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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Masoquista

     Ela chegava em casa e se jogava na cama, pronta para convocar as lágrimas que vinham com facilidade. Atacava louca a caixa de chocolates escondida em baixo da cama, deixava rouco o rádio, ouvindo as músicas com letras melancólicas, e gritava sem voz, tentando receber as respostas para as perguntas mudas que tomavam conta de sua alma.
     A verdadeira razão para tudo aquilo, ela sufocava. Porque ela sabia que se desse ouvido para tais verdades, toda a graça iria embora. O chocolate perderia o doce, o cantor no rádio emudeceria, e a casa não ouviria mais os gritos contidos em soluços. Porque a verdade não poderia ser aceita.
     Assim como a felicidade.
     Sim, ela se causava tanta dor. Mas não era a dor física que ela causava. Escolhia a dedo as pessoas mais impossíveis, as mais distantes, mais improváveis. Aquelas que ninguém notaria, apenas os olhos apaixonados, pela decepção. E corria atrás, e se fazia visível, e o fazia visível. E depois, magoada, causava toda essa festa, com medo de ser feliz.
     E quando surgia um amor, verdadeiro ele que fosse, ela estava muito cega, já não enxergava além de sua fantasia, e não era feliz.
     Triste ver como se perdia em seus devaneios inventados. Triste ver o apego pelo sofrimento. Não esquecerei jamais a imagem da menina, da garota, masoquista, que vive dentro de cada um.

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