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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

(a)Distimia

E dessa nossa vida
temos poucas opções:
sorria ou
só ria
dessa nossa falta de rima,
e dessa nossa única
[v]ida

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Análise sintática

E então conjugo
no modo indicativo:
na 3ª pessoa do singular,
o verbo que na voz passiva
monta seu predicado.
Enquanto um sujeito paciente
observa em regência
as mesóclises de uma borboleta
traçando hipérboles no ar.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Dissertação

Em primeira pessoa mesmo vou escrevendo, narrando, pensando, refletindo, montando e desmontando, argumentando essa nossa realidade que tá difícil de engolir. Chico que me perdoe o intertexto, mas pra qual amigo escreveria, se todos vivemos nessa mesma porquidão?
Ora, por quê?
Pois por aqui as crianças nascem cinzas, crescem cinzas. Por aqui elas não brincam, não sonham: só engolem coca-cola e apostilas enlatadas. Prestam vestibulares de corrupções, faculdades e desafios diversos. Por aqui matamos todos. Os sonhos de um, preconceitos de outro, e o neto daquele ali. Por aqui matamos e desmatamos, por prazer e por gula, intoxicamos rios e fígados e pulmões. Inalamos dessa fumaça de tabaco, preconceito e hipocrisias. E arrotamos discursos políticos e promessas infundadas.
Por aqui assistimos novelas e enredos mil, filmes, guerras e explosões. Operários uivam para a lua e trabalhadores transpiram propina e reforma agrária. Derretemos celulares em frigideiras, bebemos de licores amanteigados- ensanguentados- enquanto atendemos embriaguezes dolosas.
Por aqui abatemos porcos, aves e professores. Jogamos futebol, tênis e esperanças fora. Votamos em república, democraticamente, e enterramos filósofos e mensalões. Declaramos guerra à expressão, religião, aos maus cuidados, à arte e à ideologia. E nos vendemos por paz, egoísmo, música e sustentabilidade.
Conquanto, por aqui ainda se sonha, ainda se luta. Por aqui ainda sorrimos, ainda cantamos, ainda dançamos.
Por aqui ainda há tempo, ainda é tempo, aqui já é  tempo de amar e mudar.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Poema sustentável

Flores secas, cartas vazias, promessas furadas;
Cacos de sonhos, vislumbres de cerâmica, vozes riscadas;
Malha furada, amigos empalhados, viagens esquecidas;
Você consegue aproveitar?

Emanação de gases tóxicos, de hipocrisias, de negatividade;
Poluição de ideias, de sonhos, de nascentes;
Consumismo de paixões;
Dá pra Reduzir?

Sonhos descartados, viagens guardadas;
Planos infalíveis acumulados, estruturas de madeira, força;
Ferro, fibra, vontade;
Dá pra Reutilizar?

Um sorriso frágil como vidro;
Um abraço plástico ou um amor de metal;
Papel, letras, ideias;
Sempre dá pra Reciclar.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Transcrição

Você anda na rua e sorri para alguém. E então, podem ocorrer três situações: pouquíssimas vezes a pessoa vai sorrir abertamente de volta. Boa parte das vezes elas até sorriem, mas abaixam a cabeça em seguida, como se tivessem acabado de fazer algo errado. Mas na maioria das vezes o que elas realmente fazem é deixar por isso mesmo. Não sorriem, apenas seguem reto, seguem para a vida, sem abrir um sorriso se quer.
E alguém que não sorri, alguém que não se abre para essa possibilidade de sorrir o mundo, para o mundo, não é nada mais do que infeliz.
Não é o ato de sorrir que pode te fazer feliz. Mas sorrir é abrir uma parte da alma para aquilo de bonito que a vida pode te oferecer, abrir e mostrar o bonito que há na sua alma.
Sorria! Sorrir envaidece, sorrir nos deixa mais leves, sorrir espanta as trevas. Sorrir é se abrir para as possibilidades de felicidade que a vida nos trás. É aceitar essa luz gostosa que ilumina todos os dias, faça chuva ou faça sol, basta só a gente enxergar- e aceitar! Sorrir é mais um modo de compartilhar com o mundo o que há de mais belo: felicidade. Felicidade bruta e pura, sem valor, interesse ou busca de prestígio. 
Sorrir é bonito, é gostoso, é libertador. E não tem nada, nada, mais bonito que um sorriso.

sábado, 13 de outubro de 2012

Retóricas

Não deve ser tão anormal assim, cansar. Cansar de correr, cansar de sentir, cansar de pensar.
Porque tem uma hora, que mesmo que seja repetitivo, cansa. Cansa porque tem uma hora que perde o porquê.
Então, por quê? Por que corro, por que sinto, por que penso? Para quê? Para que corro, sinto ou penso?
Não consigo seguir em frente, com um sentido, até que não tenha a resposta. Por que e se eu estiver no caminho errado? E se ao final dessa estrada, não for o meu sonho que me espera?
Entre recomeçar , agora, e recomeçar depois, qual seria a melhor opção?
Papai sempre dizia: "Quem corre por gosto não cansa". Então se estou cansada, o melhor seria recomeçar? Procurar correr pelo o que eu gosto? 
Mas do que eu gosto?
São tantas retóricas que me sinto em espiral, perto do chão, e perto do céu. Sem tempo ou espaço para pegar fôlego, imersa em um turbilhão de bolhas, perdida em tempestades de areia, sou tudo e não sou nada, estou aqui e em nenhum lugar, forças opostas se anulam. E então?!
"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo".

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Como dar estrelinhas

Não é todo mundo que tem coragem de mudar. Não é todo mundo que tem vontade de mudar. Não é todo mundo que tem força para mudar. Ter um sonho, e persegui-lo, é algo difícil. Não demanda só coragem, vontade ou força. Precisa ser criativo- para contornar as situações e obstáculos que aparecerem. Precisa ter perseverança- para não desistir. Precisa saber seus limites, respeitá-los, dar um passo de cada vez.
Perseguir um sonho é como aprendera dar estrelinha. O primeiro a se fazer é perder o medo, aprender a se doar de alma e coração no que se está fazendo. Depois você apóia as mãos no chão, pega força, impulso; e é isso que te faz alcançar o objetivo. E então, só então, você lança as pernas para cima, uma de cada vez. Primeiro bem baixo, tomando altitude aos poucos, respeitando seus limites, ganhando confiança, crescendo aos poucos. E depois que as pernas alcançarem altitude, você pode ajustar os pequenos detalhes: alinhas os ombros, prender a barriga, esticar os joelhos...
Assim devemos perseguir, e realizar, nossos sonhos. Perder o medo, juntar forças, ter um impulso e persegui-lo aos poucos, realizar cada etapa, para depois moldá-lo à realidade. E assim não cultivaremos sonhos: colecionaremos realizações.


Parabéns, amor, por tudo o que tem realizado ( ;

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Abraço

Ela entrou cambaleando pela porta do pequeno apartamento, atropelando todos os móveis enquanto cambaleava para o quarto, deixando os sapatos, a saia e o avental da lanchonete pelo caminho. Jogou-se na cama assustando o Gato, que pulou para o chão contrariado.
O barulho e a claridade da rua entravam pela janela, que apoiava uns vasinhos de flores secas. Um carro ou outro passava na rua, mas ela, entorpecida, parecia não notar o movimento fora do apartamento, só sentia o corpo cansado pesando na cama.
Ela meteu a mão por debaixo do colchão e puxou a foto surrada para frente dos olhos. Era achava até engraçado, guardar aquela foto ali, numa época de digitais e computadores, mas a mantinha ali. Não a olhava todos os dias, mas de vez em quando alguma coisa apertava forte em seu peito e ela precisava encarar aquela foto, até que adormecesse ou que o dia entrasse pela janela a chamando para os estudos.
E assim ela pegou a foto e a encarou, mesmo sem ver. Sabia cada detalhe da foto, já havia absorvido cada cor, que hoje já desbotara. Ele sentava nas escadas de uma casa, uma casa que ela nem lembrava mais como era direito, com as duas no colo. Ele sorria para a câmera, e elas olhavam uma para cada lado. Ela mesma, ali na foto, tinha o olhar desfocado, sonolento. E ela mesma, ali em seu apartamento, sentia saudade daquele olhar dele, daquele abraço. Quantos anos já não tinham passado desde que ganhara um abraço daquele, carinhoso como aquele.
De repente não havia mais nada, nada do apartamento escuro, do Gato, do cansaço, da foto, nada. Só a lembrança de um abraço, de um carinho fraterno -paterno -sem fim. Ali, com ela, só havia o calor de uma lembrança e de um abraço, e uma foto, uma foto de duas meninas e um homem com o rosto borrado por uma lágrima.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Cosmopolita

Tenho saudades de São Paulo.
Saudades de sonhos que não sei sonhar aqui. Saudades de um futuro que eu não sei enxergar aqui. Saudades de saber enxergar o belo, conhecendo o feio; saudade da grandeza de sonhos, futuros, espaços, sentimentos e gostos que eu não sinto aqui.
Eu gosto da cidade grande: daquilo que é amplo, dos arranha-céus infinitos, dos constantes conflitos entre velho e novo: madeira e aço, telha e antena.
Gosto do zum zum dos carros durante a madrugada embalando meu sono, numa cidade que entorpecida não dorme. Gosto dos barzinhos, dos dos teatros, dos cinemas, das noites quentes andando nas calçadas vazias. Gosto dos parques, das bibliotecas, dos cafés e mercados de cheiros exóticos, das lojas e tardes coloridas, do metrô e plataformas apinhadas de gente, daquele ir e vir de vidas e histórias que embarcam em diferentes trens.
Gosto de ver a grandeza da cidade se abrindo diante dos olhos quando saímos de um ou outro túnel, de vê-la multiplicando-se em milhares e milhares de rostos, de pessoas que correm de um lado para o outro em uma explosão caótica de vida.