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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Jardim Suspenso

    Dali onde estava, não conseguia ver nada mais do que as nuvens. Nuvens branquinhas, que pareciam ser feitas de algodão. Deitada, olhando para baixo, meu mundo não parecia mais tão fabuloso.
Me virei para cima, para poder encarar minha própria realidade. O céu era azul, e as nuvens continuavam sendo brancas. Mas o Jardim Suspenso não me encantava mais.
Quando eu cheguei, me sentia como uma das personagens de Lewis Carroll, presa em um mundo mágico, de fantasias e alegrias. Não me lembrava de onde vinha, nem porque fui. Só sabia que vivia com meus próprios passatempos. Corria pela mata intocada e dançava feito uma louca, sem ligar para nada. Não precisava de nada, nem de ninguém. Só de estar ali, já bastava.
  Agora, depois de um tempo, não me animava mais. Minha única diversão era deitar onde o Jardim acabava e olhar para baixo. Poder sentir uma leve brisa roçar meu rosto e ver as nuvens flutuando de um lado para o outro. Eu não sabia o que havia lá em baixo. Se também havia crianças ou mato ou lugar para correr. Não sabia nem se eu queria que lá tivesse alguma dessas coisas. Só sabia que era lá que eu queria estar. Em um mundo novo e inexplorado.
E um dia, eu consegui ver. Nem acreditava no que acontecia diante de meus olhos, tanto é que tive que esfregá-los um punhado de vezes para conseguir ver de verdade. Um buraquinho. Um pequeno buraquinho se estendia entre as nuvens e por ele consegui ver uma faixa de terra do mundo que eu queria tanto conhecer.
E era lindo! Vários pontinhos pretos se moviam de um lado para o outro em uma imensidão cinza. Tudo tão diferente do meu Jardim. Parecia algo que inspirava liberdade. Parecia algo tão... Adulto!
Opa. Que palavra era essa que invadia meus pensamentos? Adulto. Já tinha ouvido em algum lugar, mas a realidade infantil de meu Jardim nunca deixou que eu a empregasse. Mas que seja! O momento agora era de felicidade, eu tinha conseguido ver, existe coisa mais maravilhosa?!
E, agora sim, sai correndo e pulando mata adentro, fazendo naquele momento mil e uma estripulias.
E assim que encostei em um canto qualquer, dormi.Dormi e sonhei.
E como já era de esperado, sonhei com o novo mundinho cinza. E no começo eram mil maravilhas porque não estava vendo, agora estava vivendo. Estava naquele mundo onde as pessoas corriam apressadas, mas não por diversão. O rosto delas mostrava dever, obrigação. Rotina.
E fui obrigada a abrir os olhos e a mente para o mundo que desabava em minha frente. Coisas horríveis aconteciam em todos os cantos. Pessoas que deveriam estar ali para zelar por nosso conforto e segurança nos roubavam até o que não tínhamos. O medo e a aflição espreitavam em cada beco escuro. Sim, pois agora existiam becos escuros e frios. Existiam casarões e casebres, um do lado do outro.
E eu queria gritar, gritar até poder acordar, pois não queria voltar para aquele pesadelo nunca mais. Nunca mais!
Foi quando acordei. Acordei e fiz questão de olhar em volta para certificar que estava salva e segura em meu Jardim Suspenso.
           Passado o momento de agonia, levantei e sai correndo, gritando e cantando por estar em casa. E prometi a mim mesma que nunca mais fugiria de minha realidade. Nunca mais tentaria acordar do sonho do Jardim Suspenso.

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