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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Nostalgia

E então é como um sonho. Não há um começo, nem uma história. Apenas nós dois sentados na mangueira, como quando éramos crianças. Nós dois, com as mangas no colo, as camisetas manchadas e as calças rasgadas. Além de nós, só a imensidão do sítio. Nada da casa, do galinheiro, do lago ou da imensidão de grama e céu. Só nós.
Ora, como assim, quem nós? Nós- dã e eu.
E se naqueles galhos pudéssemos, dançávamos. Brincávamos. Abraçávamos. Fundíamos. Naqueles galhos havia só nós. Nós e as mangas.
E sorríamos farrapos, e eu pinto os farrapos dos sorrisos.
Das nossas bocas escorria amizade, doce, gostosa,preciosa. E agora, ao pintar nosso quadro, transborda saudade de meus olhos, e não sei mais pintar.
Olha, há um borrão na pintura. Não há mais nosso olhar, nosso olhar cúmplice. Não há mais brilho no seu olhar de esmeralda e como hei de reparar isso? Onde foi parar todo o brilho, toda a amizade gotejante, todos os galhos?
Só há mesmo a imensidão. De grama e céu azul.
Um tamanho pecado, um céu tão azul, e tamanho azul em meu peito. E a mangueira lá, sozinha, sem nós. Não sei mais dizer se ela ainda espera por nós. Se também sente falta das nossas risadas, das nossas conversas e de todas as estripulias em seus braços. Em seus galhos.
A mangueira está sozinha. Sente saudade, mas não sabe dizer. Saudade de nós.
E como se atreve, de novo tamanho disparate! Nós quem?!
Dã e eu.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Fiat Lux

Não é educar, educação se aprende em casa, ou pelo menos deveria. 
Mas acaba educando, além de ensinar. 
E ensinar... ah! Ensinar!
Não é tão fácil como parece, não é qualquer um que consegue. Mas se há mais bela função nesse mundo, deve ser a de se ensinar, de trazer luz, de ajudar, de guiar.
Se ama, ensina. Se sonha, ensina. Se é humano, ensina. Se é maior, bem maior do que tudo aquilo que fere a nossa alma, então ensina.
Não é um diploma, não é um título, não é um jaleco ou um crachá que te dá o poder de ensinar.
É a humildade, a pureza, a vontade, a alegria, a magia que se é concedida e conquistada a cada dia, a cada momento, a cada crítica, a cada prova que se aplica e que se passa.
Se ensina, é professor. E se é professor, é querido. É mal falado, também. Mal reconhecido, mal visto, mal pago. Mas o que se recebe de carinho, de admiração, de conquista, alcança-se o céu.
Se é professor, é humano.
Se é professor, ensina.
Se ensina, é anjo.
Se é anjo, é eterno; seu discurso, sua alma, seu legado. 
Se é anjo, é luz.
E que se faça Luz.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Salto ou saio

É como quando eu nadava,e podia saltar dos trampolins. Já havia saltado do menor,sabia da adrenalina,do frio na barriga,da liberdade da queda,do impacto com a superfície da água,do conforto de emergir.
Já sabia também como era perder a respiração,saltar e cair errado, o quanto isso poderia ser incômodo.
E agora, eis-me aqui,na última plataforma. Se antes houve frio na barriga, nada se compara a esse. Se antes eu tive medo da queda,a vontade que me dá agora é desistir. Mas olhando lá para baixo, sinto como se a curiosidade consumisse cada mínimo espaço de indecisão. E não sei se salto ou saio. Um passo para frente, mais um e caio. Ou salto? Ou saio?
Só sei que travo, mas a curiosidade é tão grande. O medo é tão grande. A vontade é tão grande. Alguém me chama, se é lá de baixo ou atrás de mim não sei dizer. Só sei que faço que não escuto.
Me concentro. 
Decido. 
E então...