conhecimento.


Daqui de baixo,
absorvo cada gota nova e reciclada, 
olhos vidrados, hipnotizados pelo saber.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Maria e João

Se me olha nos olhos, bem-me-quer.
Se passa por mim, mal-me-quer.
Se ri o meu sorriso, bem-me-quer;
Se ignora, mal-me-quer.
Se lembra de mim, bem-me-quer;
Se mostra-se desinteressado, mal-me-quer.
Se Maria tivesse guiado João no meio da floresta, usaria flores, e não pão.
Enquanto as pétalas luzem e enfeitam o chão, como as estrelas no céu.

sábado, 17 de março de 2012

Nostalgia infante

Acho que a maioria das pessoas acreditam que, como tudo, a infância tem começo, meio e fim. Deixo claro que, para mim, não é bem assim.
A infância começa em um ponto indeterminado e termina da mesma forma nebulosa. Algumas vezes, nem começa, em outras também não termina.
Infância pra mim vai e volta, como uma borboleta. [De novo, uma borboleta]
Em dias de muito calor, quando as flores da nossa mente estão abertas e vistosas, é possível que a borboleta da infância volte e pouse em cima delas, descansando as asas.
Mas em dias de inverno, quando as flores murcham e ficam apenas os espinhos de preocupações e malícias, a borboleta procura outros campos, onde suas asas não serão feridas pelos espinhos.
Borboleta gosta é mesmo do que é colorido, do que chama a atenção, do que marca sua história. Ir à aniversário de criança e comer muita pipoca e algodão doce.Ver um palhaço no meio da rua, correr atrás dos cachorros e dos pombos nas pracinhas. Brincar de balanço, gangorra, amarelinha, pião. Jogar bola no campinho. Bolinha de gude, bicicleta! Lembra-se da primeira volta com a bicicleta?
A infância de cada um, é diferente, mas a essência é única.
É algo gostoso de se ter e de se lembrar, que tem cheirinho de grama molhada, caderno novo; Gostinho de cachorro quente e sorvete de morango; Trilha sonora de desenho animado ou de cantiga de vovó. Tem ralado no joelho, sim, mas tem beijinho de mamãe e risada de amigo.
E aposto que agora mesmo você está aí, lembrando de alguma coisa engraçada e ouvindo os ecos das próprias gargalhadas. Ande, sorria agora também, nunca é tarde pra lembrar e reviver.
Aproveite. Ficarei aqui quietinha, deixando você se deleitar de tão sublime lembrança.

quinta-feira, 8 de março de 2012

(R)evolução

Eu realmente gostaria de entender em qual momento as mulheres passaram de deusas para sexo frágil. Gostaria de entender o porquê de tanto preconceito, de tanta birra, de tanta indiferença e diferença entre homens e mulheres.
Homens e mulheres são iguais. Simplesmente. Não há mais inteligente e menos inteligente. Mais capaz ou menos capaz. Ambos são humanos. Ambos têm falhas. Ambos tem condições para sonhar, querer, desejar, agir, pensar, amar, viver.
E hoje, no Dia Internacional da Mulher, dia de aniversário de uma barbaridade contra mulheres, no mínimo, corajosas, é que gostaria de fazer uma denúncia contra nós, mulheres.
Foi contra a opressão e a desigualdade que lutamos para conquistar nossos direitos de votos, de viver, de pensar, de agir como qualquer outro [homem]. Foi para conquistar novas fronteiras e derrubar outras. Foi por isso que passamos a vestir calças. Foi por isso que protestamos dias e noites. Foi por isso que queimamos nossos sutiãs.
Não é por esse motivo que tiramos a roupa em qualquer anúncio, qualquer programa de televisão. Pois se a mulher se despe de roupas, se despe de seus conceitos, de suas vitórias e das vitórias de tantas outras mulheres que fizeram por merecer o que conquistamos até hoje. Cuidado, mulheres. Atenção, mulheres. Mulheres, meninas, moças, senhoras. Não é porque admiram suas curvas, que admiram seus pensamentos e seus sonhos. Não é porque dançamos e cantamos e vulgarizamos nossas curvas que alguém se importe com o que ainda sonhamos. Mais igualdade, mais respeito.
Queimar nossos sutiãs foi um símbolo de liberdade. Nos despirmos, hoje, de roupas e pudor, é regressão.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Perspectiva

O senhorzinho foi chegando devagarinho, devagarinho. Chegava perto do ônibus com um fardo imenso nas costas. Na rodoviária, muitas pessoas passavam por ele. Algumas carregando apenas bolsas à tiracolo, outras malas. Mas voltemos ao nosso senhorzinho. Ele chegou perto do ônibus, e querendo entrar o motorista disse que ele só poderia embarcar e seguir viagem se seu fardo coubesse no bagageiro. O senhor tentou, e tentou, e tentou de novo. O fardo não cabia. Abriu, tentou tirar algumas coisas de dentro, mas não diminuía. A impressão que dava, é que até aumentava. O senhorzinho se desesperou, chorou, esperneou e acabou sozinho na plataforma. Ele e seu fardo.
Dentro dele, havia sonhos que não foram sonhados, risadas não ridas, palavras não ditas, atos que não foram praticados. Um passeio que ele não fez. Uma boca que ele não beijou. Um amigo que ele não perdoou. Uma confissão que ele não fez. Uma música que ele não dançou. Dentro dele antes havia uma alma colorida, feliz, risonha, sonhadora, mas que fora sufocada e perdera a cor. Monocromática agora ela pesa, incha o fardo e acompanha o senhorzinho mesmo que ele não queira.
Uma borboleta voa como arco-íris na plataforma, e ele não percebe. E você, a vê ?

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Laço de fita

Mário Quintana, certa vez, me deu de presente a palavra "ventania", e fazendo uso dela a comparo com a liberdade.
Essa, usando velho clichê, me parece com um pássaro; que voa para onde quiser, para onde o vento soprar melhor.
Certas vezes vêm, ventania e liberdade, para chacoalhar o mormaço entediante. Outras vezes vêm aos poucos, como brisa, para mudanças pequenas, para alçar voo... E conquistar novos céus.
Ventania e liberdade, na maioria das vezes, vêm de supetão e leva o que não serve, o que é supérfluo. Pode até incomodar, no começo; mas é de grande valor, quando passa.
Se Mário soubesse, ao me oferecer as palavras, como me seriam úteis, as teria embrulhado para presente, com fita e tudo. Se bem que essa voaria, liberta, na primeira ventania.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Fuga

Qual será a fórmula secreta? Não a da felicidade, não a do amor, não a da vida. Mas a do equilíbrio.
Qual será a fórmula para que nós, seres imperfeitos, consigamos atingir um equilíbrio entre corpo e alma, entre realidade e sonho, verdade e mentira?
Entre todos os paradoxos enfrentados diariamente, me pego pensando nas fugas. E quantas pessoas ao tentarem fugir, se perderam.
Que fuga é essa, que consume o corpo e a mente? Que fuga é essa que em um minuto te inibe e no outro destrói? Que fuga é essa que te leva fundo em um poço onde seus companheiros são somente você e seu vício?
Há no poço uma consciência? Há no poço uma mão amiga que te ampara, te acompanha, te ergue?
Será a realidade tão pior assim, para que em fuga se negue a vida? 
Se quer um conselho, quando o tédio, a insegurança ou o medo da realidade pousar sobre seus ombros, abra a janela. Escute uma música. Converse com um amigo. Leia um livro. Afaste da mente o que te perturba e a ocupe com o que te faz bem agora, e o que te fará bem depois.
Não há fuga melhor para um desamparo da vida, do que viver.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Escrevinhadora

Meu ideal seria escrever algo emocionante, que quebrasse fronteiras, que fosse reconhecido e até copiado.
Talvez escrever como Camões e Drummond. Como Rubem Braga ou Fernando Sabino. Ou até como Machado.
Uma história simples, mas completa -concreta - que rime e que emocione. Que viva e que faça nascer no leitor uma sementinha bonita, que ele leve pro resto da vida.
Imagina só, então, se minha história vira filme, se meus personagens pudessem apertar mãos... As crianças, todas animadas, me veriam na rua e apontariam dizendo: "Olhe ali! Lá vai a escrevinhadora!" 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Mosaico de sorrisos

Se me perguntarem se sou itapecericana ou paulistana, não sei o que respondo. Moro em Itapecerica da Serra, e gosto muito de viver aqui. Mas a paixão por São Paulo é amor antigo, nasceu comigo, cresceu e tomou conta. São Paulo é a cidade do meu coração, dos meus sonhos, da minha vida; por isso não posso deixar de, assim como tantos, célebres ou não, homenagear minha cidade.
Andar por São Paulo pode ser desgastante, concordo. Indo de carro, a pé, ônibus ou metrô, a certeza é de passar sufoco. Mas saiba olhar os pequenos detalhes. O azul do céu, que mesmo em risco de extinção tem uma tonalidade única. Os antigos comércios, que concorrem com grandes cooperativas. O charme dos cafés, que enfeitam a cidade de esquina em esquina, assim como suas meninas.
Da Liberdade ao Paraíso, o mundo em poucas ruas. As vilas, Mariana e Madalena, que transbordam seu charme e seu acolhimento. A Paulista, o grande coração executivo; e o Parque do Ibirapuera, o coração verde. São Paulo, berço de arte, de literatura, de música, de correria, de amor. Pare um momento e preste atenção, a cidade canta, a cidade dança, a cidade pulsa num ritmo envolvente, num jazz ou num samba, a cidade não para, respira e transpira por si e por todos, alucinante, vertiginosa. E acolhedora. E elegante. E cheia de contrastes. O executivo e o homem de rua, o Copan e o Hotel Hilton, o novo e o antigo, o bom e o ruim, a pobreza e a riqueza. Num balé triste, mas real. Num balé que pede mais, mas pede ajuda, e pede um novo escritor.
Então pegue qualquer trem, das novas ou antigas linhas, e desça na estação da Luz. Saia do labirinto de metrô e veja o antigo se revelar diante de seus olhos, e o novo pintar uma paisagem de contrastes que enche os olhos de luz. Visite os museus, visite o centro histórico e deixe que a cidade conte sua história.
E do alto da Torre do Banespa, onde céu e terra não parecem tão distantes, imagine "num só minuto, o Brás, Tietê, viaduto; barracas de flores, e a multidão". Contemple São Paulo, "São Paulo da garoa, São Paulo que terra boa". 
E olhe bem, preste atenção. Ali, na Praça da Sé, diante de testemunhos de um tempo remoto, em que não havia 'Shopping Center' nem multinacional. Tempo em que era Luz, Anhangabaú e Viaduto do Chá. Ali, no marco Zero. Marco da cidade que nasceu, cresceu, se espalhou e hoje não vive, mas é vívida e vivida. Cidade de mil cores, mil paixões, mil cheiros, mil sabores. Cidade que é mosaico do que foi e do que é e do que será. E de sorrisos.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Um dó, um sol

Incessantes gotas de chuva batem na janela, renovando uma música tão antiga quanto o próprio tempo, cantando para corações e ouvidos atentos.
Uma melodia familiar, de inúmeros ritmos, que faz com que o coração dance no mesmo compasso, acompanhando o blues que a noite chora.
Os ouvidos talvez fiquem ainda acordados para ouvir os acordes finais da balada melancólica da noite, vestindo-se de compaixão.
E depois de um dó, vem um sol.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Magos e feitiços

Eu começo a escrever e depois de uma linha apago tudo. Não que eu tenha uma ideia clara na cabeça, a minha vontade é de apenas escrever. Faria mais sentido desistir e voltar quando eu soubesse sobre o que escreverei, mas tenho a impressão de estar cheia, transbordando, de ideias e sensações, e preciso colocar isso para fora, nem que seja de modo irregular e confuso.
A verdade é que eu ando entre outros mundos, onde a carne é de papel e o sangue é de tinta, onde posso conversar com fadas e elfos e viver aventuras medievais. Onde posso derrotar príncipes cruéis e dançar com saltimbancos; e isso me desvia da realidade de carne e osso, que eu sei que no fundo, pode ser tão emocionante como a dos livros.
Mesmo que os ame de todo o coração, sei bem o mal que eles podem fazer, como um remédio mal manipulado. Por um lado, pode te trazer conforto, mas em excesso tem um efeito contrário.
Eles têm o poder de intoxicar a mente, nos manipular de uma tal forma que às vezes nos pegamos vivendo como aquele personagem que tanto gostamos. E talvez seja por isso, por essa mágica envolvente absorvida por cada palavra é que eles sejam tão atraentes, envolventes, acolhedores. E mesmo que me causem danos, mesmo que depois de ler um ou outro me perca na realidade por alguns dias, me arrisco e me jogo de cabeça, pois sei que nada me distrai e me completa e me acolhe mais do que um bom livro. 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Diversidade

Passando a tarde na casa da minha avó, sempre corremos o risco de receber a visita de parentes distantes. Dessa vez, durante o almoço, ela comunicou que um sobrinho, um tal de Pedrinho, passaria ali para o café da tarde. Até aí, normal.
Chega então um dos "tios", acompanhado com um homem de seus quarenta e tantos anos. Seria aquele o Pedrinho? E não é que era?! Ele vinha com a nova mulher, de mesma idade, com aquele sotaque de interior de Minas que é inconfundível.
E então começou: "Essa aí é sua menina mais velha? Mais como tá grande, sá."; e em meio a esses comentários, a conversa foi vingando. "Era um sinhô barbudo que só, começô a tê dô na barriga, procurô o seu dotô lá de pertin de casa. Tava é com o bixo no figu". Minha avó então traduziu, "Câncer no fígado?! Ô dó, era tão novin".
O tal de Pedrinho que não era tão 'inho' então disse que precisava contar um causo. E é por causa do causo que eu escrevo.
"Nóis tinha ido passeá lá em Poços de Caldas" ele disse "E eu sentei do lado de um professô. Homem sabido, já véio aposentado, mais muito sabido ainda. E ele me preguntou: 'Ô Pedro, cê sabe qual é a coisa mais bunita dessa vida?', eu disse que não sabia, e ele arrepondeu: 'A diversidade. Imagina se tudo fosse inguar assim?'.
Então eu desliguei. Sei que ouvi à meios ouvidos o final da "prosa". Sei até que quase tive um acesso de risos quando ouvi que quando a gente quisesse visitar ele lá em Minas Gerais, era só chegar na igrejinha, que seu vizinho era o "véio Barnabé". Mas eu só pensava no tal causo que o sobrinho da minha avó tinha contado.
E não é que fazia sentido? O português podia estar todo errado, e estava mesmo. Mas a ideia era tão certa. Lembrei daquele velho ditado: "o que seria do vermelho, se todos gostassem do amarelo?". O mais bonito da vida é mesmo a diversidade. De cores, de sabores, de sons, de sentimentos, de toques, de cheiros. A diversidade e a escolha. Com essa visita, que não durou mais de uma hora, bem ao estilo caipira, aprendi tanto. Aprendi a não me deixar julgar pelo jeito que a pessoa fala. Aprendi a respeitar o simples. E aprendi a enxergar e dar valor a toda essa diversidade.
E como dizem os meus tios, ao se despedirem, "Até segunda, sá!".