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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Naquele quarto

     E parece mesmo estar chegando no fim. Alguns tijolos a mais e estará terminada mais uma parede. Gosto de pensar que a nossa vida é a construção de um castelo bem grande, que a gente constrói, parede por parede, a partir do nosso dia-a-dia, dia após dia. Cada um constrói do jeito que quer, com o material que quiser. Eu prefiro construir o meu sobre um piso de honestidade, com tijolos de virtude, cimento de amor e argamassa de dedicação.
      Por isso eu não gosto de falar que tudo isso destruiu o meu "mundo", porque não o fez. Só me deu instrumentos e vontade para construir outra parede. Com essa parede, eu fechei um quarto, e nesse quarto eu pendurei fotos com todas as boas lembranças. Dezenas de quadros coloridos, vivos, amados. Deitada nesse quarto, sobre um tapete de promessas, eu olho para o teto. Pensei em pendurar ali minhas esperanças, mas percebendo que essas ficariam ali em vão, as coloquei em um baú, encostado na parede. No teto, eu rabisquei palavras cujos significados aprendi enquanto eu construía: Amor, Respeito, Felicidade, Carinho, Saudade, Amizade, Cumplicidade, Fidelidade, Esperança. Enquanto cantarolo "All this feels strange and untrue and I won't waste a minute without you" vou terminando de arrumar. Deixo no meio, sob as luzes de holofotes, um violão, um pedaço de papel rabiscado, uma carta de baralho, um batom, um livro, um frasco de perfume, uma caixa de chocolate lacrada. E agora não só cantarolo outra música, como a canto de todo o coração, esperando que todos me ouçam. A música diz: "You had my heart, at least for the most part 'cause everybody's gotta die sometime, we fell apart, let's make a new start 'cause everybody's gotta die sometime, yeah, yeah but baby don't cry". 
     E é assim que eu fecho a porta. E é assim que eu tranco a porta. Não posso negar que esteja chorando, porque faz parte. Mas agora é hora de construir outros cômodos. Quando der saudade, é só pegar a chave, e vir visitar minhas lembranças mais bonitas. Mas viver entre elas em tempo integral se tornou uma mania doentia que é preciso perder.
     Outras construções me esperam, outras experiências me chamam. Eu volto, prometo, venho te visitar assim que der. Por enquanto, carrego a chave aqui juntinho de mim, pertinho do coração.

Um comentário:

  1. A cada dia um texto mais elaborado, mais sensível.... Lindo, parabéns !!!

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