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terça-feira, 31 de maio de 2011

Machado

     E quando tudo parece assim, meio doido? E quando os seus olhos se enchem de lágrimas e você não consegue imaginar o porquê? E quando você se sente caindo em um abismo escuro? E quando você se sente perdido, sem norte, sem rumo, sem saber pra onde ir ou com quem falar? E quando você acha que é o fim, que tudo acabou, que nada mais será como antes?
     Onde estão aquelas pessoas que disseram nunca te abandonar? Onde está toda aquela coragem que eu achei que tinha? Onde está a luz, a esperança, tudo aquilo que achei que eu tinha?
     Mas pera aí, será que realmente existe tudo isso? Será que não é só imaginação? Será que não é invenção? Mas parece tudo tão real, tão palpável. O abismo, o medo, a agonia, o fim iminente.
     Nesses momentos me sinto personagem de Machado de Assis, como se ele escrevesse minha história e plantasse em minha mente toda essa confusão, toda essa dúvida, só para ela, mais uma vez, acabar sem um fim.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Diferente ?

     Eu não era a única baixinha. Não era a única gordinha e nem era a única que usava aparelho nos dentes. Não era a única diferente, e hoje mesmo me pergunto se era mesmo tão diferente.
     Mas parecia ser o bastante para ser zoada, para ter os piores apelidos. Se fosse só aqueles dois ou três estaria tudo tranquilo, mas não era. Depois de um tempo, toda a sala parecia adotar de bom agrado os apelidos que ficavam cada dia mais maldosos. E eu comecei a achar que era verdade.
     Veja bem, não pense que eu era uma menininha facilmente manipulável, mas eu tinha o que, dez anos? Imagine uma sala inteira falando que você é um elefante de sorriso metálico que nunca será feliz na vida?
     Eu não via motivo pra sorrir, não via motivo pra fazer mais amigos, todos pareciam só querer saber te tirar uma com a minha cara, se me permitem usar essa linguagem.
    Mas esse nem foi o pior. O pior foi quando eu tinha uns 12 anos. Até aí, a maioria da sala já tinha parado com os apelidos, mas a moda dos meninos era encher minha carteira de chutes. Era grudar chiclete no meu uniforme. Era colocar o pé no corredor pra me fazer tropeçar.
   Até que chegou a hora de eu gritar basta e correr para a única pessoa que eu pensava que iria me ajudar: minha mãe. Não acho que tenha sido um erro. Ela me aconselhou a primeiro falar com a coordenadora do colégio. De verdade, eu acho que esse foi o erro. Eu sei que é o que a maioria dos entendidos do caso aconselham, mas no meu caso não melhorou em nada, na verdade só piorou. Mas a culpa não era dela, ela não sabia o que estava acontecendo. Tenho orgulho de dizer que foi eu quem apresentou a palavra "Bullying" para ela.
    Minha história não teve fim. Eu sofri com esses meninos até que sobrassem só dois, um mudou de colégio, e o outro, sem seu companheiro de maldades, acabou por me pedir desculpas. E eu aceitei, o que mais eu poderia fazer? Não gosto mesmo de guardar rancores.
     No final disso tudo, eu percebo que o que aconteceu comigo não foi nem um centésimo do que acontece mundo a fora. Mas é assim que começa, e nem sempre é assim que termina, com todo mundo fazendo as pazes e voltando a viver em harmonia.
    Meu conselho é igual a tantos outros: faça sua parte, brincadeira é uma coisa, maldade é outra completamente diferente.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sem regras, sem ajuda, sem desistência, sem trapaça

     Gosto de comparar a felicidade com uma conquista. Ela pode até estar perto, mas assim como tudo, ela tem um gostinho melhor quando corremos atrás e não só esperamos de braços abertos como um presente, porque muitas vezes não é assim que ela chega até nós.
     Para que sentar e esperar que ela nos seja servida em uma bandeja enfeitada, se temos força, determinação e coragem para lutar e conquistar a felicidade que merecemos?
     Também não podemos desistir, como fazemos muitas vezes quando aparecem os primeiros obstáculos, temos que ter coragem e determinação o suficiente para superá-los, e assim ficarmos ainda mais prontos e merecedores do "prêmio" que nos espera no final dessa jornada.
     Não é algo que possa ser exercitado, não é algo que nascemos com, é só uma habilidade nossa, que cresce com a gente, e que depende só da gente para se desenvolver. Do mesmo jeito, vale a pena jogar esse jogo e tentar entender o que eu quero dizer com isso.
    Boa sorte, não desista e surpreenda-se. 

terça-feira, 24 de maio de 2011

É estranho quando a gente para e repensa sobre a vida

    Eu tento pensar quando foi que começou isso tudo. Poderia falar que quando você nasceu, afinal, essas coisas a gente já trouxe no sangue e na carne. Poderia falar que foi quando nós nos conhecemos, quando vimos nossos olhos refletindo um no outro. Poderia falar que foi naquele final de semana que eu resolvi dizer sim à um convite no mínimo inesperado.
    Seja qual for o momento que eu escolha, mudou minha vida.
   Tudo o que eu sempre priorizei foi amizade. Tudo o que eu sempre escolhi foi sinceridade. Tudo o que eu sempre sonhei é ter alguém assim, tão admirável do meu lado, me dando suporte, apoio, carinho, felicidade do jeito que você me dá.
  Yara Santos Soares, é esse o nome do anjo que entrou na minha vida e a salvou da escuridão. É o nome do sol que aquece meu inverno e da flor que enfeita meu outono. É o nome da minha tia que mora como irmã no meu coração.
   Segredos, desabafos, alegrias. Noites mal dormidas, discussões, filosofias. Abraços, mãos dadas, sussurros, berros. Dia após dia, mês após mês. Sonhos, planos, futuro. Amor.
   Minha gratidão por você é infinita, assim como meu amor e as estrelas no céu. Até tenho medo de não ser tão boa pra você quanto você é para mim, mas você sabe que estarei aqui haja o que houver. 
   Amiga que é amiga tem sempre fita adesiva e um carrinho de mão pra te colocar dentro e sair correndo por aí, certo?
   Obrigada, Yaya, não há palavras que possam agradecer ou te dizer tudo aquilo que a gente passou, tudo aquilo que sua amizade representa pra mim.
   Minha tia, de sangue, e irmã de coração. Minha melhor amiga eterna, disso não há dúvida.

 Eu te amo.

Com carinho da sua Lilo.

Pensem o que quiserem, sem opniões e interpretações disponíveis, assim como comentários

"Spineless dreamers
Hide in churches
Pieces of, pieces of
Rush hour buses
I dream in e-mails
Worn-out phrases
Mile after mile of just
Empty pages"

sábado, 21 de maio de 2011

O que é o que é ?

       "Você pratica algum esporte?" "Sim, Jazz" "Ein?"
      Certo, deixa eu explicar. Eu pratico Jazz. Na minha turma, eu e mais 16 meninas, garotas, bailarinas, fadas, sofredoras, sonhadoras. Claro que dançamos por motivos diferentes. Há aquelas que dançam para perder alguns quilinhos indesejáveis. Há algumas que dançam por distração. Outras por obrigação. Mas há aquelas que dançam pelo mesmo motivo que eu, para se tornarem uma pessoa melhor, uma pessoa diferente. Porque durante as aulas, e mais notável, durante os espetáculos, nós nos transformamos. Entramos pela porta da sala de espelhos e barras como lagartas, e assim que a cortina se abre, são borboletas que tomam a frente do palco.
     Dançar é costurar calças e collants frequentemente, guardar sapatilhas furadas e fedorentas, é pedir qualquer coisa que dê para prender o cabelo, é suar e sorrir. É suar e chorar. É ter dores musculares no dia seguinte. É sair pulando que nem cabrito pelos corredores vazios treinando um salto.
   Dançar é treinar o mesmo movimento mil vezes, errar 999 e acertar justamente quando ninguém está olhando. É se jogar de corpo e alma em uma apresentação, errar e chorar. É ter o apoio das companheiras antes e depois da performance. É gritar "Merda" e "Quebre a perna" antes das apresentações. É comer todas as unhas enquanto aguardamos afoitas nas coxias. É discutir com a professora durante uma aula de limpeza, e ter uma amizade com ela, mesmo fora da sala e dos palcos. 
    Dançar é se entregar a qualquer ritmo, a qualquer batida, qualquer estilo. Vestir os figurinos mais elaborados, e os mais bregas. É fazer aquela maquiagem liiiinda, que ninguém pode ver.
   Dançar é ensaiar faça chuva ou faça sol, com joelho machucado ou cólica, é dar o melhor de si em cada ensaio. Dançar não é para os fracos, entenda. É preciso perseverança, vontade, desejo de ser cada vez melhor. Dançar transforma, liberta, ensina. 
   Dançar é acreditar que podemos, ter confiança. É chegar no meio do palco, dar o melhor de si e ouvir os aplausos. E saber ouvir críticas, é poder levantar um troféu com as companheiras, é sair da aula com um sorriso enorme no rosto, não importa o que aconteça.
   Dançar é o que me faz bem todas as terças e quintas, e todos os dias da minha vida, ao pensar naquela coreografia difícil, ao sair dançando pela casa ou pela rua, ao lembrar de como a minha vida pode ser mais leve, se eu simplesmente me entregar à Dança.

domingo, 15 de maio de 2011

Verde Esperança

     Hoje eu deitei na rede para fitar o vazio e tentar não pensar em nada.  Claro que eu não consegui, eu fiquei pensando em várias outras coisas.
     Depois de um tempo, eu me percebi encarando as plantinhas que ficam ali perto da rede. Eu não sei o nome delas, sei que quando floridas são muito bonitas. Formam buquês de flores azuis, muito bonito mesmo. Hoje, elas são só botões ou folhinhas de um verde vistoso. E foi isso que me chamou a atenção.
     Há um tempinho atrás, teve uma chuva muito violenta aqui na região de casa, com gelo e tudo, e machucou muito as folhas dessa planta. Como diz a minha mãe, uma judiação. Depois veio o frio, continuou com a temporada de chuvas e mesmo assim, a plantinha ainda fabrica seus botões, ainda nutre suas folhinhas,
     E eu achei isso a coisa mais corajosa do mundo. A que me deu mais esperança.
     Porque assim como pra plantinha, na minha vida também ocorreram algumas chuvas violentas, e eu murchei, minhas flores caíram. E agora eu procuro um jeito de desabrochar minha felicidade de novo. Poder ter meus botões, poder nutrir minhas folhas com todo o amor, a felicidade, a vontade que corria em mim antes. E agora eu sei que posso. 
     Agora eu sei que, apesar de qualquer coisa que me aguarde no futuro, eu posso continuar alimentando a minha felicidade, sem medo de me entristecer mais tarde.
     Por mais que as tristezas sejam profundas, elas só servem para que nossa felicidade nasça mais bonita e mais forte. Assim como as folhas da minha plantinha lá fora, que eu comecei a regar.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Masoquista

     Ela chegava em casa e se jogava na cama, pronta para convocar as lágrimas que vinham com facilidade. Atacava louca a caixa de chocolates escondida em baixo da cama, deixava rouco o rádio, ouvindo as músicas com letras melancólicas, e gritava sem voz, tentando receber as respostas para as perguntas mudas que tomavam conta de sua alma.
     A verdadeira razão para tudo aquilo, ela sufocava. Porque ela sabia que se desse ouvido para tais verdades, toda a graça iria embora. O chocolate perderia o doce, o cantor no rádio emudeceria, e a casa não ouviria mais os gritos contidos em soluços. Porque a verdade não poderia ser aceita.
     Assim como a felicidade.
     Sim, ela se causava tanta dor. Mas não era a dor física que ela causava. Escolhia a dedo as pessoas mais impossíveis, as mais distantes, mais improváveis. Aquelas que ninguém notaria, apenas os olhos apaixonados, pela decepção. E corria atrás, e se fazia visível, e o fazia visível. E depois, magoada, causava toda essa festa, com medo de ser feliz.
     E quando surgia um amor, verdadeiro ele que fosse, ela estava muito cega, já não enxergava além de sua fantasia, e não era feliz.
     Triste ver como se perdia em seus devaneios inventados. Triste ver o apego pelo sofrimento. Não esquecerei jamais a imagem da menina, da garota, masoquista, que vive dentro de cada um.