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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sendo Clara

Para onde estamos indo? Para onde você está indo? Eu ando em frente, às vezes paro, às vezes me volto para trás, sinto saudade, mas caminho sempre em frente, a cabeça nas nuvens, mirando o horizonte, o céu azul, as nuvenzinhas brancas, sempre fofas. E os pés no chão, caminhando.
Caminhando, não!, dançando. Vou valsando: 1, 2, 3, port de brás; 1, 2, 3, arabesque; 1, 2, 3, termino em salto, pirueta, se cair levanto, se tropeçar tento de novo, e vou dançando, vou valsando, vou caminhando, e nunca sozinha.
Sorriso bonito, olhos suaves, carinho, admiração, respeito, doçura, leveza. São amigos de uma amiga que caminha comigo, em frente. E vamos caminhando, dançando. Vamos valsando, ao som das mais belas risadas, até que os pés se cansem, rumo a um pôr do sol de carinho e doçura eterno.

domingo, 19 de agosto de 2012

O ipê amarelo

"No meu quarto não há relógio. Muito menos calendário. Há só essas pessoas de branco, passando para lá e para cá. Abrindo e fechando a janela. E lá do lado de fora, há essa árvore. 
Na verdade, é uma alegria única, ano após ano, vê-la florescer. E quando floresce é de uma alegria que compensa toda a espera. 
Junto com as pétalas amarelas, que enchem minha vista fraca, vem a voz, presa no corredor, cheia de animação, respeito e alegria:
- Vovô!!
E ano após ano, espero olhando a árvore, esperando pela visita que me faria, o amarelo vistoso, a companhia.
Esse ano, porém, o amarelo já enfeita o chão. A árvore já está desfolhando, e ela não veio me visitar."
- Não se preocupe,são só as árvores florindo e desfolhando mais cedo a cada ano.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

2016

Me deslumbro fácil. Isso é fato e não é segredo para ninguém. Se essas Olimpíadas de Londres serviram para alguma coisa, foi para me mostrar o quão deslumbrada posso ser, e o quão preconceituosa e ignorante.
Assistindo a abertura e o encerramento,só conseguia pensar: "Poxa, imagina a vergonha que não vamos passar aqui na abertura de 2016, só vai ter repeteco do carnaval, samba e Bossa Nova".
Não poderia imaginar o quanto estava errada em julgar assim nosso país.
No encerramento, a aparição de Renato Sorriso já foi uma boa surpresa, e me trouxe o pensamento, será que no fundo é tão ruim que sejamos lembrados pelo samba? Será que não é a alegria do samba, a alegria do gari que é mostrada lá fora? 
Sim! Tempos pobreza. Sim! Temos uma educação precária. Sim! Temos desigualdade social. Sim! Somos feitos de clichês. Mas que país não tem tudo isso?
Que país não tem sofredores? Que país não tem clichês? Que país não é formado por inúmeras contradições?
E me diz, qual país tem a nossa cultura? Nossa história, nossas paisagens, nossos heróis?
Somos mesmo só samba? Realmente não temos cultura? E nosso folclore é o que? Nosso folclore de índios, negros, portugueses, alemães, chineses, americanos,andinos.
Nós, Brasil, somos puro folclore. O mundo num país só, tudo em uma cultura única. Temos jazz no nosso samba, rock e blues na nossa bossa nova, tem candomblé e capoeira, Villa-Lobos e Machado, Iemanjá e Insurreição.
Apesar das falhas, vivemos em um lugar maravilhoso, cheio de mil e uma outras maravilhas. De uma história triste e corrupta sim, mas cheia de mentes brilhantes e vozes incansáveis, querendo gritar ao mundo que aqui podemos ser felizes, incondicionalmente.
Pensando bem, Brasil vai dar show também.Vai ser lindo e vai ser nosso.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Minha criança

Era só uma cidade como outra qualquer, com ruas como outras qualquer, e problemas como outros qualquer. E havia uma menina, uma menina que você até poderia pensar ser como uma outra menina qualquer. Mas ela não era.
Não tinha nome, não tinha casa, não tinha mãe, não tinha comida, não tinha cor nem expressão. Mas tinha um amigo. O cachorrinho, que levava o nome de Esperança.  Esperança tinha um nome, uma casa junto do corpo da menina, que era sua mãe, que o alimentava como podia, que via em seus olhos cor de chocolate a expressão de carinho, que não tinha de mais ninguém.
Vivia na rua, a menina e Esperança, a rua que era sua casa, sua escola, seu parque de diversão, sua sina. Pois se não tinha nada, além de Esperança, a menina também agora tem uma sina, que a aguarda em cada quarteirão.
A menina dorme agora, dorme enroscada com Esperança, dorme e sonha. E sonha, criança, sonha longe, sonha com aquilo que você deseja. Sonha enquanto eu escrevo seu futuro. E que futuro posso te dar, criança? Para onde mando você, você e Esperança? Que destino bonito e digno posso escrever, sem que falte o sentido?  Quanto posso fazer por você e por Esperança?
Só narrei sua história, criança. Que é como outras histórias qualquer, mas que fim posso dar? Não crio a história, só a narro, sua história corre por si, criança. Percorre caminhos mil, corre por essas ruas, por esses semáforos, junto com Esperança. Agarre-se a ela, minha flor, e ela não irá embora.  E como narro sua história agora?
Qual nome posso te dar, que casa posso te dar, que mãe, que expressão? Querida criança, nada posso fazer. São só letras no papel. Anda, não chore, não perturbe seu sono com sonhos ruins, já não lhe basta essa realidade? Anda criança, sorria, enrosque-se em Esperança e sonhe, velarei por você.