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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Diferente ?

     Eu não era a única baixinha. Não era a única gordinha e nem era a única que usava aparelho nos dentes. Não era a única diferente, e hoje mesmo me pergunto se era mesmo tão diferente.
     Mas parecia ser o bastante para ser zoada, para ter os piores apelidos. Se fosse só aqueles dois ou três estaria tudo tranquilo, mas não era. Depois de um tempo, toda a sala parecia adotar de bom agrado os apelidos que ficavam cada dia mais maldosos. E eu comecei a achar que era verdade.
     Veja bem, não pense que eu era uma menininha facilmente manipulável, mas eu tinha o que, dez anos? Imagine uma sala inteira falando que você é um elefante de sorriso metálico que nunca será feliz na vida?
     Eu não via motivo pra sorrir, não via motivo pra fazer mais amigos, todos pareciam só querer saber te tirar uma com a minha cara, se me permitem usar essa linguagem.
    Mas esse nem foi o pior. O pior foi quando eu tinha uns 12 anos. Até aí, a maioria da sala já tinha parado com os apelidos, mas a moda dos meninos era encher minha carteira de chutes. Era grudar chiclete no meu uniforme. Era colocar o pé no corredor pra me fazer tropeçar.
   Até que chegou a hora de eu gritar basta e correr para a única pessoa que eu pensava que iria me ajudar: minha mãe. Não acho que tenha sido um erro. Ela me aconselhou a primeiro falar com a coordenadora do colégio. De verdade, eu acho que esse foi o erro. Eu sei que é o que a maioria dos entendidos do caso aconselham, mas no meu caso não melhorou em nada, na verdade só piorou. Mas a culpa não era dela, ela não sabia o que estava acontecendo. Tenho orgulho de dizer que foi eu quem apresentou a palavra "Bullying" para ela.
    Minha história não teve fim. Eu sofri com esses meninos até que sobrassem só dois, um mudou de colégio, e o outro, sem seu companheiro de maldades, acabou por me pedir desculpas. E eu aceitei, o que mais eu poderia fazer? Não gosto mesmo de guardar rancores.
     No final disso tudo, eu percebo que o que aconteceu comigo não foi nem um centésimo do que acontece mundo a fora. Mas é assim que começa, e nem sempre é assim que termina, com todo mundo fazendo as pazes e voltando a viver em harmonia.
    Meu conselho é igual a tantos outros: faça sua parte, brincadeira é uma coisa, maldade é outra completamente diferente.

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