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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Rememoração

A conchinha é pra mim o início.
Um ato, uma promessa, e enfim...
Já não se está mais sozinho.

O canhoto de cinema
O canudo daquele suco
O botão da sua camisa...

Toda uma história dentro de uma caixa.
De uma caixinha.
Tal como aquela conchinha.
Sozinha.

É do pequeno que nasce o grande.

É do silêncio que nasce a dúvida
E é da dúvida que nasce o fim.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Carta de Inverno

São Paulo, 15 de setembro de 2014

Ilustríssimo senhor São Pedro,

o Senhor bem sabe que não sou de pedir muito. Até porque não tenho muito o que oferecer em troca... eu poderia dar pulinhos e gritinhos. Ou desvirar sua imagem depois de mergulhá-la em água. Ou até rezar alguns pais-nosso e ave-marias.
A verdade é que o pedido é por mim, pelo Senhor e todos os interessados.
Mande chuva...
Chuva para molhar os campos e as represas.
Chuva para abastecer as esperanças, que encontram-se na pior estiagem de todos os tempos.
Chuva para afogar os males que andam por aí incendiando os nossos sonhos.
Chuva para transbordar nos olhos das pessoas- que não sabem mais chorar diante tantas atrocidades.
Chuva para refrescar nossa memória... esquecemos nossa história! Repetimos os mesmos erros de novo e de novo.
Chuva para limpar as consciências e os rios: não sei dizer quais estão mais poluídos.
Chuva para cultivar a terra e as ideias, que andam tão escassas! Andamos carentes desses frutos e a feira é cara...
Chuva para florir os corações, que estão já quase mortos, já quase inertes, precisando de chuva, precisando de cor.

Mande chuva, São Pedro!
Mande água.
Mande vida.
Mande Luz!

                                                           Com todo o respeito, e toda urgência,

                                                                                                   uma Devedora

sábado, 16 de agosto de 2014

Otimista

Eu achei que estaria livre.
Livre pra sentir intensamente.
Livre pra reencontrar um otimismo perdido.
Ainda é relíquia.

Estou presa.
Presa nessa encruzilhada em que todos os caminhos me afastam...
Todas as pegadas são as tuas;
Todas os livros falam de Sofia.

E você livre está.
A borboleta encontrou suas asas e voou.

Só queria que você soubesse que cheguei bem. Só não cheguei onde queria.

Ainda.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Retirante

Foi tanto que se foi.
                      Foi o vento
                      Foi a chuva
                      Foi o abraço.
            Só não foi a saudade. Mas vai, vai-se embora!

Foi tanto que não se foi.
                   Ficou o vazio.
                   Ficou a janela.
                   Ficou tudo trancado.
Então vai, solidão; vai-se embora!

Foi isso que se foi.
                    Foi o riso.
                    Foi o amigo.
                    Foi doído...
E se foi, foi-se embora.

Foi eu que não foi.
               Fiquei sozinha.
               Fiquei esperando.
               Fiquei de fora.
Mas agora cansei; e vou-me embora.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Fragmento

Agora Eliza entendia quão ingênuas eram as pessoas; pessoas como ela, Cezar, Fabrizio. Até mesmo Vinicio, Samanta e sua avó.
Ingênuas por acreditarem ser livres. Por acreditarem que seus sonhos podem ser como pássaros, que alçam voo, brilham ao luar e fazem seus ninhos sob o calor do sol, esperando que os ovos enfim se choquem e que dali cresçam outros sonhos, fortes e saudáveis.
Estupidez.
Nossos sonhos, agora ela percebera, não passam de pequenos e insignificantes insetos que, imprudentes e inconsequentes, acabam presos numa poderosa teia de armações e enganos, para que depois- agonizantes- sirvam de alimento para a mais temível predadora,  a mais ardilosa das espécies de aranha.
Aquela conhecida como Esperança.

~trecho do futuro livro, ainda sem roteiro, ainda sem nome~

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Angústia

Noites como esta são as que mais me angustiam.
Noites vazias como minhas lembranças, de cheiros esquecidos e palavras borradas-
De sentimentos remexidos e promessas quebradas.
Noites vazias. E eu, oca.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Abrindo as cortinas

Tenho medo de janelas.

Janelas abertas me dão medo de cair.
Janelas fechadas me dão medo de ficar presa.
Janelas altas me dão medo de simplesmente não aguentar e acabar fugindo.
Janelas baixas me dão medo de não conseguir ser profunda.

Janelas de vidro me dão medo da liberdade.
Janelas no campo me dão medo dos mosquitos.
Janelas na cidade me dão medo dos edifícios.
Janelas de banheiro me dão medo das pessoas.

E a janela dos olhos, dos sentimentos.

Janelas pequenas me dão medo desse sentimento claustrofóbico.
Janelas grandes, desse sentimento agorafóbico.

Janelas coloridas, da vida.
Janelas sujas, do esquecimento.
Janelas quebradas, da morte.

Eu tenho medo da morte.

E as janelas me fascinam.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Meia-idade

Todo tempo, o tempo inteiro
Bate e volta, o ponteiro
Vai e não volta, só sufoca
Todo o tempo sem parar.

Como o pêndulo balança,
A corrida da criança,
Gira e corre o carrossel
Ofega e para, sem ar.

E o que antes era ágil
Congelou, insano ardil.
Não importa, logo esqueço
Da memória pueril.

domingo, 13 de abril de 2014

Análise do discurso

Por quantos clichês nós somos formados?
Quantos adeus precisaremos dizer?
Por quantas brigas, em vão, passaremos?
Quantas vezes vamos querer salvar o mundo?
Por quantos lugares viajaremos, sem mesmo sair do lugar?
Quantos sonhos vamos deixar de sonhar por serem grandes demais?
Por quanto tempo ficaremos nos enganando?
Quanto deixaremos de fazer por medo?
Por quanto nos venderemos?


Quantas interrogativas teremos que fazer até que nos afirmemos?

domingo, 30 de março de 2014

Desabafo

Entenda, sempre haverá alguém que acha que é melhor que você só porque se sente pior que você. Sempre haverá alguém que te excluirá de um grupo minoritário que ela pensa fazer parte por achar que você pertence à maioria opressora. Invertem-se os papéis de opressor e oprimido, percebe?
Na verdade, nessa hora, ninguém lembra que- como seres humanos- somos todos minorias. De uma média de 4600 espécies de mamíferos no mundo, somos a única racional. A única passional. A única que se move por instinto e se defende atrás da racionalidade. A única que se incomoda com aquilo que deixaremos para trás quando não estivermos mais aqui. A única que se preocupa com aquilo que estamos fazendo, para quem estamos fazendo e como estamos fazendo. 
A única que luta pela causa de muitos, muitas vezes pensando em si. A única que acha que sempre há uma maioria opressora. Talvez poque seja mais fácil pensar que há, como uma mania masoquista de ter alguém mais forte acima de nós. Ou talvez porque assim podemos nos sentir especiais ao dizer: olha, sou minoria, sou diferente. 
Se ao menos pudéssemos enxergar que, no fundo, somos todos vestígios irrefutáveis do maior- e talvez mais belo- paradoxo que permeia a existência humana; aquele que diz que somos todos iguais, cada qual sendo intrinsecamente diferente do outro.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Globo de neve

Explicação? 
Pra quê?
É medo, só isso.
Medo dessa vastidão,
desse céu azul,
desses labirintos de oportunidades.
Medo de ficar só.

Saudade de casa.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Equilíbrio

Vai!
Como se fosse flor.
Como se fosse só.
Como se fosse valsa.

Vem!
Como se fosse amargo.
Como se fosse bom.
Como se fosse tango.

Vê!
Como brincam no balanço-
inconsequentes-
passado e futuro.

Como se fossem um.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Cosmopolitan

Um brinde à chuva ácida,
aos para-raios,
e aos guarda-chuvas coloridos.

Um brinde aos fones ensurdecedores,
às poças de água,
e aos taxistas mal educados.

Um brinde ao meu bairro,
minha Villa,
e à minha cidade querida.

Um brinde à felicidade, que existe!,
sempre suave, 
sempre quente.

Discussão

Grita como se entendesse;
Acena como se fizesse sentido;

[mas não é suficiente.]

Entenda,
para uma flor fragilizada, 
qualquer garoa é tempestade.